Review: Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins

Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins é o mais novo jogo baseado nos não tão conhecidos no Brasil, mas amados internacionalmente, livros e quadrinhos da autora finlandesa Tove Jansson. Desenvolvido pela Hyper Games e publicado pela Raw Fury, o jogo de aventura musical chega ao Nintendo Switch e PC no dia 7 de março de 2024, permitindo que fãs e novatos mergulhem no adorável Vale dos Moomins. Se você quer saber se o jogo é bom, e vale a pena mesmo, confira o nosso review completo abaixo:

Narrativa

A história do jogo começa quando Snufkin, o andarilho (que por sinal lembra bastante Zelda) e seu amigo inseparável de Moomintroll, retornam ao Vale dos Moomins após um período viajando durante o inverno. O problema é que ao chegar ao seu ponto de encontro habitual com Moomintroll – a ponte sobre o rio que corta o vale – Snufkin se depara com uma cena alarmante e incomum.

O rio, geralmente vivo e cheio, está completamente seco, a natureza do vale morreu, e não há sinal algum de seu melhor amigo Moomintroll. Para piorar tudo, durante a ausência do protagonista, o meticuloso e autoritário Guarda-florestal aproveitou a oportunidade para impor sua visão distorcida de ordem na região.

Diversas seções do vale foram transformadas em parques planejados, com grama baixa aparada, arbustos geometricamente podados e labirintos de plantas artificiais. O que antes era terra fértil e vida selvagem, agora está repleto de placas de proibição, estátuas e guardas patrulhando tudo para fazer valer as regras sem sentido impostas pelo Guarda-florestal.

Tudo isso gera uma revolta em Snufkin, que valoriza acima de tudo a liberdade e a preservação da beleza natural. Indignado, nós precisamos ajudar o personagem a derrubar as placas de proibição para fazer com que a natureza volte a florescer na região.

Enquanto fazemos isso, precisamos também descobrir o paradeiro de Moomintroll, desvendar os planos por trás das ações do Guarda-florestal e, mais importante, resgatar o Vale dos Moomins para retornar a sua ordem natural, com uma natureza exuberante e livre.

Durante a jogatina, encontramos diversos outros personagens icônicos da série, como Little My, Moominpappa, Moominmamma, e outras criaturas tão encantadoras quanto misteriosas, como o Groke. Cada interação e missão secundária ajuda o jogador a desvendar uma parte da verdade por trás dos eventos que se desenrolaram no vale.

A história do jogo em si é o carro chefe do jogo, junto com a parte musical (que mencionaremos abaixo na análise). O enredo, apesar de voltado para o público infantil, pode ser apreciado também por adultos que queiram relaxar e admirar belos visuais estilizados durante as poucas 4 horas de gameplay.

Jogabilidade

Aliás, falando em jogabilidade,  Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins traz uma mistura de exploração simples, furtividade e resolução de “quebra-cabeças” musicais. À medida em que percorremos as diversas regiões do Vale dos Moomins, encontramos muitos de seus habitantes peculiares enfrentando problemas variados. Alguns precisarão de ajuda para resgatar filhotes ou recuperar pertences roubados, enquanto outros simplesmente querem brincar.

Para solucionar esses contratempos, precisamos usar os talentos musicais de Snufkin e seus três instrumentos principais: a gaita, a flauta e o tambor. Cada um desses instrumentos possui habilidades necessárias para interagir com as criaturas e liberar novos caminhos.

A gaita, por exemplo, emite uma melodia suave capaz de acalmar ou atrair animais hostis. Já a flauta pode ser mirada com o controle, sendo ideal para acordar criaturas adormecidas ou afastar enxames de abelhas. O tambor, por sua vez, pode ser usado para derrubar obstruções, chamar a atenção de animais ou acabar com formigueiros no caminho.

No geral, o cenário do jogo traz indicações, nem sempre discretas, que mostram o jogador o que deve ser feito. Apesar de extremamente simples para um adulto acostumado a jogar jogos de aventura, o jogo exige criatividade e observação dos arredores que certamente irá divertir jogadores mais jovens ou que estejam explorando os videogames pela primeira vez.

Cada criatura ajudada ou quebra-cabeça resolvido rende um pouco de experiência, que permite ao protagonista interagir com animais de níveis mais avançados. Não há um sistema de progressão muito elaborado ou uma árvore de habilidades que permita usar esses pontos de forma mais complexa, o que é uma pena.

Fora isso, em vários pontos, nos deparamos com os parques criados pelo Guarda-florestal, áreas esterilizadas e controladas por guardas que prestam atenção a tudo que acontece. Nesses momentos, a perspectiva do jogo muda para uma visão superior e o desafio se torna furtivo. É necessário passar pelos labirintos evitando os cones de visão dos guardas que patrulham as áreas para remover os sinais de proibição espalhados.

As seções furtivas, apesar de extremamente fáceis, trazem alternância interessante ao jogo, saindo um pouco dos momentos contemplativos de exploração pacífica. O que frustra, entretanto, é que não há penalidade alguma em ser descoberto. Não importa o quão perto você esteja de concluir um objetivo nos parques, se um guarda o avistar, o jogo simplesmente o levará para o último checkpoint sem nenhuma outra consequência além de ter que refazer parte do caminho. A sensação que fica é que essa parte furtiva poderia ter sido muito melhor trabalhada pela equipe de desenvolvimento, até porque são poucos os parques disponíveis no jogo.

Direção de Arte

Agora, é preciso deixar algo claro, o carro chefe de Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins é, sem dúvidas, seu incrível trabalho artístico. Desde o primeiro momento em que as cores vibrantes do Vale dos Moomins inundam a tela, é impossível não ficar encantado com a riqueza estética e atenção aos detalhes. Cada cenário parece ter sido pintado à mão, com pinceladas expressivas e uma paleta de tons pastel que transmitem toda a doçura e magia do universo de Snufkin.

Os personagens icônicos, como Snufkin, Moomintroll e a Pequena Mi, ganham vida de forma característica, preservando suas aparências peculiares e singulares dos livros e quadrinhos originais. Porém, o que realmente impressiona é como cada traço, movimento e expressão facial foram meticulosamente animados para transmitir a personalidade vibrante dessas criaturas cativantes.

Além disso, os cenários do vale são maravilhosamente bem criados, com movimentação em praticamente tudo presente na tela. É possível ver árvores se mexendo com o vento de forma orgânica, capins ondulando, e nuvens se movendo no céu, tudo de forma estilizada. O grande truque da equipe de desenvolvimento está na renderização de tudo em um 3D estilizado, que dá a impressão de um jogo em 2D, mas com efeitos de iluminação que interagem com os objetos maravilhosamente.

É realmente admirável o que os desenvolvedores da Hyper Games conseguiram trazer, fazendo com que cada área distinta do Vale dos Moomins tenha uma atmosfera única e cativante, que faz com que o jogador queira explorar cada recanto em busca de itens ou missões escondidas.

Direção de Som

E claro, complementando a experiência visual, a trilha sonora ambiente composta em parceria com a famosa banda islandesa Sigur Rós é incrível. As melodias etéreas, características da banda, trazem uma certa tranquilidade meditativa, que aliada com os visuais acabam até relaxando. A trilha sonora do jogo realmente honra o espírito contemplativo do universo de Snufkin, permitindo que o jogador aprecie cada detalhe artístico das paisagens do jogo.

O único pequeno lamento é que não há atuações vocais gravadas dos personagens. Embora o jogo capte perfeitamente os trejeitos e maneirismos dos Moomins através dos efeitos sonoros, não é possível deixar de sentir falta das vozes dos personagens. Dá para entender que a proposta do jogo era realmente contemplativa, e o silêncio das vozes junto com a trilha e os efeitos sonoros realmente cumprem esse objetivo, mas ainda assim a sensação que fica é que o universo do personagem estaria completo com as vozes.

Conclusão – Review: Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins

Para resumir este review, Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins se mostra uma experiência agradável, porém superficial. É inegável que o jogo é uma verdadeira obra-prima em termos artísticos e apresentação audiovisual. Cada cenário é uma verdadeira obra de arte, com uma direção de arte impecável que captura a essência mágica e singela do universo criado por Tove Jansson. Fora isso, a trilha sonora cativante da banda Sigur Rós complementa perfeitamente a atmosfera contemplativa.

Agora, infelizmente, quando se trata das mecânicas centrais de jogabilidade, Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins acaba sendo exageradamente simples, à ponto de se tornar trivial. As fases de exploração, quebra-cabeças e momentos furtivos apresentam muito pouco desafio real, mesmo para jogadores casuais ou crianças. Isso é agravado pela falta de qualquer penalidade nos parques, o que tira grande parte da tensão da furtividade.

Para os fãs de longa data da obra de Tove Jansson (que infelizmente não são muitos no Brasil), o jogo permite realmente explorar o Vale dos Moomins de forma interessante. Mas para os que não conhecem a obra, o apelo ficará restrito aos belos visuais, já que as mecânicas simplistas oferecem pouca motivação para se conectar verdadeiramente com a história e os personagens.

Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins é um incrível feito audiovisual, mas que acaba pecando por sua extrema simplicidade na jogabilidade. O jogo traz uma aventura musical relaxante e agradável, mas muito superficial em seu gameplay, e acaba sendo apenas um passeio contemplativo pelo Melodia do Vale dos Moomins.

Esse review de Snufkin: Melodia do Vale dos Moomins segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.