
Routine foi uma surpresa para mim e não digo isso por exagero. Terror não é exatamente o meu gênero favorito, especialmente quando segue aquela linha mais passiva, focada em tensão constante e pouca ação. Ainda assim, o novo projeto da Lunar Software conseguiu prender minha atenção de um jeito que eu não esperava.
Feito por um estúdio minúsculo, composto por apenas três pessoas e publicado pela Raw Fury, o jogo entrega uma atmosfera tão bem construída e uma proposta tão direta que acabou virando uma daquelas experiências que você termina pensando: “ok, não esperava gostar tanto disso”.
E ao longo desta análise, vou explicar exatamente por que Routine me surpreendeu e se você deveria ou não ficar animado para o lançamento.
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Routine e sua história que surpreende
A história de Routine é, sem dúvida, um dos pilares mais interessantes do jogo e ela funciona ainda melhor quando combinada à ambientação, que comentarei mais adiante. A premissa coloca você no papel de um engenheiro trabalhando em uma base lunar que parece ter parado no tempo, com uma estética totalmente inspirada na década de 80. Tudo começa de forma simples: você acorda, sai do seu quarto e logo percebe que algo está errado. Não há mais ninguém por perto, nenhum sinal de atividade humana, e a sensação de isolamento aparece imediatamente.
A narrativa avança por meio da exploração. Conforme você caminha pela base, descobre aos poucos que o sistema de segurança entrou em modo agressivo, transformando robôs em ameaças constantes. Seu primeiro objetivo acaba sendo sobreviver a esses robôs e entender o que levou tudo a esse estado. Só que, conforme avança, fica claro que o problema vai além da segurança: existe algum tipo de contaminação de origem lunar que tomou conta da estação.
O jogo começa com um clima de mistério tecnológico e lentamente desliza para um lado mais sci-fi, quase paranoico, mostrando que a situação envolve algo muito maior do que apenas um sistema defeituoso.


O ponto que realmente faz essa história funcionar é o fato de tudo ser extremamente analógico. Em vez de telas cheias de logs ou uma inteligência artificial explicando o que aconteceu, você encontra respostas em papéis espalhados, relatórios, blocos de anotações, e-mails antigos, vídeos curtos e mensagens deixadas às pressas. São pedaços de reuniões, manuais com instruções riscadas à mão, avisos colados na parede. Tudo escrito como se fizesse parte de uma rotina de trabalho normal que, de repente, foi interrompida.
E é exatamente isso que torna o processo tão recompensador: no meio do caos, de robôs hostis, da base abandonada e desse “agente externo” que tomou conta do lugar, a história se revela de forma lenta e por iniciativa do jogador. Cada documento encontrado realmente faz diferença e reforça a sensação de que você está montando esse quebra-cabeça sozinho, ponto a ponto.

Tensão que dá pra sentir e ouvir
A ambientação de Routine é um dos pontos que mais definem a experiência e funciona em total sintonia com a trilha sonora para criar um clima de tensão constante. Como já mencionei, o jogo se passa em uma base lunar com estética claramente inspirada nos anos 80, um mundo totalmente analógico em que tudo depende de botões físicos, painéis com luzes simples e mais. Essa escolha deixa o jogo com um charme retrô que combina com a proposta e reforça o desconforto de explorar um lugar isolado e abandonado.
Visualmente, Routine trabalha muito bem com luz e sombra. A iluminação é forte, mas sempre limitada, criando trechos mal iluminados, corredores com lâmpadas vermelhas e áreas que parecem acender e apagar no ritmo da sua própria ansiedade. É aquele tipo de cenário em que cada esquina parece perigosa, mesmo que nada aconteça. Essa sensação lembra um pouco o estilo de Alien Isolation. Não por imitar diretamente, mas por transmitir a mesma ideia de fragilidade: você não está ali para enfrentar o perigo, mas para sobreviver a ele.
Um detalhe que ajuda muito a reforçar essa estética “oitentista” é o filtro que o jogo aplica por padrão, criando uma camada de estática e distorção na imagem. É como se você estivesse vendo tudo por uma câmera antiga, o que casa perfeitamente com a proposta analógica da base e adiciona personalidade ao visual. E por falar em câmera antiga, isso fica representado de forma impecável nos registros em vídeos deixados pela equipe.
A parte sonora, porém, é o que realmente amarra tudo. A trilha é construída para deixar o jogador em alerta o tempo inteiro, com sons metálicos que ecoam pela base, estalos de estruturas se ajustando, barulhos de água pingando em algum canto e, claro, o farfalhar mecânico dos robôs que circulam pelo local. Muitas vezes, o jogo não precisa mostrar nada para te deixar tenso — basta um ruído perdido no corredor para você automaticamente desacelerar, olhar ao redor e tentar se esconder.
Até os seus próprios passos fazem diferença: o som do piso metálico, o barulho quando você esbarra em algum objeto e até pequenas vibrações no ambiente ajudam a compor essa sensação de vulnerabilidade. Routine usa esses elementos com precisão, criando uma ambientação imersiva, pesada e que sustenta a tensão até nos momentos em que, tecnicamente, nada está acontecendo.

Routine é analógico e diferente
O gameplay de Routine é, ao mesmo tempo, um dos pontos mais interessantes e também onde surgem as críticas mais significativas. O jogo segue uma estrutura totalmente voltada para o terror passivo (referencio a similariedade com Alien Isolation mais uma vez) onde o foco não é enfrentar o perigo, mas evitá-lo. Você controla um engenheiro preso em uma base lunar abandonada, e sua única ferramenta real de interação é a CAT, um dispositivo modular que funciona como um híbrido entre arma, scanner e ferramenta de acesso.
A CAT evolui conforme o jogo avança. No início, você conta apenas com uma descarga de energia básica, que pode ser usada três vezes antes de precisar recarregar. Logo depois, desbloqueia uma visão infravermelha, que permite identificar pistas e elementos escondidos, como marcas de dedos em monitores ou itens importantes para resolver puzzles. Com o tempo, novos módulos vão sendo encaixados, transformando a CAT em uma espécie de canivete suíço improvisado onde, ela é útil para atravessar a base, mas nunca poderosa o suficiente para eliminar ameaças. No máximo, ela desacelera inimigos para você ter tempo de fugir.
Essa estrutura reforça o caráter mais “gato e rato” da experiência. Routine não tenta ser um jogo de combate, e não faz concessões para quem busca algo mais direto. Ele exige leitura, observação e paciência: quase tudo depende de interpretar relatórios, notas, e-mails e informações espalhadas pelos cenários. Além disso, por ser um mundo propositalmente analógico, muitas ações precisam ser realizadas manualmente, desde alternar módulos da CAT até acessar terminais que transformam o próprio cursor da tela no seu “mouse”. É um jogo que aposta mais na investigação do que em reações rápidas.



Mas aqui entram os problemas. O primeiro não é exatamente culpa do jogo: você pode simplesmente não gostar desse ritmo. Routine é lento, passivo, investigativo, e isso pode frustrar quem espera algo mais dinâmico. É uma característica da proposta, mas vale o aviso.
O segundo ponto, aí sim, pesa mais na experiência. Jogando com mouse e teclado, o controle é preciso e combina bem com o estilo de interação manual do jogo. Mas quando tentei jogar com controle, a experiência caiu bastante. A mira da CAT, o uso do ponteiro em telas e a sensibilidade geral não funcionaram bem, a ponto de eu abandonar o controle nos primeiros minutos. É um jogo claramente pensado para mouse e teclado.
O outro problema é a falta de orientação. Routine não dá dicas, não marca objetivos e mantém a HUD completamente limpa. Isso é algo que combina com a proposta e reforça o clima de isolamento. Só que, em alguns momentos, isso ultrapassa o limite e faz com que o jogador fique mais perdido do que deveria. Não é sobre querer um mapa moderno cheio de indicadores, mas sim algo simples, coerente com o tema: um mapa analógico na parede de cada setor, com o tradicional “você está aqui”, já resolveria grande parte da frustração. Houve momentos em que eu dei várias e várias voltas só para descobrir que estava retornando ao mesmo ponto sem perceber, até finalmente memorizar o layout da área.
Routine acerta no conceito, na tensão e na forma como exige que o jogador pense por conta própria. Mas alguns ajustes de usabilidade fariam o gameplay fluir melhor, especialmente em momentos em que a sensação de estar perdido acaba atrapalhando mais do que contribuindo para o terror.

Routine vale a pena?
Chegando ao fim da minha experiência com Routine, posso dizer que fui sinceramente surpreendido. Esse não é exatamente o tipo de jogo que costuma me fisgar. Essa pegada mais lenta, analógica e centrada na exploração não está entre meus estilos preferidos. Mas, ainda assim, Routine conseguiu me puxar de volta sempre que eu desligava o PC. Eu queria entender mais da história, desvendar o que realmente aconteceu naquela base lunar, descobrir novos módulos para o CAT e seguir conectando peças desse mistério tão bem construído.
O jogo funciona porque recompensa a curiosidade. Cada documento, cada áudio, cada detalhe no cenário acrescenta algo à lore e faz você querer avançar, mesmo quando a jornada é tensa, lenta e, muitas vezes, guiada apenas pela imersão. Claro, existem ressalvas: se você não gosta desse tipo de experiência mais passiva, sem ação constante, ou se não tem paciência para vagar por ambientes analógicos e investigar tudo manualmente, Routine talvez não seja para você — e está tudo bem. É uma característica do gênero, não uma falha do jogo.
Minha única crítica real vai para a ausência de um mapa. Não só seria extremamente útil, como poderia ser implementado dentro do próprio conceito do jogo sem quebrar a imersão. Em vários momentos eu precisei dar voltas e mais voltas, revisitando corredores, testando módulos e tentando escapar de inimigos, o que acaba gerando um certo cansaço desnecessário.
Mas, no geral, a experiência impressiona ainda mais quando lembramos que Routine foi criado por um estúdio de apenas três pessoas, a Lunar Software. O nível de polimento, atmosfera, identidade e consistência aqui é surpreendente para um primeiro projeto.
Para quem gosta de horror espacial, para quem curte uma boa história, para quem aprecia jogos com ritmo mais lento e uma estética profundamente analógica… Routine é uma recomendação certeira.
Essa análise de Routine segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Obrigatório para fãs de terror e suspense
Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 8.5
Diversão - 9
Áudio e trilha-sonora - 10
9.4
Fantástico
Routine entrega uma das atmosferas mais imersivas do gênero, misturando tecnologia analógica, estética lunar retro e um senso de abandono constante. A ambientação visual e sonora trabalha em perfeita sintonia para criar uma tensão contínua, onde cada passo, cada ruído de metal retorcido e cada sala mal iluminada reforça o medo do desconhecido. A narrativa é fragmentada, mas rica, convidando o jogador a montar o quebra-cabeça da base lunar peça por peça. Embora a falta de um mapa gere frustração em alguns trechos, o jogo compensa com identidade, consistência e criatividade — impressionantes para uma equipe de apenas três pessoas. Uma experiência recomendadíssima para quem aprecia terror psicológico, exploração e histórias densas.





