Análise: Twin Mirror agrada, entre erros e acertos
A Dontnod, responsável pelo desenvolvimento do clássico Life is Strange lançou dois games esse ano. O primeiro foi Tell me Why (veja nosso review) em parceria com a Xbox Studios e o segundo é o Twin Mirror. Ao contrário da maioria dos games no estilo narrativa interativa da Dontnod, Twin Mirror segue uma ambientação mais sombria e uma trama muito mais pesada. A tentativa de diferenciar foi um sucesso quanto à trama, já o gameplay fica muito a desejar. Entenda se o jogo vale a pena ou não neste review/análise de Twin Mirror (vídeo análise no fim da página).
O Regresso
Quase como uma impressão digital da Dontnod nesse estilo de game, Twin Mirror mantém seu clássico pontapé inicial. Ou seja, temos o personagem principal (Sam Higgs) voltando para sua cidade natal (Basswood) da qual fugiu no passado. A razão, ao contrário dos outros games, é mais pesada: seu melhor amigo (Nick) morreu em um acidente de carro. Portanto, desde o princípio lidamos com um Sam hesitante.
Sam não é bem-vindo a sua cidade, pois no passado divulgou um artigo jornalístico que causou um desemprego em massa. Sua peça apontava falta de segurança no trabalho por parte da mina de carvão da cidade, principal empregadora da pacata região. Como consequência, sua cara foi marcada para sempre como vilão de todo o município.
Sam, sendo Sam, não deixa de lado a suspeita trazida por sua afilhada Joan (filha de Nick), de que seu pai poderia ter sido assassinado e, a partir daí já sabe… Você tem que investigar as pistas e tentar entender se a garotinha tinha razão ou não, além de lidar com as consequências disso tudo. Por outro lado, contamos com a ajuda de Anna, a ex-namorada de Sam e atual enteada de Joan – sim, é quase uma novela de Manoel Carlos.
Evitando Clichês
Apesar dessa Laços de Família, o jogo conta a trama através de boas escolhas de roteiro. Joan, a única criança no meio disso tudo, não é tratada como um ser inapto ou sem qualquer tipo de discernimento, pelo contrário. Talvez dos personagens coadjuvantes do jogo, ela seja a mais bem explorada, trazendo um passado complexo de proximidade com Sam, seu padrinho.
Outros personagens, porém, assumem papeis meramente artificiais de fazer a história andar para frente em alguns pontos específicos. Deixando um bom espaço pouco explorado em tornar a aventura mais interessante ao criar um carinho maior pelos envolvidos.
Por outro lado o game traz diversos momentos muito sutis de críticas ao sistema em que vivemos, com peças publicitárias chamando atenção para a depressão e alertas sobre uso de remédios para dormir, por exemplo. Mas o ápice foi ouvir de um pacato senhor a sugestão de que a sindicalização como meio de fazer frente a grandes corporações foi a única opção para um passado de exploração desenfreada do povo.
Escolhas e dilemas
Isso também se reflete no gameplay, através das escolhas que devemos fazer. A maioria dos jogos narrativos são ancorados nas escolhas enviesadas focadas em conseguir aceitação máxima por parte dos consumidores, mas não aqui. Ser empático de verdade, se colocando no lugar dos outros (até mesmo dos “vilões”), é recompensador para o jogador. Evitar respostas óbvias é a chave. Eu, inclusive, gostaria de ver mais isso na indústria de games.
Para quem não tem esse “jogo de cintura social”, felizmente Sam tem um amigo imaginário que está contigo desde o início do jogo. Esse camarada traz a melhor relação do game e os diálogos mais intensos, profundos e prazerosos de toda aventura, além é claro de servir como um tipo de tutorial. Mas fique atento, pois explorar muito o recurso desse seu “outro eu” faz você perder algumas oportunidades, além de troféus.
O quesito investigação, por outro lado, é muito fraco. Para um game que se propõe a te botar na pele de um Jornalista Investigativo, faltou muito feijão com arroz. Na verdade, o game deixa quase nenhuma margem para nossa dedução e você é obrigado e fuxicar todos os objetos e interações em cena antes de andar para frente. Depois das primeiras investigações é fácil sentir o gosto de que não temos nada a perder e basta sair clicando em tudo.
Complementando seu amigo imaginário e a investigação, você também acessa uma espécie de refúgio mental. Isso se trata de um tipo de poder que Sam tem fazer algumas coisas. Entre elas, ele pode regressar ao passado, juntar peças, adivinhar realidades e prever o futuro. Apesar do visual bacana, é apenas um recurso narrativo. Isso por que não há nenhum tipo de puzzle ou desafio real nesses momentos.
Visual sombrio, mas mediano
Se descolando de Life is Strange e Tell me Why, Twin Mirror decidiu adotar uma pegada mais realista nos visuais. O esforço é evidente, mas também é claro que a Dontnod ainda precisa percorrer um bom caminho nesse quesito. É ainda mais evidente por estarmos no final de geração e início de outra, onde games até mesmo mais interativos sustentam gráficos muito superiores.
Além disso é comum carregamento de texturas demoradas o que quebra um pouco a imersão em alguns (poucos) momentos. Estou torcendo para um pacote de correção. O jogo tem visual e desempenho melhor em PS4 Pro/PS5 e mesmo assim não satisfaz os gamers mais exigentes. Seria um game muito mais bem visto no início ou meio da geração passada.
Faça a sua escolha
O jogo também é bem curto, contudo mantém o costume da Dontnod de nos oferecer diversos finais que são reflexos de escolhas específicas ao longo da jornada. Isso dá espaço suficiente para jogar novamente e experimentar outros desfechos, mesmo que algumas dessas escolhas não sejam muito claras. Vocês vão ver jogando, sem spoilers aqui.
Por fim Twin Mirror é uma boa experiência audiovisual, mas que fica devendo como game. Fico feliz, por outro lado, da experimentação rumo a histórias mais densas e sombrias, acho que esse estilo de jogo tem tudo a ver com essa ambientação. Se você é fã desse tipo de jogo vale super a pena, caso contrário espere o preço atual (R$159,90) baixar um pouco e dá uma chance mais tarde.
Quem não arrisca não petisca
Visual, ambientação e gráficos - 7
Jogabilidade - 5
Diversão - 7
Áudio e trilha-sonora - 8
Trama e Roteiro - 9
7.2
Mudar é ousado
A tentativa de diferenciar foi um sucesso quanto à trama, já o gameplay deixa a desejar. Entretanto, Twin Mirror é uma boa experiência audiovisual, excelente para os fãs.