Análise: Yakuza: Like a Dragon chega chutando a porta
"Receive You" esse jogão!
Yakuza: Like a Dragon é a nova fase da consagrada franquia Yakuza, trazendo um novo protagonista, permitindo que o saudoso Kiryu Kazuma finalmente consiga descansar das tretas do clã Tojo.
Contudo, é natural que os fãs fiquem preocupados quando um jogo promete trazer diversas inovações. Será que o novo protagonista, Ichiban Kasuga, consegue manter esse legado firme?
A análise foi feita no Playstation 5 com código cedido pela Sega por meio da Agência Masamune. O jogo está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.
Ichiban pode não ser um “dragão de dojima”, mas ele é fantástico.
Diferente do que vemos na história de Kiryu Kazuma onde o próprio é O CARA da máfia japonesa e que faz qualquer um tremer nas bases só de ouvir seu título “Dragão de Dojima”, Ichiban é bem fora da curva.
Em Yakuza: Like a Dragon, acompanhamos a história de Kasuga Ichiban que é o membro da família Arakawa, uma subsidiaria do clã Tojo. Ele não é um yakuza de destaque, sendo apenas alguém encarregado de fazer cobranças e cuidar do filho debilitado de seu patriarca.
Após um acontecimento desastroso, Ichiban precisou tomar para si um crime que o próprio não cometeu e ficar em cana por 19 anos. Sem reclamar, ele aceitou seu destino com a promessa que iria sair da prisão e reencontrar Masato Arakawa, o seu chefe e também a pessoa que ele considera um pai e idolatra como um rei.
Após cumprir pena, muita coisa mudou e o clã Tojo caiu devido a uma traição vinda da família Arakawa. Sem entender o que diabos estava acontecendo, Ichiban busca por respostas, porém, acaba se envolvendo numa situação muito maior do que poderia imaginar.
No decorrer da história somos presenteados com inúmeros personagens novos como o sem-teto Nanba, o detetive demitido Adachi e a acompanhante Saeko.
Cada personagem tem seus estímulos para acompanharem Kasuga e, de alguma forma, todos estão conectados com a traição da família Arakawa.
A história é repleta de momentos emocionantes, batalhas épicas, alívios cômicos e situações absurdas.
Yakuza: Like a Dragon abraçou de vez o estilo RPG
O maior medo dos fãs envolvendo o novo game da franquia era a transição de um estilo de combate de ação passando para o aclamado RPG de turnos, fazendo com que muitos duvidassem se iria dar certo ou não. Afinal, Yakuza é repleto de batalhas sensacionais envolvendo apenas duas pessoas e seus punhos.
A grande verdade é que a série já vinha caminhando para esse rumo, já que os jogos apresentavam diversas características herdadas de RPG como level up, equipamentos, progressão de personagem, forma que interagia com os NPCs e alguns momentos que lembravam simbolicamente as famigeradas dungeons.
A maior diferença é que Yakuza: Like a Dragon abraçou de vez o estilo, adotando um sistema de batalha que lembra, de longe, o de Persona 5 e a adição de party para auxiliar Ichiban em sua jornada.
O mais divertido é ver como conseguem adaptar as lógicas de RPG no jogo de forma que tudo pareça natural. Por exemplo, nos jogos medievais podemos obter a lendária espada que é destinada ao herói… Aqui também temos esse acontecimento, mas invés de ser uma espada temos um polêmico taco de baseball cravado no chão e que apenas o protagonista foi o escolhido para o brandir.
Não existe dragões no mundo real, então invés disso a batalha vem a ser contra um oponente utilizando trator ou máquinas de demolição.
Jobs e quests
Como todo bom e velho RPG, jobs e quests não poderiam ficar de fora de Yakuza: Like a Dragon, certo?
Aqui também temos uma adaptação disso, pois as missões em primeiro momento são praticamente serviços para um Ichiban desempregado em busca de sustento. Posteriormente, ele descobre algo chamado “Part-Time Hero” que é um aplicativo bem ao estilo GetNinjas, onde a pessoa pede ajuda e um “hero” corre para o salvamento.
Vale lembrar que as “sub stories” ainda existem e servem como sub quests também. Elas são importantes para adquirir invocações, que ironicamente se baseia num outro aplicativo de celular que permite convocar alguém para ajudar no combate. Os efeitos são variados e vão desde um ataque destruidor até buffs e debuffs.
Os jobs/classes, por sua vez, também tem ligação com a busca por emprego, pois representa as aptidões de cada personagem para conseguir vagas no concorrido mercado de trabalho. Ficou meio brisado? Bom, essa é a explicação dada.
Cada personagem da party tem inúmeros jobs e você pode alternar entre eles como se estivesse atualizando seu currículo. Com cada job novo, uma seleção de habilidades é disponibilizada e liberada de acordo com o seu “rank up” de trabalho.
Em outras palavras, no começo Ichiban é da classe Freelancer. Quando ele consegue o taco de baseball se torna da classe Hero. Porém, você pode mudar ele para classe cozinheiro, dançarino, rockeiro e etc…
Isso não interfere na história, mas muda radicalmente o gameplay de cada personagem, já que alguns jobs são focados em suporte, “magia”, pancadaria e etc.
Complexo na medida certa
Algo que afasta jogadores de alguns RPGs é o nível de complexidade em seus sistemas, obrigando que a pessoa precise realizar um mestrado em magias e um doutorado em vantagens e desvantagens.
Felizmente, Yakuza: Like a Dragon herdou as características de JRPG e sua complexidade se baseia em saber que um job terá vantagem sobre outro devido ao estilo de ataque ou o elemento que o golpe carrega.
Alguns inimigos levam dano contra armas cortantes, outros tem mais resistência. Do mesmo modo que alguns são mais resistentes a longo alcance, enquanto outros sofrem mais dano de projéteis.
No game também há “magias” que são adaptadas pro mundo real. Nanba é um ex-enfermeiro, então ele consegue usar habilidades de cura.
Sabe aquela magia que deixa os personagens envenenados? Ele é capaz de usá-la ao soltar seu bafo de mendigo no oponente. Consequentemente, também há as famigeradas magias elementares que invés de termos aqui coisas como fireball ou water shot, são adaptadas para jato de bebida alcoólica ou assoprar o fogo de um isqueiro em alguém.
Sistema de batalha de Yakuza: Like a Dragon
Já mencionei algumas coisas sobre os sistema de batalha, mas falando de forma mais aprofundada temos um clássico RPG de turnos da forma que o Ichiban gosta (ele é fanboy de Dragon Quest e deixa isso bem claro no decorrer do jogo).
Temos uma opção para ataque normal que é modificado de acordo com o job que seu personagem possuir, onde alguns fazem hit único e outros multi-hit. Uma opção para defesa, outra para habilidades especiais, fugir e “mais”. Essa última opção dá novas escolhas como utilizar item ou fazer uma invocação.
Não temos quadrinhos ou noção das áreas, já que o mapa do combate é “aberto”, respeitando o cenário onde o encontro com o inimigo aconteceu. Se for na rua, terá carros buzinando, postes e árvores para atrapalhar. Se for num ambiente fechado, pode ser que alguma mobilia esteja no caminho.
Qual o motivo disso?
Muitas coisas do cenário podem ser aproveitadas. De acordo com o obstáculo que estiver entre você e o seu alvo, o personagem vai chutar o objeto em direção do inimigo para garantir um hit adicional. Se tiver uma bicicleta próxima do alvo, Ichiban vai utilizá-la como arma para espancar sem dó o seu inimigo.
Existe golpes em áreas, mas pelos personagens estarem em constante movimento acaba sendo necessário ter uma noção de espaço para conseguir potencializar a sua ofensiva.
Além disso, uma característica marcante de Yakuza são os seus “quick time event” no momento em que Kiryu Kazuma utiliza os seus golpes especiais. Isso não ficou de fora de Like a Dragon, já que a maioria das habilidades possuem quick time para ampliar o dano.
Mini-games não poderiam faltar
Se lembra do meme “o mundo está sendo destruído, mas vou fazer um side quest de colher flores?”, então Yakuza é um perfeito exemplo disso.
Os mini-games não estariam de fora de Like a Dragon, principalmente agora que temos a cidade de Yokohama como playground. Atividades clássicas como o karaokê e administração de um estabelecimento continuam fazendo parte do portfólio do game, contudo, houve adições inusitadas como o Dragon Kart.
Esse, sem dúvidas, é o mini-game que merece maior destaque, pois aqui temos uma clara paródia de Mario Kart aos moldes de Yakuza. Ichiban corre num kart contra diversos oponentes em copas (três no total), onde as pistas exigem que saiba fazer a famigerada derrapada e, além disso, há diversos itens pelo percurso para auxiliar o jogador e atrapalhar os oponentes.
Detalhe: Invés de cascos de tartaruga, temos metralhadoras e bazucas.
Gráficos e áudio de Yakuza: Like a Dragon
Utilizando a mesma engine gráfica utilizada em Yakuza 6, Yakuza Kiwami 2 e Judgment, aqui temos uma utilização “inovadora” da própria, já que os gráficos estão com uma coloração mais viva. Diferente do que vimos antes, onde a paleta de cores tinha um tom mais opaco.
Os gráficos no geral estão bastante satisfatório, ainda mais se levar em conta que o game foi originalmente lançado em 2019 para Playstation 4 no Japão. A versão para a nova geração nos contempla com o upgrade de gráficos em 4k e 60FPS fixos, porém, sem ray tracing.
Ainda assim, o jogo consegue se destacar por sua beleza onde podemos ver cenários construídos com inúmeros detalhes e efeitos ricos, deixando Yokohama bastante imersiva. Algo que ajuda nisso é o seu áudio muito bem trabalhado. Pude jogá-lo com o headset próprio do Playstation 5 e garanto que o áudio 3D deixou tudo ainda melhor, principalmente em alguns momentos que eu literalmente sentia como se os sons estivessem ocorrendo em minha vida.
A OST do game também merece palmas. Não consegui ver nenhum defeito nela, principalmente por ser tão marcante. Em especial a música Receive and Turn You é SENSACIONAL!
Para finalizar esse tópico, depois de inúmeros títulos finalmente Yakuza retornou a ter dublagem em inglês. O elenco de dubladores foi bom, fazendo jus para uma tão aclamada franquia, contudo, Yakuza é um jogo para ser aproveitado com a dublagem original.
Legenda em português
Outro fator muito positivo em Yakuza: Like a Dragon é que o jogo veio com legendas em português do Brasil, sendo muito mais acessível aos fãs de Yakuza e até mesmo servindo para atrair novos jogadores.
A tradução ficou ótima, trazendo uma familiaridade maior a nossa forma de comunicação e lembrando vagamente a dublagem de Yu Yu Hakusho com alguns termos adaptados para o nosso dia a dia.
Realmente foi satisfatório ver uma das minhas franquias favoritas de todos os tempos está com os textos em meu idioma.
Para não ser fanboy alucinado
Yakuza: Like a Dragon se mostrou um jogo incrível, mas preciso ser justo e não deixar o meu lado fanboy falar mais alto. Há certas coisas que me incomodam de leve.
Em alguns momentos da batalha ocorre do personagem ficar enganchado em algum obstáculo do cenário, fazendo com que ele ande em linha reta tentando “ultrapassar” aquilo que o impede. Só depois de alguns segundos que ele vai dar a volta.
Tem uma paródia de Pokémon chamada Sujimon, onde os “sujimons” são pessoas perigosas. E toda vez que derrota um deles vai parar na sujidex. Quando começa essa parte do game, você pode optar entre o sujimon vermelho, azul ou verde. Eu, iludido, achei que era para utilizá-lo como um tipo de pokémon. Porém, na verdade foi para meter a porrada no meliante.
Acredito que poderiam ter implementado batalhas de sujimons bem ao estilo Pokémon de ser.
Conclusão
Yakuza: Like a Dragon é um RPG maravilhoso que reforça o quanto RPGs de turno ainda conseguem se renovar e inovar. Essa nova fase da série chega com pé na porta e mostra que esse universo do jogo tem muito mais para contar além das aventuras de Kiryu.
Pode ter uma ou outra coisa que daria pra ser melhor, porém, isso não trilha o brilho dessa obra prima.
Se tiver um Yakuza: Like a Dragon 2 já quero em minha mesa!
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Yakuza: Like a Dragon é o suprassumo dos RPGs
Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 10
Diversão - 10
Áudio e trilha-sonora - 10
Narrativa - 10
10
Quase perfeito
Yakuza: Like a Dragon é um grande RPG com tudo que tem direito. Sendo uma homenagem a todas as séries clássicas e seus fãs. Além disso, consegue mesclar perfeitamente o estilo com as características marcantes de Yakuza, sem perder a sua essência.
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