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Análise: Civilization 7

Mudanças ambiciosos e simplificações controversas marcam uma nova Era para a série

Após quase 10 anos desde o lançamento do Civilization 6, a Firaxis finalmente nos agraciou com a sétima iteração da icônica série de estratégia. Lançado em 11 de fevereiro de 2025, Civilization 7 traz uma abordagem renovada e, em muitos aspectos, revolucionária para a franquia que definiu o gênero 4X. Tivemos a oportunidade de muitas horas com o jogo graças a um código gentilmente cedido pela desenvolvedora, e agora posso compartilhar minhas impressões detalhadas sobre essa nova era de um clássico. Se você quer saber se o jogo é bom e vale a pena mesmo, confira a nossa análise completa de Civilization 7 abaixo:

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Uma Revolução na Progressão Histórica

A mudança mais radical e imediatamente perceptível em Civilization 7 é a divisão da progressão histórica em três grandes Eras: Antiguidade, Exploração e Moderna. Diferente das tradicionais eras históricas que simplesmente marcavam etapas de desenvolvimento tecnológico e cultural, essas novas Eras transformam fundamentalmente a jogabilidade e a estrutura do jogo.

O mais controverso é que, ao passar de uma Era para outra, você deve abandonar sua civilização atual e escolher uma nova, enquanto mantém seu líder. Assim, você pode começar como Grécia na Antiguidade, se tornar Ming na Era da Exploração, e terminar como França na Era Moderna. Essa mecânica claramente foi inspirada em Humankind, mas com uma execução que parece mais natural e contextualizada.

Em teoria, isso resolve vários problemas tradicionais da série. Primeiro, combate o famoso “efeito bola de neve”, onde uma civilização que começa bem tende a dominar o jogo do início ao fim. Segundo, adiciona variedade estratégica ao permitir que os jogadores adaptem suas escolhas conforme as condições do jogo mudam. Terceiro, cria uma sensação mais realista de evolução histórica, onde impérios ascendem e caem.

O grande problema é que, na prática, essa obrigatoriedade de mudança prejudica um dos elementos centrais que sempre definiram Civilization: a conexão emocional com uma civilização específica e o prazer de guiá-la através dos milênios. Há algo satisfatório em ver sua civilização começar com algumas cabanas e terminar com arranha-céus. Essa satisfação fica diluída quando você é forçado a abandonar sua civilização a cada Era.

Fora isso, cada transição de Era é marcada por uma crise – como uma praga ou invasão bárbara – que adiciona desafios narrativos interessantes, mas também pode frustrar jogadores que preferem uma experiência mais controlada e previsível.

Cidades, Vilas e um Império Simplificado

O gerenciamento da civilização também passou por mudanças radicais. A mais notável é a remoção completa dos construtores, um elemento característico da série desde os seus primórdios. Em seu lugar, as melhorias agora são criadas diretamente a partir dos assentamentos, usando população ou ouro.

A expansão territorial também foi repensada, com a introdução do sistema de Vilas. Agora, em vez de fundar novas cidades, você estabelece vilas que podem se especializar em diferentes funções: agrícolas, militares, comerciais ou de mineração. Estas podem eventualmente ser promovidas a cidades completas mediante investimento.

Esse sistema oferece interessantes decisões estratégicas sobre quais assentamentos desenvolver completamente e quais manter como vilas especializadas. No entanto, isso também representa uma simplificação significativa em relação à profundidade de gerenciamento de cidades dos jogos anteriores.

O sistema de distritos, que foi uma das grandes inovações do Civilization 6, foi substituído por áreas urbanas que podem conter dois edifícios da mesma Era. Esse sistema é mais intuitivo, mas também menos visualmente distintivo e estrategicamente complexo que seu antecessor.

De modo geral, essas mudanças tornam o gerenciamento de império mais acessível e menos tedioso, eliminando muito do micro gerenciamento que poderia se tornar repetitivo nos jogos anteriores. Porém, para veteranos da série que apreciavam esse nível de controle minucioso, o jogo pode parecer simplificado demais.

Combate, Comandantes e Conflitos

O sistema de combate recebeu aprimoramentos significativos, com destaque para as unidades Comandantes. Estes podem transportar outras unidades, permitindo que exércitos inteiros se movam com mais rapidez e eficiência. Os Comandantes são as únicas unidades que ganham experiência e podem ser promovidas, oferecendo diferentes árvores de habilidades.

Esta é uma solução elegante para o dilema entre “pilha de destruição” (todos os exércitos em um único hexágono) e “uma unidade por área” que a série tem enfrentado. Também reduz significativamente o tédio de mover dezenas de unidades individualmente durante conflitos de grande escala.

Os cercos agora exigem que os jogadores conquistem cada distrito fortificado de uma cidade, tornando as invasões mais estratégicas e demoradas. As unidades navais também ganharam importância, com a capacidade de capturar cidades costeiras e navegar por rios, abrindo novas possibilidades táticas.

No entanto, há um problema frustrante com a interface durante combates: quando você termina seu turno, todas as unidades inimigas se movem simultaneamente, e sua visão nunca é direcionada para o local de uma batalha quando suas unidades estão sendo atacadas. Isso transforma o início de cada turno em uma investigação para descobrir o que aconteceu enquanto você não estava olhando, basicamente um retrocesso significativo em termos de clareza da interface.

Diplomacia e Influência

A diplomacia em Civilization 7 introduz o conceito de Influência, um recurso que é acumulado a cada turno e pode ser gasto em ações diplomáticas. Este sistema cria um interessante jogo de poder entre as civilizações, onde sua capacidade de influenciar outros impérios depende diretamente de quanto “soft power” você consegue projetar.

Uma mecânica particularmente interessante é o Apoio à Guerra, que penaliza a felicidade e a capacidade de combate do oponente quando você consegue influenciar a opinião pública contra ele. Isso adiciona consequências reais para agressões injustificadas e torna o caminho militar mais nuançado.

No entanto, embora esse sistema seja conceitualmente sólido, a execução parece um tanto desconectada e impessoal. As interações diplomáticas carecem da personalidade e carisma que caracterizavam líderes de versões anteriores, e muitas vezes parecem transações puramente mecânicas em vez de negociações entre personalidades históricas.

Religião: Uma Ausência Notável

Uma das maiores decepções em Civilization 7 é o tratamento dado à religião. O que era um sistema robusto e gratificante em Civilization 6, com suas próprias unidades, mecânicas e condição de vitória, foi drasticamente reduzido.

A religião agora está confinada principalmente à Era de Exploração, sem a possibilidade de vitória religiosa. Os missionários ainda existem para converter populações, mas o combate teológico foi removido, transformando a conversão religiosa em um processo muito mais passivo e menos estratégico.

Toda essa simplificação parece claramente preparar o terreno para uma futura DLC focada em religião, que é uma prática que infelizmente se tornou comum na indústria, mas que é particularmente decepcionante quando remove conteúdo que já estava bem desenvolvido em jogos anteriores.

Progressão, Narrativa e Caminhos de Legado

Um dos aspectos mais interessantes de Civilization 7 é o sistema de Narrativa Emergente e Caminhos de Legado. À medida que seu império se desenvolve, você se depara com escolhas narrativas que definem seus valores e prioridades, com consequências que afetam o jogo.

Os quatro Caminhos de Legado – Cultural, Econômico, Militar e Científico – oferecem objetivos opcionais em cada Era, recompensando diferentes estilos de jogo e permitindo que os jogadores adaptem suas estratégias ao longo do tempo.

O sistema adiciona uma camada de narrativa e progressão durante o jogo que era ausente nas versões anteriores. O problema, entretanto, é que ele também cria uma preocupante inclinação para mecânicas “live service”, com desbloqueios e recompensas que parecem estranhas para uma franquia tradicionalmente focada em experiências de jogo completas e autônomas.

Apresentação Visual e Sonora

Em termos de apresentação, Civilization 7 é fantástico. Combinando o realismo detalhado de Civilization 5 com o colorido vibrante de Civilization 6, o jogo alcança um equilíbrio visual que é simultaneamente atraente e informativo.

As unidades e edifícios são modelados com incrível atenção aos detalhes, e as animações de combate são excelentes. Os cenários de transição entre Eras e as cutscenes de construção de Maravilhas também são um destaque.

Além disso, a trilha sonora merece destaque especial, mantendo a tradição de excelência musical que sempre caracterizou a série Civilization. Cada civilização possui temas musicais distintos que evoluem ao longo das Eras, criando uma identidade sonora que realmente te transporta para diferentes períodos e culturas. As melodias calmas e contemplativas durante a exploração do mapa contrastam perfeitamente com composições mais enérgicas durante conflitos, estabelecendo um certo ritmo para o jogo.

É interessante, inclusive, como a música contribui para o famoso efeito “só mais um turno” da série, com arranjos relaxantes que te embalam naquele estado de fluxo onde horas passam sem que você perceba. As transições suaves entre temas diferentes mantêm tudo fresco mesmo após centenas de turnos, algo crucial em um jogo onde partidas frequentemente ultrapassam dez horas.

A narração de Gwendoline Christie (conhecida por seu papel como Brienne de Tarth em Game of Thrones) também é muito boa, embora seja curta devido aos textos simplificados. Sua voz imponente traz peso às citações históricas e momentos significativos, contribuindo para a sensação de estar guiando uma civilização através de momentos cruciais da história.

Interface: Menos é Mais?

A interface do usuário é, infelizmente, um dos pontos fracos de Civilization 7. Em sua busca por acessibilidade e limpeza visual, os desenvolvedores removeram informações cruciais ou as enterraram em submenus, tornando difícil acessar rapidamente dados importantes.

As dicas de ferramenta são inconsistentes, muitas vezes apresentando informações incompletas ou confusas. Os ícones são minúsculos e visualmente similares, dificultando a distinção rápida entre diferentes notificações. Ainda, as telas de estatísticas são quase inexistentes, e os dados disponíveis são desorganizados e difíceis de interpretar.

Esta abordagem minimalista contradiz a natureza complexa e rica em informações do jogo, tornando-o curiosamente menos acessível para novatos e mais frustrante para veteranos. É uma área que claramente precisa de atenção em futuras atualizações.

Live Service: Uma Direção Preocupante

Um aspecto que gera preocupação é a clara inclinação para um modelo de “jogo como serviço”. Metade das civilizações estava indisponível no início porque eu não havia “desbloqueado” elas através de desafios específicos, e a tela de novo jogo sugere que é necessário grind para obter um bônus.

Esta abordagem, combinada com o fato de que certos líderes já estão bloqueados atrás de DLCs logo de cara, sugere uma estratégia de monetização agressiva que parece desalinhada com o espírito tradicional da franquia.

Embora seja compreensível que a Firaxis queira capitalizar sobre o sucesso dos seus jogos, a implementação atual parece favorecer os lucros em detrimento da experiência do jogador, o que é decepcionante para uma série tão respeitada.

Multiplayer: Promessas Não Cumpridas

Um dos grandes atrativos anunciados para Civilization 7 era o suporte completo a crossplay entre plataformas desde o lançamento. Infelizmente, essa promessa não se concretizou. Como jogador de PC tentando jogar com amigos no PS5, encontrei incompatibilidades constantes que tornaram o crossplay impossível.

Este problema é particularmente decepcionante considerando que o multiplayer tem sido historicamente um dos pontos fracos da série, e a promessa de jogo multiplataforma era uma solução muito aguardada. Aparentemente, as diferenças entre versões continuarão a ser um obstáculo por algum tempo, privando muitos jogadores da experiência multiplayer completa.

Conclusão – Análise: Civilization 7

Para concluir esta análise, eu posso dizer tranquilamente que Civilization 7 é, simultaneamente, uma evolução ambiciosa e um passo hesitante para a franquia. Por um lado, introduz mecânicas inovadoras que resolvem problemas de longa data da série; por outro, simplifica excessivamente sistemas que muitos fãs apreciavam e adota práticas de monetização preocupantes.

É importante lembrar que cada nova iteração de Civilization tradicionalmente passa por um ciclo de expansões e atualizações que eventualmente transformam o jogo base em algo muito mais robusto e completo. Civilization 5 e 6 eram experiências radicalmente diferentes em seus lançamentos comparados às suas versões finais com todas as expansões.

Nesse sentido, Civilization 7 oferece uma base sólida sobre a qual construir. As Eras, os Caminhos de Legado e o sistema de Influência são conceitos promissores que, com refinamento, podem elevar a série a novos patamares.

No entanto, a direção para um modelo de serviço ao vivo e a simplificação de sistemas complexos sugere uma mudança de filosofia que pode alienar os fãs de longa data. Só o tempo dirá se a Firaxis conseguirá equilibrar acessibilidade com profundidade, e monetização com valor.

Por enquanto, Civilization 7 representa uma reimaginação ambiciosa, mas imperfeita, de uma das séries mais importantes na história dos jogos de estratégia. É uma jornada que vale a pena experimentar, mas que talvez ainda precise de algumas expansões para realmente conquistar seu lugar entre os grandes.

Essa análise de Civilization 7 segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.

Tem potencial

Nota - 7.5

7.5

Bom

Civilization 7 reinventa a série com um sistema inovador de Eras e mecânicas simplificadas, mas sacrifica parte da profundidade que os fãs veteranos apreciam. Apesar das mudanças controversas como a troca obrigatória de civilizações e uma interface problemática, o jogo oferece uma base sólida que, com as futuras expansões, tem potencial para evoluir em algo verdadeiramente especial.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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