Análise: Resident Evil 3 poderia ter sido mais (Sem spoiler)
Resident Evil 3 chega logo após o sucesso de Resident Evil 2 Remake. Será que ele terá o mesmo sucesso?
Resident Evil 3 levou os fãs a loucura quando foi anunciado. Depois do sucesso do primeiro remake da série clássica, a barrinha da Capcom subiu e agora queremos tudo que eles possam trazer dos antigos para a nova RE engine. Mas claro, a produção precisa se cuidadosa, pois estamos falando de jogos clássicos da série e do gênero survival-horror. Confira nossa análise.
September 28th, daylight…
Se você começou a acompanhar a série Resident Evil somente pelos jogos mais recentes, Resident Evil 3 se passa antes e depois de RE 2. Se nos basearmos no jogo clássico, até a torre do relógio e o desmaio de Jill temos o jogo antes de seu predecessor. Leon e Claire fazem sua bagunça e quando Jill acorda para continuar sua aventura, nossos protagonistas da aventura anterior já fugiram da cidade. Apesar da famosa frase ter ficado de fora desta versão, detalhes de calendário e conversa entre os personagens nos situam no dia o qual estamos e em quanto tempo se passou.
A aventura de Jill começa em seu apartamento após o vírus sair do controle e a cidade começar a sofrer com as consequências das ações da Umbrella. Logo que você tem o comando da personagem (de maneira completa), verá que temos aqui os mesmos comandos e dinâmica de RE 2 Remake. Terceira pessoa, mira livre usando o analógico e tudo mais.
Uma novidade para o jogo é o botão de esquiva. Apertando aleatoriamente você fará Jill dar uma grande passada pro lado para fintar zumbis e inimigos. Porém, se usado corretamente e no momento certo, a esquiva se tornará um desvio rápido (acompanhado de um som) e se você mirar logo após o jogo ficará em câmera lenta por poucos segundos para você mirar no ponto fraco de seu inimigo. Jogando com Carlos a esquiva vira um soco ou ombrada no inimigo. A esquiva é sua maior aliada e, caso você fique profissional na mecânica, irá te poupar muita vida e tempo.
Temos aqui então um shooter em terceira pessoa, com um gerenciamento de recursos já conhecido da franquia e aquela velha indecisão de “o que eu devo levar comigo?” sempre que um item aparece. Temos três dificuldade iniciais: Fácil, padrão e Difícil. Para os gamers mais usuais, o padrão será a escolha mais assertiva apesar de ainda ser fácil para os jogadores um pouco mais hardcore ou que jogaram bastante o Remake do 2. O modo mais fácil, não só te ajuda dando menos dano aos inimigos, como você também terá recuperação de vida e um fuzil de assalto ao seu dispor (no RE3 clássico também tinha essa opção).
Então, se quiser ter uma experiência realmente assustadora e que colocará sua estratégia e habilidades motoras em prova, vá no modo mais difícil disponível no jogo e prepare-se para os Hitkills e um desafio a altura da série.
Uma Raccoon City de respeito
Logo que você chegar a Raccoon City o jogo irá te chamar atenção por sua beleza, fidelidade e detalhes. Perdi a conta de quantas vezes eu olhava por uma barricada ou para os topos dos prédios para ver alguma coisa que estava acontecendo. Gritos, pessoas correndo tentando se salvar ou recém vitimas. Você realmente sente que está em uma tentativa de evacuação dos civis ou dos mais atrasados, pelo menos. Testamos o jogo em um PS4 PRO e uma TV 4K com HDR. Tudo estava com muita qualidade de gráficos e performance – senti quedas de FPS somente com zumbis em uma distancia considerável, coisa que já tinha pontuado na análise do Resident Evil 2 Remake.
Temos a sensação que vamos ser cercados por zumbis a todo momento (e irão tentar) e eles podem sair de basicamente qualquer lugar! Vitrines de lojas, de dentro de carros, embaixo do carros, caindo de escadas de emergência, atrás de latas de lixo – não foi uma, nem duas vezes que fui surpreendido por zumbis pé-de-pano ferrando com a minha play.
A trilha sonora do jogo é ótima e acompanha muito bem os acontecimentos e momentos de tensão. Até mesmo quando você está no inventário ou lendo um arquivo, o ambiente consegue ser ouvido e te deixará tenso em alguns momentos (eu até mesmo li alguns textos bem rápido, para voltar ao jogo e dar uma olhada ao meu redor).
Uma “nova” mecânica de interação com ambiente está disponível em Resident Evil 3. Você pode atirar em barris vermelhos (clássicos) para explodir inimigos que estão perto ou atirar nos geradores para paralisar quem estiver perto. Este segundo sendo usado em momentos de evento do jogo e lutas contra Nemesis.
Com isso temos uma ambientação que impressiona, com lojas super bem feitas, easter eggs da Capcom e cultura nerd em vários pontos da cidade, além de detalhes, jornais e situações que precederam o momento que você está vivendo no jogo. Resident Evil 3 é um show de detalhes, qualidade gráfica e imersão.
Enredo e ritmo de jogo
Após jogar por algum tempo, uma coisa que começou a me despertar a atenção foi quanto ao ritmo que o enredo e os acontecimentos estavam sendo levados. Tudo acontece muito rápido – Nemesis aparece mais rápido que no clássico (ou que Mr. X no 2), os mercenários, encontros e eventos. Isso me deu uma sensação de “correria” que funcionou bem no início do jogo e para servir de motivação para você se meter no meio da cidade e do caos e ninguém agora vai me amedrontar. Mas que, depois que me peguei pensando sobre isso, tirou um pouco do meu foco no jogo e deu inclusive a sensação de que o jogo seria muito linear e curto (mesmo tendo um tempo padrão para os jogos mais atuais e jogos clássicos).
Além disso, momentos importantes do jogo clássico foram deixados de lado. Como esta é uma análise sem spoilers, não vou falar o que ficou de fora. Mas acho importante pontuar que: Tivemos um grande ganho na questão de gráficos, jogabilidade e ambientação – porém – tivemos uma perda considerável de acontecimentos e no enrendo do jogo clássico. Lugares que não visitaremos, cenas clássicas que não reviveremos no remake.
Ainda sobre o enredo e escolhas para o jogo, temos os inimigos. Resident Evil 3 clássico era cheio e tipos de inimigos diferentes, neste remake a Capcom trouxe vários deles mas não todos. Não irei me prolongar pois a introdução de alguns é muito interessante e ler os arquivos que antecedem os mesmos dá todo um clima para o jogo. Porém faço questão de deixar a indagação sobre um: Sério que é tão difícil fazer aranhas gigantes? Mais uma vez elas ficaram de fora de um remake.
Puzzles e Save Points em Resident Evil 3
Uma coisa que eu senti muita falta no Resident Evil 2 Remake e mais ainda em Resident Evil 3 foi da densidade de puzzles no jogo. Resident Evil 3 tem tão poucos puzzles que eu preciso me esforçar um pouco pra lembrar quais foram. O jogo abusou bastante das chaves/itens de acesso e lockpicks, mas deixou de lado algo clássico: as portas que você passa em frente e só consegue abrir depois de algum tempo de jogo, puzzles de verdade, que façam você pensar, quebrar a cabeça, ficar bolado e tentar sair colocando qualquer coisa pra ver se funciona. Não temos em Resident Evil 3 um puzzle como o das peças de xadrez de RE2 Remake ou até mesmo do clássico a que se refere. Os puzzles praticamente foram esquecidos – e isso é uma pena e uma perda de conteúdo para o jogo.
Para fazer esta análise, eu terminei o jogo na dificuldade padrão, (joguei pouca coisa no modo difícil, após zerar), além de achar a quantidade de recursos bem generosa, também fiquei impressionado com a quantidade de salas de save durante o jogo. Por falta dos puzzles e chaves diferentes para alguns lugares, não era comum eu ficar longe de um ponto parar salvar o jogo. Com isso, por mais que estivesse em meio a uma cidade, tudo parecia muito próximo, rapidamente eu estava de volta pro lugar onde morri ou que deveria ir. Eu realmente senti falta do corriqueiro vai e vem dos jogos clássicos da série e do medo de morrer e ter que voltar um longo caminho – mesmo sem estar me preocupando em tirar um ranking alto.
Nemesis – “Staaarss”
Nemesis é um famoso vilão e BOW (Bio-organic Weapon) de Resident Evil. O Tyrant faz parte do experimento Nemesis T-02 e tem o objetivo de eliminar os membros “STARS” que estava no incidente da Mansão (RE 1), que por este motivo já tinham ciência dos planos da Umbrella.
Nemesis é um inimigo rápido e que, diferente de Mr. X, tem a habilidade de usar armas de grande porte, como lança-chamas e lança-míssil, trazendo assim uma nova dinâmica para os jogadores. Além disso ele também pode infectar zumbis (como visto na demo), dar pulos sobre-humanos, usar seus tentáculos para te trazer pra perto (no melhor estilo Get Over Here!) e, claro, te encher de porrada no processo.
Nemesis segue tudo que falamos aqui até agora: modelo super bem feito, imponente, passadas e sons assustadores, um grande desafio quando aparece e cheio de diferente formas assim como no clássico. Mas, sofre dos mesmos problemas. O ritmo do jogo faz sua transformação ser rápida demais (para o gosto de um fã), principalmente de sua primeira forma. Fiquei com vontade de ver mais do Nemesis neste estágio inicial, mais estrategista e menos “sou monstrão, só quero te engolir”.
Apesar de ser mais agressivo, Nemesis é bem menos inconveniente que Mr.X em RE2 Remake. O criatura não está sempre atrás de você, só em momentos específicos do jogo, nem entra em todos os lugares. Salas de save estão seguras assim como outros estabelecimentos da cidade (ele inclusive fica te esperando pacientemente como você pode ver na foto abaixo).
Se você já jogou o Resident Evil 3 clássico, já sabe, mas para os novos jogadores, nem sempre correr do Nemesis é uma boa escolha. O jogo irá te recompensar caso você gaste suas balas e corra o risco de enfrentar a arma biológica de frente. Sempre que derrubado, Nemesis irá deixar cair uma caixa que contém alguma melhoria para as armas que você tem. O jogo inclusive possui conquistas e recompensas para quem pegar todas as peças (assim como todos os files, abrir todos os armários e cofres e por aí em diante).
A dinâmica do monstro agrada e trás um bom desafio para colocar suas habilidades em prática, porém senti falta das aparições surpresa, quebrando uma parede ou janela, sem precisar parar o jogo para ver uma cena – algo mais fluido e exigindo pensamento rápido do jogador. Como era feito em momentos do jogo clássico.
Resistance (em construção) Multiplayer de Resident Evil 3
Ao comprar Resident Evil 3, os jogadores irão ganhar a parte Multiplayer (isolada do game), Resistance. O jogo virá como uma instalação separada.
Em Resistance você deverá jogar como um dos quatro sobreviventes/cobaias e outro jogador será o Mastermind, o vilão que testará as habilidade e trabalho em equipe dos seus adversários. Como sobrevivente você deverá derrotar inimigos e abrir portas antes que morra ou que o tempo acabe. Enquanto que como Mastermind você deverá colocar zumbis, armadilhas, fechar portas e até mesmo controlar Mr. X contra o quarteto.
O jogo possui um tutorial, super importante para entender o jogo, além de missões diárias e modo offline contra a I.A.
Como não conseguimos testar muito este modo pois o jogo ainda não foi lançado, estamos deixando como “em construção” e atualizaremos assim que possível.
Conclusão – Resident Evil 3
Resident Evil 3 com certeza está de volta. O jogo agrada em todos os aspectos técnicos, mesmo no final da geração, e traz uma nova realidade e visão do clássico em torno de Raccoon City. Com uma ambientação que impressiona no final da geração (de consoles) e uma ótima mecânica de recursos, o jogo irá agradar velhos e novos jogadores da série. A escolha de enredo e as decisões tomadas pela equipe de desenvolvimento podem gerar questionamentos aos fãs mais nostálgicos da franquia, que gostariam que o remake aumentasse o universo e mostrasse novos acontecimentos.
Além do fator Speed Run, sempre presente, outro motivador para o replay do jogo é a loja que se abre após você zerar a primeira vez. Lá você encontrará roupa clássica, novas armas, modificadores e armas com munições infinitas. Para conseguir dinheiro você deve fazer as conquistas da lista de recompensas, jogar o jogo.
Este Remake talvez seja o jogo mais cinematográfico que eu já vi da série. Com cenas de ação, dublagem e explosões dignas de um longa-metragem, Resident Evil 3 tem conversas interessantes e personagens bem criados para a trama. Isso somado a mecânica de combate sólida do jogo, nos dá o que é necessário para seguir com a compra e testar o remake.
Com isso temos mais um Resident Evil pra conta. Veja a cena pós-crédito e vamos para a internet perguntar: Quando sai o próximo?
Resident Evil 3
Visual, ambientação e gráficos - 9.7
Jogabilidade - 8.5
Diversão - 8
Áudio e trilha-sonora - 8
Enredo e execução de eventos - 7
8.2
Ótimo!
Resident Evil 3 chega com um grande hype e, como sempre, uma difícil tarefa de agradar os fãs exigentes da série. Com lindos gráficos e uma ambientação que impressiona, RE3 segue a jogabilidade e dinâmica de inventário que fez sucesso em seu antecessor. Nemesis aparece muito bem por todo o jogo, trazendo desafios ao jogador. Porém, por conta de um ritmo acelerado da trama e eventos do jogo, se perde uma oportunidade de tornar o remake em algo até mesmo maior que o jogo clássico.
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