Análise: Dust & Neon surpreende com caminho diferente do habitual

Desenvolver jogos que se passam no velho oeste não parece ser a tarefa mais simples, mas normalmente segue um caminho simples. Assim, é preciso ter um enredo bom, um elenco interessante e um cenário convincente. No entanto, não foi esse o caminho escolhido pela David Marquardt Studios, a desenvolvedora de Dust & Neon.

De modo resumido, podemos dizer que Dust & Neon se destaca com uma jogabilidade simples, mas ao mesmo tempo cuidadosa, exigindo o máximo de atenção dos jogadores. Desse modo, você terá que colocar a cabeça para pensar ao escolher os benefícios que o jogo te proporciona durante a jogatina. Além disso, também será necessário colocar na balança as vantagens e desvantagens de cada decisão.

Um roguelite com visão isómetrica

Dust & Neon nada mais é do que um roguelite que coloca o jogador na pele de um lendário pistoleiro no oeste selvagem. Bom, lendário talvez não seja a palavra certa já que o nosso personagem jogável não possui um nome. Ele é apenas um robô, ou melhor, ele é mais do que um, pois a cada vez que morremos, retornamos com outro robô idêntico.

A história do game é muito simples e sem segredos. Dessa forma, o Dr. Finkel, um cientista louco, cria uma série de robôs com o objetivo de erradicar robôs ocidentais e malvados que invadiram a sociedade. Então, sim, se você pensou isso, está certo: são muitos robôs.

Após uma curta introdução ao cientista que trouxe nosso pistoleiro à vida, o jogo iniciará. Assim, você rapidamente estará controlando o seu pistoleiro com um revólver e derrotando vários inimigos. Enquanto isso, o Dr. Finkel fica no seu bunker, esperando você completar as missões ou morrer, obrigando ele a criar um novo pistoleiro.

Portanto, se prepare para um loop de jogabilidade com a vista de cima para baixo no cenário western. Não há muito o que falar aqui. O enredo é muito simples e linear.

O diferencial de Dust & Neon está na mecânica das armas e na gestão de recursos

A estrutura principal de Dust & Neon segue um roteiro bem simples. Portanto, nós temos um mapa que se divide em quatro locais e geram missões aleatórias para roubar trens, destruir bases, danificar suprimentos inimigos, matar alvos ou até todos os inimigos. Em qualquer um dos três tipos de missões, o objetivo é o mesmo: reunir pontos de experiência suficiente para desafiar o chefe daquela região. Em seguida, quando você derrotar o chefão, passará para o próximo local e o ciclo se repete.

A premissa é simples e até genérica, mas o game se diferencia na sua abordagem à mecânica de armas e gerenciamento de recursos. Dessa forma, você terá acesso a apenas três tipos de armas: revólver, espingarda e rifle. Cada arma terá um suprimento limitado de munição. Além disso, você terá que carregá-las manualmente.

Eu, particularmente, gosto da ideia. Ter que carregar cartucho por cartucho ajuda na imersão. Contudo, há quem prefere algo mais automatizado. Se você espera encontrar alguma atualização durante a jogatina que possibilite um carregamento automático, tenho péssimas notícias. Você não vai encontrar. Até existe uma opção nos menus, mas ela não funciona muito bem, já que torna o procedimento bem lento.

Felizmente, os cenários do jogo irão te dar muita munição e pilhagem aleatória para saquear, facilitando um pouco as coisas. O game ainda possui um sistema de cobertura que ajuda a recriar tiroteios com um toque de realismo. Entretanto, o combate do jogo nunca muda de forma significativa. Então, prepare-se para lutar contra os mesmo inimigos humanos e robóticos inúmeras vezes.

Por fim, os chefes também não fornecem uma variedade diferente. Contudo, enfrentá-los pode ser uma dor de cabeça enorme, ainda mais se lembrarmos que perdemos as armas quando morremos. Isso sem mencionar que você terá que fazer algumas missões antes do chefe “reaparecer”.

Muitas atualizações, mas com poucos efeitos

Durante a jogatina, você terá acesso uma infinidade de atualizações divididas entre Combativo e Defensivo. Assim, você poderá aumentar a sua saúde, precisão, agilidade para fazer alguns movimentos e muito mais. Contudo, elas são tão simples que não parecem realmente fazer diferença. Felizmente, você não perde elas após as mortes.

Além disso, existem outros elementos para ajudar a aumentar a probabilidade de sucesso em uma missão como os buffs presentes em diferentes lojas. Conforme você avança em Dust & Neon, algumas lojas são desbloqueadas. Desse modo, nelas você terá como comprar novas armas, aumentar suas estatísticas para uma missão, comprar um chip de memória e até um tônico que aumentará as suas habilidades de modo gradual. No entanto, adquirir esses buffs juntos será tão caro que você dificilmente irá pegá-los. Assim, infelizmente, o game te oferece menos dinheiro do que o necessário.

Dust & Neon requer estratégia

Não importa o quão o pistoleiro sem nome seja lendário, se você sair apenas correndo e atirando sem estratégia, será uma presa fácil para os inimigos. Assim, Dust & Neon obriga os jogadores a se mover de forma cuidadosa, utilizar caixotes para se proteger, recarregar as armas antes do tiroteio e claro, esperar os inimigos passarem pelo lugar errado.

O game ainda carece de diversidade, mesmo exigindo cautela. Desse modo, há um número limitado de inimigos. Além disso, os locais sempre são bem parecidos. Portanto, após algum tempo, mesmo o jogador mais desajeitado, irá pegar o jeito das coisas.

De qualquer forma, o sucesso aqui é construído com base na gestão de munição e na descoberta de armas melhores. Então, você terá que tomar decisões de forma consistente sobre explorar ou não uma casa para obter mais saques, sabendo muito bem que enfrentar os inimigos extras pode resultar na sua morte mais pra frente.

Por fim, vale lembrar que existe duas configurações de dificuldade em Dust & Neon. No entanto, você não poderá alterá-las no meio do jogo.

Lutas contra os chefes deixam a desejar

Apesar das lutas repetitivas, Dust & Neon faz um ótimo trabalho com os inimigos comuns, permitindo que você os derrote como quiser, desde que se utilize de uma boa estratégia. No entanto, as lutas contra os chefes, que deveriam ser o ponto alto, não funcionam tão bem.

Assim, cada chefe normalmente tem a sua própria arma única, diminuindo as possibilidades dos jogadores, que acabam ficando preso a uma única tática para conseguir derrotá-lo. Nessas lutas, ao invés das coberturas típicas, os jogadores vão se deparar com saliências esponjosas que precisam ser bombeadas com chumbo ao mesmo que tempo que você corre de um lado para o outro.

Além disso, existem alguns momentos, o jogador terá que resolver alguns problemas bem próximos a puzzles, como atirar em barris para destruir o escudo de um inimigo, mas nada disso torna a experiência mais agradável.

Conclusão da análise de Dust & Neon

Dust & Neon apresenta bons pontos fortes. O game possui um estilo de arte estilizado, colorido e atraente. A sua jogabilidade é simples, sólida e divertida, mas peca um pouco nas lutas contra os chefes. A mecânica das armas e a gestão de recursos se destacam e fazem valer a pena a experiência. Além disso, o game não apresentou problemas e bugs que atrapalhassem a experiência geral no PlayStation 5.

Por outro lado, como já dito, as lutas finais de cada cenário deixam a desejar e poderiam ser melhor trabalhadas. A enorme variedade de atualizações não fazem tanto efeito na prática. O senso de humor do jogo não é dos melhores e algumas piadas parecem muito forçadas. A falta de um enredo interessante também é um ponto fraco aqui.

Contudo, a experiência geral de Dust & Neon é boa e não deve passar despercebida para os fãs de jogos roguelite e western. Existem jogos que retratam melhor o velho oeste e que possuem traços mais satisfatórios dentro do gênero roguelite. No entanto, se você busca algo diferente, com uma jogabilidade ponderada e mecânicas de armas satisfatórias, esse é o jogo certo.

Essa análise de Dust & Neon segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação