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Análise: Dustborn

Uma releitura do que vimos em X-men?

Dustborn é o mais recente lançamento da renomada Quantic Dream, estúdio que se consagrou por seus jogos hiper-realistas, narrativas complexas e mecânicas onde as escolhas do jogador impactam significativamente o desenrolar da trama.

Nesta análise, examinaremos se Dustborn mantém o legado da empresa ou se aventura por novos caminhos. De antemão, podemos adiantar que o jogo apresenta diversas ideias inovadoras, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto. Vale ressaltar que o título está completamente legendado em português brasileiro.

We are the Dustborn

Em Dustborn, assumimos o controle de Pax, a protagonista, que lidera um grupo de fugitivos após realizar um grande assalto. O cenário é um Estados Unidos distópico e hostil, do qual eles buscam desesperadamente escapar.

A missão do grupo é clara: encontrar seu misterioso empregador e entregar os dados roubados, garantindo assim uma passagem segura para Nova Escócia. O que diferencia esta narrativa de tantas outras semelhantes é seu escopo audacioso. Ao jogar, frequentemente me vi lembrando da premissa básica dos X-Men, pois aqui também enfrentamos um mundo preconceituoso contra indivíduos com habilidades especiais.

Neste universo, existem pessoas conhecidas como Anomals, dotadas de poderes extraordinários. Pax, nossa protagonista, possui a habilidade de influenciar agressivamente as pessoas através de suas palavras, podendo forçá-las a agir contra sua vontade, paralisá-las ou até mesmo incitar discórdia.

Noam, ex-namorada de Pax, possui um poder complementar: ela consegue acalmar as pessoas, funcionando como um contraponto à influência de Pax. Sai, por sua vez, apesar de sua aparência desajeitada, possui uma força física descomunal, crucial em diversos momentos. Completando o quarteto, temos Theo, que, embora não seja um Anomal, possui habilidades únicas e lidera o grupo.

Ao longo da jornada, cada personagem revela uma personalidade distinta e marcante. Cabe ao jogador utilizar estrategicamente os poderes de seus aliados – que evoluem com o tempo – bem como os próprios, para superar os desafios. É preciso cautela, pois dependendo de como e quando esses poderes são usados, as pessoas podem reagir com desconfiança ou até mesmo hostilidade, forçando o grupo a manter suas habilidades em segredo.

À medida que a trama se desenrola, mergulhamos mais fundo na história de cada personagem, seus traumas e motivações. Descobrimos também detalhes sobre a misteriosa transmissão que, anos atrás, concedeu esses poderes a diversas pessoas. Com o progresso no jogo, novos personagens se juntam ao grupo, trazendo consigo suas próprias histórias, traumas e habilidades, expandindo as possibilidades e perspectivas da narrativa.

Suas escolhas, sua história

Como é característico dos jogos da Quantic Dream, Dustborn apresenta uma narrativa rica em detalhes e um mundo meticulosamente construído. O jogo oferece uma ampla gama de diálogos e ações para o jogador escolher, cada decisão moldando um caminho único na história e influenciando o nível de afeição de seus companheiros.

O grande diferencial de Dustborn reside na utilização estratégica dos poderes. Em diversas situações, não basta simplesmente ativar uma habilidade; é crucial saber qual personagem empregar em cada momento. Essa mecânica aprimora a sinergia do grupo e impacta diretamente os desdobramentos da narrativa.

Além da utilização dos poderes, o jogo permite moldar a personalidade de Pax. Durante os momentos de acampamento entre as missões, surgem oportunidades valiosas para interagir com os companheiros. Essas interações possibilitam um aprofundamento nas histórias individuais, a troca de presentes e o fortalecimento dos laços afetivos. Naturalmente, isso também abre espaço para desenvolver relações mais próximas ou distantes com cada membro do grupo.

Contudo, é importante ressaltar uma limitação nessa mecânica: não fica claro como as escolhas afetam os personagens. Cada membro do grupo possui duas variáveis principais em sua personalidade, e as ações do jogador os direcionam para um lado ou outro. No entanto, o jogo não oferece um sistema claro para verificar essas mudanças, nem explicita quais são os efeitos positivos ou negativos dessas alterações. Essa falta de transparência pode gerar certa confusão e dificultar a tomada de decisões estratégicas por parte do jogador.

Visual cartunesco vinga?

A ambientação e os gráficos de Dustborn representam uma mudança significativa no estilo visual característico da Quantic Dream, e é neste aspecto que surgem as primeiras críticas ao jogo.

Diferentemente dos títulos anteriores do estúdio, conhecidos por seu hiper-realismo e riqueza de detalhes, Dustborn adota uma estética cel-shading. A proposta é criar um mundo vibrante e repleto de personalidade, reminiscente de uma história em quadrinhos. Essa abordagem se manifesta não apenas nos gráficos, mas também na narrativa visual do jogo.

Ao longo da aventura, encontramos palavras estrategicamente posicionadas no cenário, funcionando como elementos guia para o jogador. Além disso, cada capítulo é concluído com um quadrinho recapitulativo, ilustrando os eventos ocorridos e as decisões tomadas até aquele momento.

Contudo, essa visão artística esbarra em limitações técnicas consideráveis. Em nossa experiência com a versão para PS5, o desempenho do jogo ficou aquém do esperado. Observamos um stuttering persistente em diversos cenários, comprometendo a fluidez da experiência. Até mesmo simples movimentações de câmera são suficientes para quebrar a continuidade visual.

Outro ponto fraco notável está na animação dos personagens. Os movimentos são frequentemente rígidos e as expressões faciais carecem de dinamismo. Mesmo em momentos de alta tensão ou urgência, as expressões dos personagens permanecem praticamente inalteradas. Para efeito de comparação, Claptrap, o robô da franquia Borderlands, demonstra mais expressividade que os protagonistas de Dustborn.

De forma resumida, embora o jogo apresente uma proposta estética interessante e bem elaborada, falta um refinamento na execução, especialmente no que diz respeito à animação e expressividade dos personagens. Consequentemente, o nível de imersão alcançado fica aquém do potencial da obra.

A Legenda deixa a desejar

Um aspecto peculiar na apresentação de Dustborn merece atenção especial: o tratamento das legendas. O jogo demonstra uma louvável preocupação em dar visibilidade a minorias, incluindo a representação de personagens não-binários. Noam, por exemplo, é explicitamente referenciado no texto original em inglês com o pronome “them”, que em português corresponde a “elu”.

Contudo, a tradução para o português brasileiro apresenta inconsistências notáveis. As legendas parecem forçar o uso do gênero neutro em situações onde o original não o faz, criando uma dissonância entre o áudio e o texto. Essa abordagem, ainda que bem-intencionada, pode causar estranheza e confusão para o jogador.

Além disso, a formatação das legendas deixa a desejar. Os diálogos frequentemente são extensos, e as legendas aparecem muito próximas umas das outras, sem a devida separação visual. Isso dificulta a leitura e a compreensão, especialmente durante sequências de diálogo rápidas ou complexas. É surpreendente que um jogo com tanta ênfase na narrativa apresente problemas tão evidentes nesse aspecto crucial.

Por fim, é desconcertante notar que os resumos de capítulo, apresentados em formato de quadrinhos, não são legendados. Essa omissão cria uma inconsistência na experiência do jogador que depende das legendas, prejudicando a compreensão de elementos importantes da trama.

Enquanto Dustborn se esforça para ser inclusivo e acessível, as falhas na implementação das legendas acabam por criar barreiras inesperadas. Esses problemas de tradução, formatação e omissão prejudicam a imersão e a compreensão da narrativa, aspectos fundamentais para um jogo deste gênero.

Dustborn e seu gameplay com altos e baixos

Ao analisarmos o gameplay de Dustborn, encontramos uma proposta que diverge significativamente do padrão estabelecido pela Quantic Dream. O jogo apresenta uma variedade de mecânicas que, embora inovadoras, nem sempre atingem seu pleno potencial.

Como mencionado anteriormente, a premissa dos “mutantes” é central para o jogo. Esta mecânica ativa permite ao jogador abordar situações de maneiras diversas, adicionando uma camada estratégica à gameplay. No entanto, o jogo vai além, incorporando elementos inesperados.

Uma das mecânicas mais presentes é a simulação de uma banda de punk rock. Para manter seu disfarce durante a fuga, o grupo assume esta identidade, resultando em sequências de ritmo reminiscentes de Guitar Hero. Nestas seções, o jogador deve pressionar os botões corretos no momento certo, uma adição interessante que quebra a monotonia.

Pax também possui uma habilidade única de “caçar fantasmas”, repleta de referências bem-humoradas à franquia cinematográfica “Os Caça-Fantasmas”. Esta mecânica envolve a busca por ecos da misteriosa transmissão, afetando o ambiente e os personagens ao redor, além de desbloquear áreas e objetos interativos.

O sistema de combate é outro elemento crucial. Pax utiliza um taco de beisebol como arma principal, com a possibilidade de evolução de habilidades como força e arremesso. Ademais, ela pode empregar seu poder das palavras no campo de batalha, funcionando como uma espécie de magia para obter vantagens táticas, controlar inimigos ou repeli-los.

Entretanto, apesar das ideias promissoras, a execução do combate deixa a desejar. As lutas carecem de impacto e satisfação, com inimigos que parecem frágeis demais e golpes que não transmitem a sensação de peso adequada. O resultado é um sistema de combate que, embora funcional, não alcança seu potencial pleno.

Ao longo da jornada, o jogo introduz outras mecânicas menores, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto. Esta variedade de elementos gameplay contribui para uma experiência diversificada, mas também evidencia uma certa inconsistência na qualidade de implementação.

Resumindo, o gameplay de Dustborn apresenta uma mistura de ideias inovadoras e execução variável. Enquanto algumas mecânicas se destacam positivamente, outras não conseguem atingir o mesmo nível de refinamento, resultando em uma experiência de jogo que, embora interessante, não é satisfatória.

Conclusão

Para concluir esta análise, é evidente que Dustborn proporciona uma experiência repleta de altos e baixos, comparável a uma montanha-russa emocional. Embora o jogo não alcance o patamar de excelência estabelecido pelos títulos anteriores da Quantic Dream, seria injusto classificá-lo simplesmente como ruim.

Os principais obstáculos enfrentados por Dustborn parecem estar intimamente ligados à falta de refinamento em diversos aspectos. As legendas apresentam problemas de formatação e inconsistências de tradução, prejudicando a imersão. A animação dos personagens carece de expressividade, diminuindo o impacto emocional de momentos cruciais da narrativa. A otimização para o PS5 deixa a desejar, com problemas de desempenho que comprometem a fluidez da experiência. Além disso, o sistema de combate se mostra superficial e pouco envolvente.

Por outro lado, é inegável que Dustborn possui uma narrativa cativante e bem construída, com potencial para brilhar em outros formatos, como uma série de televisão. O jogo apresenta conceitos intrigantes e um universo rico em possibilidades de exploração. No entanto, é justamente no aspecto interativo – o que define sua natureza como jogo – que Dustborn mais deixa a desejar.

Em suma, Dustborn se revela como uma obra de contrastes: uma narrativa promissora prejudicada por falhas técnicas e mecânicas de jogo que não atingem todo seu potencial. O resultado é um título que, embora não chegue a ser ruim, fica aquém das expectativas criadas pela reputação da Quantic Dream e pelo potencial de suas próprias ideias.

Essa análise de Dustborn segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

Narrativa e execução andam em lados opostos

Visual, ambientação e gráficos - 7
Jogabilidade - 5
Diversão - 6
Áudio e trilha-sonora - 7
Narrativa - 8

6.6

Mediano

Dustborn se revela como uma obra de contrastes: uma narrativa promissora prejudicada por falhas técnicas e mecânicas de jogo que não atingem todo seu potencial. O resultado é um título que, embora não chegue a ser ruim, fica aquém das expectativas criadas pela reputação da Quantic Dream e pelo potencial de suas próprias ideias.

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Leonardo Coimbra

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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