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Análise: Nobody Wants to Die

Nobody Wants to Die, o mais recente lançamento da Critical Hit Games, nos transporta para um futuro distópico onde a imortalidade é um privilégio dos ricos e a morte, uma realidade cruel para os menos afortunados. Este thriller noir cyberpunk combina uma narrativa intrigante com visuais deslumbrantes, embora tropece em alguns aspectos cruciais da jogabilidade. Nesta análise, mergulharemos neste mundo sombrio para descobrir se Nobody Wants to Die consegue equilibrar suas ambições com sua execução. Se você quer saber isso, e muito mais, confira o nosso review completo abaixo.

Um Cenário Fascinante: Nova York, 2329

O jogo se passa em uma versão futurística e distópica de Nova York no ano de 2329. A metrópole é uma fusão de elementos noir dos anos 40 com tecnologia avançada, criando uma estética única que evoca obras icônicas como Blade Runner e especialmente Altered Carbon que parece a grande inspiração do jogo.

Nessa Nova York do futuro, há arranha-céus que se estendem por centenas de andares, carros voadores, e hologramas publicitários piscam incessantemente. Ao mesmo tempo, há detetives vestidos como personagens saídos de “Os Intocáveis”, que utilizam ferramentas de investigação dignas de ficção científica. Essa mistura de épocas cria um visual marcante e bastante original.

O elemento mais intrigante deste cenário é a descoberta do “icorite”, uma substância revolucionária que permite a transferência da consciência humana entre corpos. Com isso, a morte tornou-se opcional para os ricos, enquanto os menos privilegiados são forçados a “alugar” seus próprios corpos, correndo o risco de perdê-los caso não consigam manter os pagamentos em dia.

Esta premissa serve como pano de fundo para explorar temas profundos como desigualdade social, ética da imortalidade e as consequências de uma sociedade onde os ricos literalmente vivem às custas dos pobres. O cenário de Nobody Wants to Die não é apenas um plano de fundo visualmente impressionante, mas um personagem por si só, rico em histórias e conflitos.

Narrativa e Personagens: Um Noir Futurista Cativante

Nobody Wants to Die nos apresenta uma trama intrigante centrada em James Karra, um detetive durão e cínico bem no arquétipo clássico do investigador noir. Karra é um lobo solitário, perseguindo um misterioso assassino responsável por uma série de mortes suspeitas entre a elite da cidade.

Atormentado pela morte de sua esposa, Karra mergulha no trabalho como uma forma de escapismo, a fim de se livrar das memórias dela, que retornam de forma incessante durante o gameplay.

A narrativa se desenrola a partir de uma aparentemente simples investigação de suicídio, que rapidamente se desdobra em uma teia de conspirações envolvendo a elite de Nova York. À medida que mergulhamos mais fundo no caso, somos levados por uma jornada repleta de reviravoltas inesperadas.

A trama bem construída é, sem dúvida, um dos pontos altos de Nobody Wants to Die. Com um ritmo constante, a história mantém o jogador engajado do início ao fim, equilibrando momentos de tensão com pausas para reflexão. Os diálogos são particularmente notáveis, mesclando muito bem o estilo noir clássico e reflexões profundas sobre os dilemas éticos e sociais desse futuro distópico.

Um destaque especial da narrativa é Sara, a parceira remota de Karra. Seu arco de desenvolvimento ao longo da história é fascinante, e a dinâmica entre ela e o protagonista adiciona camadas de profundidade e emoção à trama. A relação entre os dois personagens evolui de maneira orgânica e convincente, engajando bastante o jogador durante a história.

Inclusive, Nobody Wants to Die oferece aos jogadores a oportunidade de moldar a personalidade de Karra através de escolhas de diálogo. Embora estas decisões não alterem drasticamente o curso principal da história, elas permitem uma mudança sutil da experiência, influenciando o desenvolvimento de certos relacionamentos e levando a diferentes finais. Esta característica adiciona um elemento de rejogabilidade ao título, incentivando os jogadores a explorarem diferentes abordagens em novas partidas.

Gameplay e Mecânicas: Um Potencial Perdido

Infelizmente, é na jogabilidade que Nobody Wants to Die encontra seus maiores obstáculos. Embora o jogo se apresente como uma experiência investigativa imersiva, ele falha em oferecer desafios significativos ao jogador, resultando em uma mecânica que não faz jus à riqueza de seu universo e narrativa.

As investigações seguem um padrão predominantemente linear e excessivamente guiado. O jogador explora cenas de crime em primeira pessoa, utilizando um arsenal de ferramentas como raio-X, luz ultravioleta e o intrigante Reconstrutor, um dispositivo capaz de visualizar e manipular a linha do tempo dos eventos ao melhor estilo Braindance de Cyberpunk 2077.

O jogo peca ao constantemente indicar qual ferramenta usar e onde aplicá-la, eliminando quase por completo a necessidade de dedução por parte do jogador. A inclusão de um Modo Dica que destaca os itens interativos necessários para a progressão da história apenas piora essa simplificação excessiva.

O Reconstrutor, que poderia ser o elemento mais interessante da jogabilidade, permitindo ao jogador navegar pelos eventos de um crime, acaba subutilizado. O jogo frequentemente aponta exatamente qual momento da reconstituição deve ser examinado, removendo o prazer da descoberta e da dedução.

O quadro de evidências, concebido para a conexão de pistas e formulação de teorias, também sofre de problemas similares. Embora visualmente atraente, o processo de ligar as evidências se resume mais a uma questão de tentativa e erro do que a um exercício genuíno de raciocínio dedutivo.

Esta abordagem excessivamente guiada acaba por diminuir grande parte da satisfação de resolver os mistérios. Como resultado, o jogador raramente se sente como um verdadeiro detetive, assumindo mais o papel de um observador passivo sendo conduzido através da narrativa.

Ou seja, por mais que Nobody Wants to Die apresente conceitos promissores em termos de mecânicas investigativas, sua execução deixa a desejar, não permitindo que o jogador exerça plenamente suas habilidades dedutivas. Essa discrepância entre o potencial e a realização cria uma experiência de jogo que, embora visualmente impressionante e narrativamente envolvente, falha em proporcionar o nível de interatividade e desafio que muitos jogadores esperariam de um thriller investigativo.

Apresentação Audiovisual: Uma Excelente Obra

Agora, se a jogabilidade de Nobody Wants to Die deixa a desejar, o mesmo não pode ser dito de sua apresentação audiovisual. O jogo é fantástico nesse sentido, oferecendo uma experiência visual e sonora que captura magistralmente a essência do noir cyberpunk.

Os cenários são meticulosamente detalhados, criando um mundo bastante imersivo. As vistas panorâmicas de Nova York em 2329, que o jogo apresenta com certa frequência para mera apreciação, trazem arranha-céus bem concebidos, luzes neon por todos os cantos, e um tráfego aéreo incessante, que realmente cria uma sensação de dinamismo urbano. Cada cena externa é uma pintura futurista em movimento, convidando o jogador a simplesmente admirar a grandiosidade do mundo criado pela Critical Hit Games.

Aliás, os ambientes internos não ficam atrás em termos de impacto visual. Tanto os apartamentos decadentes até as coberturas luxuosas são cuidadosamente elaborados para contar suas própria histórias através dos objetos interativos. Os contrastes gritantes entre os espaços habitados pelos ricos e pelos pobres também trazem uma ilustração bem feita da desigualdade na sociedade mostrada no jogo.

A iluminação, que a tecnologia Lumen da Unreal Engine 5, merece um capítulo à parte nos elogios. O jogo faz um excelente uso de sombras e neons, criando uma atmosfera densa que evoca os melhores exemplos do cinema noir.

Fora isso, a experiência auditiva está à altura da parte visual. A trilha sonora é uma fusão perfeita de jazz noir clássico com toques eletrônicos futuristas, criando complementa a atmosfera do jogo. Todas as composições mesclam muito bem momentos de tensão investigativa e reflexões melancólicas, sempre em sintonia com os acontecimentos do jogo.
Para fechar essa parte, as performances de voz são umas das melhores vistas esse ano. Destaque especial deve ser dado à atuação vocal que dá vida à Sara, parceira remota do protagonista. A interpretação traz nuances e profundidade à personagem, tornando-a muito mais do que uma simples ajudante de IA.

Um Espelho Futurista da Sociedade Contemporânea

Nobody Wants to Die acaba não sendo um mero thriller de ficção científica, se colocando como uma obra que aborda temas complexos e pertinentes à nossa sociedade atual. Através da sua narrativa distópica, o jogo estimula uma reflexão sobre questões éticas, sociais e filosóficas atuais.

No centro da narrativa está uma poderosa metáfora, muito parecida com a de Altered Carbon, para a crescente disparidade econômica de nosso mundo. A divisão entre aqueles que podem comprar a imortalidade e os que são forçados a alugar seus próprios corpos serve como uma alegoria das desigualdades extremas que observamos hoje, e que somente pioram com o tempo. Essa dicotomia entre os “imortais” e os “descartáveis” não apenas impulsiona a trama, mas também provoca o jogador a refletir sobre as potenciais consequências de uma sociedade sem mobilidade social.

Fora isso, através do conceito de transferência de consciência, o jogo mergulha em profundas questões filosóficas sobre a natureza da identidade e a importância das memórias na constituição do ser. Nobody Wants to Die provoca o jogador a considerar o que realmente nos define como indivíduos e até que ponto nossas experiências e lembranças moldam quem somos, adicionando uma camada de introspecção à experiência.

Estes temas complexos são abordados com bastante nuance até. Longe de oferecer respostas simplistas, o jogo prefere instigar o pensamento crítico, apresentando diferentes perspectivas e deixando espaço para que o jogador forme suas próprias conclusões. Essa abordagem sofisticada adiciona camadas de profundidade à narrativa, claramente mostrando que os desenvolvedores queriam trazer à história algumas das principais preocupações contemporâneas.

Conclusão – Análise: Nobody Wants to Die

Para concluir essa análise, é possível dizer que Nobody Wants to Die traz uma experiência contrastante e oportunidades perdidas. Por um lado, o jogo oferece uma narrativa bem construída que se desenrola em um mundo cyberpunk bem feito, com uma trama densa e provocativa com personagens complexos, e que aborda temas de relevância social e filosófica. Complementando essa riqueza narrativa, o jogo apresenta uma estética visual interessante e uma atmosfera noir cyberpunk maravilhosa, criando um universo que imerge o jogador a todo momento.

Contudo, essa excelência narrativa e visual contrasta fortemente com as limitações do gameplay. A experiência investigativa, que deveria ser o ponto central do jogo, pega demais na mão do jogador. Essa abordagem remove grande parte do desafio intelectual e da satisfação que normalmente acompanham a resolução dos puzzles e mistérios. O resultado é uma dissonância entre a riqueza do mundo do jogo e a passividade imposta ao jogador, criando uma experiência que se assemelha mais a um filme interativo do que a um jogo de fato.

Ainda assim, apesar dessas falhas, é inegável que Nobody Wants to Die é um início ambicioso para a Critical Hit Games. O jogo traz uma visão criativa audaciosa e uma capacidade impressionante de criar mundos envolventes. Com ajustes focados na melhoria da jogabilidade, permitindo maior liberdade e desafio ao jogador, e confiando mais na capacidade do público de desvendar mistérios por conta própria, a equipe demonstra ter o potencial para jogos excelentes em projetos futuros.

Essa análise de Nobody Wants to Die segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

Uma oportunidade perdida

Nota - 7.5

7.5

Bom

Nobody Wants to Die é uma ambiciosa jornada noir cyberpunk que impressiona com sua narrativa envolvente, visuais impressionantes e temas provocativos, mas tropeça em sua jogabilidade excessivamente guiada.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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