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Análise: Earthion

Trilha sonora retrô com alma moderna

Em meio à onda de resgates de clássicos dos anos 90, Earthion se destaca como um projeto que vai além de um estilo: ele é, de fato, um jogo novo desenvolvido diretamente no Mega Drive. Produzido majoritariamente por Yuzo Koshiro (renomado compositor responsável por trilhas icônicas da era 16-bit), o título se apresenta como um autêntico shmup (“jogo de navinha”) que mantém as limitações do hardware original enquanto é adaptado para plataformas modernas como o PC, com lançamento futuro previsto também para consoles (incluindo o Mega Drive).

Nesta análise, trazemos nossas impressões completas após jogarmos Earthion antecipadamente. O objetivo é entender como essa proposta atemporal se comporta hoje em dia, e o que ela tem a oferecer para quem viveu a era dos 16 bits ou que está conhecendo esse estilo pela primeira vez.

Uma heroína brasileira contra uma ameaça alienígena

A narrativa de Earthion segue o caminho clássico dos jogos retrô de ação: salvar o mundo de uma ameaça iminente. Aqui, quem assume o protagonismo é uma heroína brasileira, encarregada de enfrentar uma invasão alienígena que ameaça destruir a Terra. A trama não se propõe a reinventar a roda, mas serve como um pano de fundo eficaz para sustentar a ação frenética e os desafios das fases.

O que realmente chama a atenção é a ambientação do jogo, que consegue ser surpreendentemente variada e detalhada mesmo com o tamanho minúsculo do arquivo. Earthion ocupa menos de 50 MB. Isso faz sentido ao lembrarmos que ele foi desenvolvido para rodar em um cartucho de Mega Drive, respeitando todas as limitações do hardware original. Ainda assim, o game impressiona pela densidade visual, fluidez e ritmo intenso, com elementos visuais que remetem diretamente à era de ouro dos 16-bits. Particularmente, ele me lembra muito do jogo Ranger-X (EX-Ranza no Japão) lançado em 1993 também para o Mega Drive.

As fases transitam por diferentes cenários, começando no espaço, passando por instalações industriais e chegando até regiões subterrâneas que remetem a atmosfera de Super Metroid. Há um equilíbrio interessante entre o mecânico e o orgânico, mostrando como esses invasores estão se apropriando do planeta. Cada ambiente é recheado de efeitos visuais, transições de iluminação e uma variedade de inimigos e obstáculos que reforçam a identidade de cada área.

Complementando tudo isso, a trilha sonora é um espetáculo à parte. Composta por ninguém menos que Yuzo Koshiro (lenda das trilhas de jogos como Streets of RageShinobi e ActRaiser), a música de Earthion é pulsante, energética e totalmente integrada à ação. Utilizando o chip de som Yamaha YM2612 do Mega Drive com maestria, Koshiro entrega faixas que combinam batidas eletrônicas intensas com um senso de urgência que embala perfeitamente o ritmo do jogo. O resultado é uma trilha que não apenas cumpre seu papel, mas se torna um dos grandes destaques da experiência.

Um gameplay desafiador, técnico e recompensador

Earthion segue a tradição dos clássicos shmups com um ritmo acelerado e foco em esquiva, precisão e aprendizado. Aqui, o jogador assume o controle de uma nave em cenários repletos de projéteis, inimigos e obstáculos, avançando por ambientes que vão do espaço até cavernas subterrâneas, cada qual com seu nível de complexidade e exigência de reflexo. A estrutura geral é simples, mas os sistemas introduzidos no jogo trazem uma profundidade.

Um dos elementos centrais do gameplay está na mecânica de evolução da nave. Ao eliminar inimigos, o jogador coleta cristais verdes, que são responsáveis tanto por recuperar vida quanto por fortalecer o poder de fogo da nave. Isso cria uma dinâmica de risco e recompensa constante: é preciso jogar de forma agressiva para manter o armamento no nível máximo, ao mesmo tempo em que o jogo exige precisão e cautela para não perder energia e consequentemente, seu poder de fogo juntamente com sua vida.

A progressão também inclui upgrades específicos conquistados ao conseguir manter um item específico após derrotar cada chefes. Isso permite expandir a capacidade da nave, adicionando vidas extras, melhorar suas armas e vida assim como mais slots de armas especiais. Essa abordagem incentiva o jogador a explorar possibilidades e experimentar diferentes estilos de jogo, especialmente nas dificuldades mais altas, onde o desafio é acentuado.

Outro ponto de destaque está no sistema de armas secundárias. O jogador pode carregar até duas armas especiais simultaneamente, com a possibilidade de alternar entre elas a qualquer momento. Essas armas variam bastante, com projéteis diagonais, mísseis superiores/inferiores, feixes de plasma de longo alcance, lança-chamas, lançar minas entre outros. A escolha do armamento adequado para cada situação faz parte da estratégia. Tiros de área funcionam melhor em cenários fechados, enquanto ataques concentrados são ideais para chefes ou passagens abertas.

Apesar de sua duração relativamente curta (uma campanha que pode ser concluída em cerca de 1h30) Earthion se sustenta no fator replay. A curva de aprendizado é alta, especialmente em dificuldades mais elevadas, e entender os padrões dos inimigos e dos chefes se torna essencial. Esses encontros com chefes são particularmente bem elaborados, exigindo atenção a padrões específicos de ataque e posicionamento, não bastando apenas atirar sem pensar.

No geral, Earthion entrega um gameplay exigente, mas justo, e repleto de decisões táticas. É o tipo de jogo que recompensa a persistência e o domínio das mecânicas, algo cada vez mais valorizado por quem busca experiências retrô com consistência técnica.

Earthion é um verdadeiro jogo retrô

Embora Earthion seja um jogo direto ao ponto em termos de gameplay, o mesmo não pode ser dito sobre seu menu, que reserva algumas surpresas interessantes para os jogadores mais curiosos. A primeira impressão pode até ser de simplicidade excessiva. Ao iniciar o jogo, o menu inicial apresenta poucas opções visíveis. No entanto, ao pressionar um botão específico (como o “Select” no controle ou Esc no teclado), o menu completo é revelado, abrindo acesso a uma variedade de recursos que vão muito além do convencional.

Entre as opções, é possível trocar o idioma do jogo, incluindo o suporte completo ao português do Brasil, algo que não aparece inicialmente ativado. E mais do que configurações básicas, o menu oferece uma seção de extras que documenta parte da história do desenvolvimento de Earthion. Nela, é possível acessar o primeiro protótipo jogável, uma versão extremamente inicial composta por um robô caminhando em linha reta e enfrentando inimigos em um trecho da segunda fase. Também estão disponíveis várias demos apresentadas em eventos anteriores ao lançamento, permitindo ao jogador observar a evolução do projeto.

Além disso, o menu oferece uma gama de opções gráficas pensadas para a experiência retrô. Como o jogo foi originalmente desenvolvido para o Mega Drive, sua arte e som seguem a estética dos 16 bits. E sabendo que o jogo será jogado principalmente em PCs modernos ou em portáteis como o Steam Deck, os desenvolvedores incluíram diversos ajustes para preservar e adaptar essa estética.

É possível mexer suas proporções mantendo leves variações ao padrão 4:3, configurar diferentes níveis de scanlines, simular um monitor CRT, ajustar o fundo da tela e ativar o Integer Scale, técnica amplamente usada na emulação e no retro gaming para manter a nitidez dos pixels em resoluções mais altas. Tudo isso ajuda a manter a fidelidade visual original do jogo, mesmo em telas maiores e modernas.

Esse cuidado reflete bem o momento atual da cena retrô, que segue em ascensão e cada vez mais atenta à forma como esses jogos são apresentados. A presença de Earthion em eventos como a Retrocon (que aconteceu uma semana antes do lançamento do jogo), bem como o envolvimento direto de Yuzo Koshiro no projeto, só reforçam esse comprometimento com a experiência clássica, mas atualizada.

Earthion acerta praticamente em tudo

Earthion é um verdadeiro presente para fãs de jogos retrô, apaixonados por desafios e admiradores do Mega Drive. Seja você um veterano dos shmups ou alguém recém-chegado ao gênero, o jogo encanta por sua autenticidade, dificuldade elevada e respeito às limitações do hardware da década de 90 (sem jamais comprometer a diversão).

O mais impressionante é como Yuzo Koshiro e sua equipe conseguiram criar uma experiência que, mesmo sendo tecnicamente limitada ao Mega Drive, permanece incrivelmente atual. A trilha sonora marcante, os visuais detalhados e o ritmo de ação intenso fazem com que Earthion se destaque tanto como homenagem quanto como produto competitivo no mercado atual de jogos retrô.

Não há aqui promessas de inovação tecnológica ou gráficos de última geração, mas há sim o domínio absoluto de uma proposta: entregar um shoot’em up coeso, viciante e desafiador. Com múltiplos níveis de dificuldade e modos extras focados em pontuação, Earthion é o tipo de jogo que te prende pela superação e te diverte por horas (principalmente se você curte competir por recordes entre amigos).

No fim, Earthion é um acerto retumbante. Um jogo que viajou no tempo para mostrar que, com paixão, criatividade e respeito à essência, ainda é possível brilhar com um cartucho de 16-bits.

Essa análise de Earthion segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

Um shmup feito por e para fãs

Visual, ambientação e gráficos - 9
Jogabilidade - 9
Diversão - 9
Áudio e trilha-sonora - 9

9

Fantástico

Earthion é uma carta de amor ao Mega Drive e aos clássicos do gênero shmup. Com trilha sonora poderosa de Yuzo Koshiro, gameplay desafiador e uma estética fiel aos anos 90, o jogo prova que o passado ainda tem muito a oferecer aos dias atuais.

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Leonardo

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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