Relicta é o jogo de estreia do estúdio espanhol Mighty Polygon, sediado na cidade de Valência, na Espanha. Os desenvolvedores se descrevem como um grupo de amigos que começou a trabalhar em seus protótipos para PC e consoles em 2015. Eles deixam claro a vontade que possuem em criar jogos com narrativas fortes e grandes mecânicas. Após 5 anos de trabalho, estes protótipos se transformaram em Relicta, que certamente carrega muito da visão particular deles. Tanto para o lado positivo quanto para o negativo.
Relicta é definido pela própria desenvolvedora como um “jogo em primeira pessoa baseado na física”. Seguramente, seu maior destaque é a mecânica apresentada para a resolução de quebra-cabeças, mesmo que, a primeira vista, seja inevitável não pensar no clássico Portal. O ambiente de laboratório de pesquisa, os quebra-cabeças com cubos, a importância de entender as leis básicas da física, tudo ali tem uma forte inspiração no game da Valve.
Uma mecânica magnética
No entanto, Relicta logo se desfaz dessa primeira impressão e mostra ao que veio com a inserção da mecânica de magnetismo. Manipular o magnetismo e a gravidade são os pontos principais da resolução de quebra-cabeças no game. E, apesar de novatos, os desenvolvedores da Mighty Polygon souberam usar isso de uma maneira bem interessante e divertida.
A personagem principal possui um par de luvas que lhe dá o poder de alterar o magnetismo e a gravidade de cubos espalhados pelos cenários. Com o uso de apenas um botão, você pode trocar a polaridade dos cubos em negativo, positivo e neutro, tudo visualmente indicado através de cores. E aqui vale o princípio básico do magnetismo: duas cargas elétricas de mesmo sinal se repelem, e de sinais contrários se atraem. Ou seja, cubos com polaridades diferentes, um negativo e outro positivo, irão se atrair. Cubos com polaridades diferentes irão se afastar.
Só essa mecânica já proporcionaria uma gama de desafios. No entanto, em seguida, é inserida uma nova função para sua luva: controlar a gravidade ao redor dos cubos. As duas mecânicas juntas criam uma série de novas possibilidades muito bem exploradas nos desafios apresentados no decorrer do game. É possível realizar diversos movimentos com os cubos e até subir neles ao lançá-los para você deslizar no melhor estilo Magneto.
Os desafios, diga-se de passagem, possuem uma ótima curva de dificuldade. Conforme você vai avançando, não basta apenas entender, como também ter precisão para executar as ações necessárias para progredir.
Fala muito e diz pouco
Outro ponto que a Mighty Polygon investiu bastante foi na parte narrativa. Em Relicta, você está no ano de 2120, quando a raça humana já povoa outros planetas. Nesse cenário, você assume o controle da Dra. Angelica Patel, uma pesquisadora que faz parte de um projeto único de terraformação da Lua. Terraformação é nome dado ao processo, que ainda é só teórico, de modificação da atmosfera, da temperatura, da topografia e ecologia de outro planeta ou satélite até deixá-lo em condições adequadas para suportar a vida humana.
Eis que durante suas pesquisas, Dra. Patel e sua equipe acabam encontrando o Relicta, uma fonte de energia misteriosa. Os eventos que seguem ao utilizar essa fonte acabam resultando no desaparecimento da sua equipe, incluindo sua filha. Esse é o pano de fundo que leva o jogador em uma jornada por várias crateras terraformadas e estações na Lua até resolver o mistério e salvar a todos.
A intenção é boa, no entanto, é mal executada. Os diálogos, na sua maioria, são truncados e demasiadamente longos. Logo no início, você participa de inúmeras conversas bem expositivas, que fazem questão de explicar claramente tudo o que está acontecendo e tentam criar empatia pelos personagens bem estereotipados. Tudo acaba soando somente artificial e sem graça.
Para piorar, a progressão do jogo também acaba sendo prejudica por sua narrativa. Já que essa progressão é definida em: receber uma parte da história dentro de uma base-laboratório vazia, partir para uma área aberta para resolver uma sequência de puzzles, voltar para outro laboratório vazio e com poucos objetos de interação para receber mais linhas de diálogo, sempre por rádio, e coletar uns colecionáveis antes de voltar para outra sequência de quebra-cabeças.
Entre positivos e negativos, Relicta deixa uma boa impressão
As mecânicas e os desafios apresentados para seu uso são, certamente, a melhor parte de Relicta. Principalmente a partir da metade, com o crescimento da curva de dificuldade, resolver os desafios se torna muito prazeroso. No entanto, o ritmo acaba sendo quebrado por uma história desnecessária e progressão truncada. É notável o esforço pela entrega de uma narrativa longa e densa. Contudo, no caso de Relicta, ela mais atrapalha que ajuda.
Tratando-se apenas do primeiro lançamento da Mighty Polygon, Relicta demonstra um potencial que pode ser melhor explorado no futuro. É sempre bom poder ver jogos promissores deste tipo, principalmente quando surgem de mercados fora dos grandes centros.
Relicta foi lançado no último dia 3 de agosto para Playstation 4, Xbox One, PC e Stadia. Uma cópia de PS4 cedida foi utilizada na produção desta análise.
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Relicta
Visual, ambientação e gráficos - 7
Jogabilidade - 8.5
Diversão - 7.5
Áudio e trilha-sonora - 7
Narrativa - 5
7
Bom
Uma mecânica interessante e divertida atrapalhada por uma narrativa longa e desnecessária. Relicta vai agradar os fãs de puzzles, mas decepcionar quem busca uma boa história.