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Análise: filme Mortal Kombat erra de novo, 26 anos depois

Eu sou apaixonado pela franquia Mortal Kombat desde o lançamento do segundo título em 1993. De lá para cá eu joguei todas as edições, assisti todos os filmes e consumi diversas outras obras deste universo. O primeiro filme chegou em 1995 e acabou sendo um desastre, para minha tristeza. Para piorar, 26 anos depois de lançarem inúmeros jogos, filmes, livros etc., os produtores erraram de novo. Entenda nesta análise como o filme Mortal Kombat (2021) falha em quase tudo o que tenta.

Mortal Kombat estreou na HBO Max no dia 23 de abril e chegará aos cinemas brasileiros no dia 13 de maio de 2021.

Entre realismo e fantasia

Um grande dilema que produtores, diretores e escritores tem que enfrentar ao adaptar um game é a escolha entre realismo ou fantasia. O realismo apela mais para o público que não é fiel ao game, enquanto que ao abraçar a fantasia o filme tende a ser mais fiel ao público já estabelecido. Mortal Kombat tenta mais uma vez, assim como o filme de 1995, uma abordagem realista. Mas o roteiro não sustenta as devidas explicações. Ou seja, entre o realismo e a fantasia o filme se perdeu, de novo.

As cenas iniciais ditam o tom realista. Hanzo Hasashi (Scorpion) vivencia o massacre de seu clã e sua família por Bi-Han (Subzero), que o mata em seguida. Hanzo jura vingança antes de se entregar à morte. Séculos depois, Cole Young, um inadvertido descendente de Scorpion, é contatado por Jax que pesquisa a existência de um torneio lendário chamado Mortal Kombat. No meio disso tudo, Subzero ressurge para dar fim à linhagem de seu antigo rival a mando do feiticeiro Shang Tsung. Este último quer matar os escolhidos do plano terrestre para garantir sua vitória antecipada do Mortal Kombat.

Parece interessante, se fosse devidamente trabalhado. Tudo acontece em questão de poucos minutos e de forma completamente aleatória. Cole, que era apenas um ser humano qualquer, trata tudo com tamanha naturalidade que parece que ele apenas encontrou uma desavença do ensino médio. A partir daí a realidade sucumbe à fantasia de forma bizarra. Um Kano sequestrado por uma razão e de uma forma quem ninguém explica direito, aceita se juntar ao time por uma quantia de dinheiro. Os mocinhos o aceitam sem desconfiar do rapaz. Ele surge com um contato que tem um avião e leva todo mundo… sim, esse é o absurdo desenrolar dos fatos e só piora daí pra frente.

Round 1, Fight !

Por outro lado, o filme entrega boas lutas. Principalmente a primeira e a última, elas abrem e fecham o filme com chave de ouro. As coreografias são incríveis, e os efeitos visuais servem de delicioso recheio. Além disso, Mortal Kombat tem muito ataques especiais dos nosso personagens queridos e muitos fatalities. Sobre esse serviço aos fãs, o filme cumpre o que prometeu.

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Além das lutas, o filme mant;em um pocuo da estética dos últimos jogos, com uma ambientação mais colorida e muito sangue, muito mesmo. A estética dos MK atual está presente em praticamente todos os aspectos do filme, desde a indumentária dos persongens até os cenários e localidades por onde os personagens passam.

Por fim, o filme também é recheado de referências aos jogos da franquia. É possível ver isso em falas como Test Your Might, um dos desafios clássicos que existe desde o MK 1, através de trejeitos de personagens, objetos dos cenários e, é claro, menções a outras pessoas que não estão no jogo.

Lorde Raiden?

Quem dera. Além dos problemas de roteiro e desenvolvimento de histórias e personagens, Mortal Kombar falha miseravelmente em dar vida aos seus personagens icônicos. Tirando Scorpion e Subzero, praticamente todos os outros personagens são extremamente mal preparados, o que é um esforço enorme haja vista que temos mais de 11 jogos na série. Como conseguiram essa proeza? Não faço ideia.

Raiden é um exemplo que me irritou profundamente no filme. Ele é o exemplo palpável da tentativa hollywoodiana de infantilizar personagens, trazendo atores mais novos para papéis que, claramente, não são para eles. Raiden é um ser imortal, um deus protetor de toda a Terra, mas é interpretado por um rapaz. Apesar do esforço, é visível que ele não combina com a roupa, com o título e nem com a pose do Deus do Trovão.

Além disso o filme tomou a péssima decisão de criar um novo personagem para ser o protagonista, como se não bastasse os quase 100 personagens que a franquia já apresentou ao público. Além da falta de necessidade, Greg Russo e Dave Callaham (roteiristas) criaram um personagem ruim. Cole tem uma motivação fraca, suas falas são toscas e sem personalidade e seu visual e poder o fazem parecer um Power Ranger.

E o torneio Mortal Kombat?

Eu não menti no primeiro parágrafo, a história é aquela e não existe o torneio Mortal Kombat. Apenas menções a eles. Pelo contrário, o filme é tão incoerente que Shang Tsung invade a terra para mater os escolhidos de participar do torneio, sendo que ele precisa vencer 10 torneios para poder invadir a terra. Oi? Justamente, nada faz sentido.

Enfim, sabemos que muitos jogos de MK sequer tem um torneio de fato, mas o filme monta expectativa sobre o torneio desde os primeiros momentos em que vemos Cole. Acompanhamos os mocinhos treinando para o tal torneio, Sonya sendo rejeitada por não ser escolhida etc. Mas no fim das contas, é um filme sobre caras maus tentando impedir que o torneio aconteça. Foram quase duas horas esperando, “agora vai”! No fim, não foi.

Errou de novo

Nota final - 4.5

4.5

Medíocre

26 anos e mais de dez jogos não foram suficientes para Hollywood melhorar e entregar um bom filme. As lutas e alguns personagens são o que salvam, de resto, pouca coisa é útil.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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