Após mergulharmos nas primeiras horas de O Escudeiro Valente (The Plucky Squire, em inglês) em nosso preview, tivemos finalmente a oportunidade de explorar a versão completa deste aguardado título da Devolver Digital. Com uma proposta inovadora, o jogo combina elementos de ação e plataforma inspirados em clássicos como The Legend of Zelda, oferecendo uma refrescante fusão entre os universos 2D e 3D.
Nesta análise, compartilharemos nossas impressões e avaliaremos se o jogo cumpre suas promessas e justifica a expectativa gerada. Adiantamos que o título está completamente dublado e legendado em português brasileiro.
Conheça Pontinho, O Escudeiro Valente
A narrativa de O Escudeiro Valente nos transporta para um encantador conto infantil, literalmente inserindo-nos no livro que dá nome ao jogo. Acompanhamos Pontinho, o herói da história, em sua constante luta contra o vilão Enfezaldo, numa trama clássica onde o bem sempre triunfa sobre o mal. Contudo, após inúmeras derrotas, Enfezaldo faz uma descoberta surpreendente: o livro é apenas uma história predeterminada. Isso o leva a explorar um novo tipo de magia, a metamagia, que lhe permite manipular a narrativa e até mesmo excluir Pontinho do próprio livro.
Essa reviravolta introduz uma narrativa cômica e cativante, repleta de momentos metalinguísticos e personagens memoráveis. Pontinho conta com o apoio de seus leais companheiros: Batera, um troll da montanha, e Violeta, uma aprendiz de feiticeira. Destaca-se também o excêntrico Barbaluar, o grande mago do reino, cuja personalidade irreverente e descontraída lembra mais um animado DJ de festa do que um sábio tradicional.
À medida que a aventura se desenrola, a trama proporciona um desenvolvimento de personagens interessante e bem-humorado. Embora não apresente uma história revolucionária, O Escudeiro Valente se destaca por sua narrativa divertida e envolvente. O jogo mantém o interesse do jogador em cada nova etapa da jornada, explorando a eterna luta entre o bem e o mal, enquanto Enfezaldo busca subverter esse paradigma clássico.
Ambientação e Gráficos
O Escudeiro Valente revela-se um verdadeiro espetáculo de originalidade. A integração entre os elementos 2D e 3D é executada de forma impecável, com uma fluidez impressionante. As transições entre estilos visuais, que acompanham o desbloqueio de novos poderes por Pontinho, destacam-se como uma das grandes atrações do jogo. A narrativa que se desenrola nas páginas do livro, somada ao impacto do ato de virá-las sobre as fases, representa um toque de design extraordinariamente criativo e envolvente. A atenção aos detalhes é notável, chegando ao ponto de incluir pequenos flocos de poeira sobre o livro.
A ambientação merece destaque especial, principalmente por se desenvolver no quarto de Sam, a criança “dona” do livro. A justificativa para a exploração 3D é coerente, pois o jogador explora o quarto que se modifica constantemente conforme o garoto reorganiza seus pertences. Essa fusão entre o mundo fictício do livro e o ambiente real é executada de maneira brilhante.
O Escudeiro Valente se estrutura em capítulos e reinos temáticos, abrangendo florestas, montanhas, pântanos e reinos gelados, todos meticulosamente detalhados e dotados de identidade visual única. Um destaque seria a cidade de Ártia, cidade natal de Violeta, onde temos um centro artístico repleto de referências a ícones da arte como Mona Lisa, Vincent Van Gogh e Andy Warhol, tudo filtrado pela imaginação infantil. A riqueza desses detalhes é verdadeiramente impressionante.
Um outro destaque fica para a Montanha de Trarrg, lar de Batera. Este local presta uma grande homenagem ao rock’n’roll, com ratinhos roqueiros e símbolos de raios, complementados por uma trilha sonora que transita para um rock mais pesado durante a exploração. Cada novo capítulo renova o aspecto visual e o design, transformando cada momento em uma nova surpresa visual.
Contudo, o aspecto sonoro não alcança o mesmo nível de impacto. Embora a trilha sonora se adapte adequadamente a cada ambiente e fase, ela não se mostra tão memorável quanto a experiência visual. A música cumpre sua função, mas dificilmente será o elemento que mais impressionará os jogadores, contrastando com a excelência dos gráficos e da ambientação.
Gameplay
O Escudeiro Valente apresenta uma experiência de jogo dinâmica e variada, baseada em dois estilos principais de gameplay. O primeiro, o gameplay base, remete aos primeiros jogos de The Legend of Zelda, com uma perspectiva top-down. Neste modo, o jogador controla Pontinho executando uma variedade de ações como golpes de espada, ataques giratórios, saltos com impacto e rolamentos evasivos. A progressão do personagem é incentivada através de um sistema de coleta de itens que funcionam como moeda, permitindo a compra de melhorias para as habilidades do herói e o desbloqueio de novas artes para a galeria.
O jogo enriquece sua jogabilidade ao incorporar elementos de plataforma, divididos em seções 2D e 3D, cada qual com seus desafios únicos. As fases 2D fazem uso criativo de mecânicas inspiradas em clássicos como Super Mario Bros, desafiando o jogador a navegar por cavernas escuras ou realizar saltos precisos sobre obstáculos. Já no ambiente 3D, o jogo expande seus horizontes, oferecendo desafios que vão desde combates elaborados até exploração detalhada.
É importante ressaltar a criatividade na parte da exploração, em especial na parte 2D. Como estamos dentro da aventura de um livro, por muitas vezes a perspectiva do livro muda para o cenário caber dentro de cada página. É algo genial.
Adicionalmente, a transição entre os ambientes 2D e 3D em O Escudeiro Valente é executada de forma fluida e inovadora, acompanhando o movimento de Pontinho entre as páginas do livro e o mundo real. Esta mecânica cria uma fusão constante entre os dois estilos de gameplay, com Pontinho utilizando esboços e ilustrações espalhados pelo quarto de Sam para acessar diferentes áreas e progredir na narrativa.
Um dos aspectos mais fascinantes do jogo é a manipulação do livro, que introduz mecânicas únicas ao longo da jornada. Entre os primeiros poderes desbloqueados estão a capacidade de entrar e sair do livro e a habilidade de virar suas páginas, permitindo explorar outros cenários sob uma nova perspectiva. Adicionalmente, Pontinho pode inclinar o livro para mover objetos em seu interior, como bolas e pedras, auxiliando na resolução de quebra-cabeças.
O Escudeiro Valente também explora de forma criativa o conceito de manipulação de palavras. Determinadas passagens só podem ser desbloqueadas alterando palavras-chave no texto. Por exemplo, um obstáculo descrito como um “inseto grande” pode ser superado substituindo “grande” por “pequeno”, alterando a realidade do jogo e permitindo o avanço.
Essas mecânicas inovadoras, combinadas com desafios criativos, fazem de O Escudeiro Valente uma demonstração notável de originalidade. A diversidade de puzzles e as batalhas contra chefes são pontos altos adicionais, prestando homenagens a clássicos de várias gerações de videogames, desde títulos mais antigos como Punch-Out até referências a jogos contemporâneos. A integração dessas mecânicas à aventura constitui um dos maiores atrativos do jogo, surpreendendo constantemente o jogador com novas ideias e possibilidades.
O Escudeiro Valente vale a pena?
O Escudeiro Valente oferece uma experiência verdadeiramente encantadora, destinada a todos os jogadores em busca de uma aventura divertida e cativante. Embora não apresente uma narrativa revolucionária ou gráficos deslumbrantes à primeira vista, o jogo compensa com uma originalidade e carisma singulares. É evidente o cuidado e a dedicação investidos em cada detalhe, resultando em uma jornada aparentemente inocente, mas desafiadora, com duração aproximada de oito horas, variando conforme o tempo dedicado à exploração e resolução dos quebra-cabeças.
A cada nova fase, O Escudeiro Valente surpreende com mecânicas inovadoras e momentos genuinamente únicos, como a interação com objetos cotidianos transformados em elementos de gameplay, conferindo um toque especial à narrativa. O sistema de jogo é robusto e eficiente, com destaque para a excelente dublagem em português, que contribui significativamente para uma imersão mais profunda.
Contudo, a trilha sonora não alcança o mesmo patamar de excelência do restante da produção, representando possivelmente o único aspecto menos impressionante. Além disso, durante nossa experiência na versão para PC, encontramos alguns bugs que causaram pequenos contratempos, como a impossibilidade de virar as páginas do livro e falhas na mecânica de uma parte específica onde tinha uma mochila a jato, exigindo o reinício do jogo. É importante ressaltar que testamos uma versão pré-lançamento, ainda sujeita a ajustes e melhorias. Apesar desses pequenos percalços, a qualidade geral da experiência permanece intacta.
Em suma, O Escudeiro Valente promete conquistar a maioria dos jogadores com seu charme e diversidade de mecânicas. Para os entusiastas de videogames, o título certamente oferece uma gama de elementos apreciáveis. Portanto, recomendamos esta adorável aventura sem hesitação, confiantes de que proporcionará momentos memoráveis aos jogadores.
Essa análise/review de O Escudeiro Valente segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.
Um jogo feito com amor
Visual, ambientação e gráficos - 9.5
Jogabilidade - 9.5
Diversão - 10
Áudio e trilha-sonora - 7.5
9.1
Fantástico
O Escudeiro Valente promete conquistar a maioria dos jogadores com seu charme e diversidade de mecânicas. Para os entusiastas de videogames, o título certamente oferece uma gama de elementos apreciáveis. Portanto, recomendamos esta adorável aventura sem hesitação, confiantes de que proporcionará momentos memoráveis aos jogadores.