Análise: Gord é um survival sombrio e intenso
Não recomendado para os fracos de coração.
Desenvolvido pela Covenant.dev e distribuído pela Team17. Recebemos um game de estratégia e sobrevivência em um mundo sombrio onde a maldade e o medo são constantes. Será que essa premissa pesada vai agradar? Venha conferir o que achamos em nossa análise de Gord!
O game está disponível para PC via Steam, PlayStation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series e não conta com legendas e interfaces em PT-BR.
Um rei para tudo dominar
Gord é um jogo que traz um enredo bastante sinistro. E não é preciso jogar por um tempo para reconhecermos isso. Ao entrarmos no game, um aviso sobre algumas das coisas sinistras que o game possui surge preparando as pessoas e afugentando os mais sensíveis.Mas vamos falar desse enredo. O game se passa em Lysatian, a região norte de um continente não nomeado que está sendo controlado por um rei que unificou a região sul, denominando-a Calanthia e que agora visa conquistar a muralha o norte.
Como emissário do rei, temos a ordem de pacificar a região para que o mesmo possa explorar o seu ouro. No entanto, ela é repleta de criaturas malignas e bárbaros violentos. Com isso, para conquistarmos nosso objetivo, nos é cedido o controle de uma comunidade vassala do rei que vive nessa região, a Tribe of the Dawn – ou Tribo do Amanhã.
Junto de Edwyn, outro emissário do rei e o líder dessa tribo Boghdan. Precisaremos construir pequenos assentamentos, enquanto pacificamos o local e adentramos nas sombrias florestas de Lysatian.
Criaturas demoníacas e onde habitam
A premissa e a evolução me agradaram bastante, principalmente pela mitologia que o game possui. Temos um catálogo com a história de todas as criaturas novas que encontramos, e algumas são mais sinistras do que o esperado.
Umas em especial são chamadas de Horrores, almas corrompidas pelos Deuses que foram designadas a reter o avanço humano na região. Só é possível passar por essas entidades terríveis e distorcidas de duas maneiras: combatendo-as ou satisfazendo seus pedidos.
A primeira opção se mostrou uma carta fora do baralho já na primeira vez que a encontrei, pois elas são extremamente poderosas. E mesmo sendo tendo sido capaz de derrotá-la, uma das características do game é carregar alguns dos residentes para a próxima fase – essa mecânica explicarei mais à frente – e apenas consegui isso, literalmente, perdendo todos.
Já a segunda me obrigou a perder um pouco da minha alma. Isso porque ela demandava nada mais nada menos que um sacrifício pela nossa passagem segura. Mas não, não era qualquer sacrifício, e sim de uma criança. E acreditem, o game não nos poupa do resultado visual dessa decisão.
Cenário sombrio que comete alguns ‘deslizes’
Primeiramente, vale a pena mencionar que a ambientação de Gord é bastante rica. Avançando dentro da floresta de Lysatian, encontramos uma quantidade considerável de biomas diferentes. De florestas fechadas, a pântanos lamacentos, e até mesmo tundras congeladas. Essa variação foi muito bem-vinda pois imaginei que passaria a maior parte encarando florestas e clareiras. Mas todas elas apresentam duas características em comum: são retratadas de forma sombria e bizarra.
As florestas são escuras e distorcidas, os pântanos grotescos e nojentos e até o branco das tundras nevadas parecem esconder algo maligno. O game foi muito feliz na retratação de seus cenários e conseguiu dar uma sensação ‘positiva’ de desconforto. Afinal, estamos falando de um jogo com essa temática.
Outro detalhe que está com uma qualidade bem interessante são as criaturas e os personagens. Entre as fases, vemos animações utilizando o próprio motor gráfico do game e fica claro essa qualidade. No entanto, as animações do game não seguem esse padrão e chegam a ser, em alguns momentos, frustrantes. Os personagens e monstros possuem uma movimentação e esquisita. Mas, a pior parte – que chega a ser irritante – é uma animação quando, por exemplo, um lobo pula em uma de nossas unidades em combate. Ela não se encaixa direito com a ação. E fica ainda mais incômoda quando está sendo realizada e as outras unidades ficam em volta esperando terminar para poderem agir.
E concluindo sobre os gráficos de Gord. Como mencionei antes, o cenário está muito bem implementado. Porém, as regiões que possuem muitas árvores dificultam um pouco a visibilidade. Assim como a coleta de itens é um pouco imprecisa e acaba dando uma certa frustração. Mas, vale salientar que nenhuma das características negativas torna o jogo feio ou até ruim de se jogar e todas elas podem ser resolvidas com patchs após – ou até mesmo antes – de seu lançamento final.
Gord é um daqueles survivals desafiadores – análise
Gord é um jogo que mistura sobrevivência, estratégia e contém alguns elementos de RPG e vou falar de cada um desses elementos separadamente.
Começando com a parte de sobrevivência. Em cada fase começamos com um grupo de colonos e precisamos avançar nas florestas de Lysatian até encontrarmos um local com bastante recursos e fundamos nosso assentamento. Após, será necessário construir estruturas que designem os colonos em diversas funções, como madeireiro, pescador etc.
O maior desafio nessa parte será o equilíbrio. Isso porque precisaremos gerar recursos, principalmente comida, enquanto explorarmos e expandimos nosso acampamento. E mesmo com a possibilidade de aumentarmos nossos residentes, sempre fica uma sensação de que ‘não é o suficiente’. Isso porque esse processo é extremamente lento. Ou eles se reproduzirão de forma ‘natural’ ou salvamos de raptores.
A melhor opção ficou nítida, explorar e aí entramos na outra mecânica do jogo, a estratégia. Quando designados como soldados, nossos colonos não produzem recursos, mas podem adquiri-los pelo mapa. Além disso, temos um outro desafio a superar: a sanidade. Enquanto exploram as escuras florestas, sem uma fonte de luz, sua psique é afetada e pode levar a graves doenças psicológicas como se recusar a trabalhar ou até mesmo agredir seus companheiros de forma aleatória.
E por último, Gord possui um toque de RPG também. Ao exercer as funções designadas, nossos colonos ganham experiência, aprimorando suas capacidades. Por exemplo, o madeireiro coleta recurso mais rápido, já o guerreiro ganha bônus de ataque e vida. Qualquer um pode adotar qualquer profissão, no entanto, alguns terão mais aptidão em umas e menos em outras.
Além disso, podemos encontrar e equipar nossos colonos com itens encontrados pelo mapa, aumentando ainda mais sua produtividade e/ou capacidade de combate. E como mencionei anteriormente, é possível levar alguns para a próxima fase, o que nos dá uma vantagem inicial boa, além da vontade de mantermos todos vivos.
Se ouvires um alarme, não te preocupes
A trilha sonora de Gord é um tanto quanto peculiar – e de uma forma positiva. Como o game possui uma temática sombria, a música entra nessa pegada. No entanto, ela também tem um toque nórdico que me agradou bastante. Porém, ela passa quase despercebida nas fases, pois a ambientação nos distrai, novamente, de forma positiva.
Explorando as florestas com tochas, ouvimos constantemente o som de criaturas se esgueirando pelas matas, as folhas sendo chacoalhadas pelos ventos, o barulho da neve caindo etc. Nesse ponto o game entrega uma imersão muito boa.
Outro detalhe de destaque é sua dublagem. Nas cutscenes os personagens entregam bem o seu papel. Seja demonstrando medo, raiva ou felicidade. Porém, esse ponto em questão fica limitado a esses momentos, durante as partidas os personagens são mudos, exceto por um momento ou outro em que os principais tecem comentários.
E por último, uma coisa que se tornou com o tempo bastante desagradável, são os alertas de pessoas sem trabalho. Como os recursos no entorno da nossa colônia são limitados, de tempo em tempo eles se esgotam – e quando digo de tempo em tempo, é com uma boa frequência. Nessas horas, os colonos param de trabalhar e somos alertados com uma buzina mais parecida com um alerta de ataque.
Até me acostumar, sempre que eu a ouvia, corria para a base procurando inimigos. E mesmo quando me acostumei, comecei a achar ela bastante irritante.
Conclusão da nossa análise de Gord
Após os pontos levantados nesta análise, fica a questão: Gord vale a pena?
A resposta é um tranquilo sim. Gord é um game desafiador, bonito e divertido que comete pequenos deslizes, mas sem grandes impactos na sua diversão. Sua história intrigante me prendeu em diversos momentos, além de entregar um folclore próprio que me prendeu por diversas vezes lendo seu glossário. Talvez, nesse ponto, o game peque por não ter uma tradução para PT-BR, o que pode limitar o acesso a algumas pessoas.
Sua temática sombria ficou muito bem representada com gráficos usando a Unreal engine 5, porém poderiam ter dado um carinho maior as animações. Da mesma forma, se pudesse falar diretamente com seus desenvolvedores, pediria encarecidamente que tirasse essa maldita buzina e me deixassem curtir melhor o som ambiente e sombrio que o game possui.
E um toque final para quem puder se interessar, Gord é um survival ‘tranquilo’. Sua mecânica possui mais desafio no equilíbrio do que no combate em si. Logo, se você for como eu que gosta de chegar em casa para jogar algo relaxante após o trabalho/estudos. Gord é um game que vai te desafiar, mas ao mesmo tempo não vai te frustrar.
Essa análise de Gord segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Gord
Visual, ambientação e gráficos - 7
Jogabilidade - 7
Diversão - 7
Áudio e trilha-sonora - 8
7.3
Bom
Gord é um game desafiador e sombrio que comete alguns deslizes, mas não deixa de ser divertido e interessante.