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Análise: Clair Obscur: Expedition 33

Um JRPG feito na França

Quando um estúdio francês recém-formado anuncia seu primeiro projeto como um RPG em turnos inspirado em ícones do gênero como Persona e Final Fantasy, as expectativas naturalmente se elevam. Foi exatamente isso que a Sandfall Interactive fez com Clair Obscur: Expedition 33, um título que causou forte impressão desde seu anúncio na conferência do Xbox.

Após um ano de espera, o jogo finalmente chegou ao mercado. E por que o classificamos como excepcional já nas primeiras linhas? Esta análise revelará os motivos que fazem de Clair Obscur: Expedition 33 uma estreia memorável.

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Essa luta é pelo amanhã

A narrativa de Clair Obscur: Expedition 33 é uma mistura de elementos sombrios e emocionais, ambientada em um mundo inspirado na Belle Époque francesa. Na cidade de Lumière, último bastião da humanidade, uma misteriosa entidade conhecida como Artifice ameaça a existência humana através de um método peculiar: em seu monolito, ela utiliza seu pincél para traçar números que fazem desaparecer todas as pessoas com a idade correspondente, eliminando gradualmente a população dos mais velhos aos mais jovens.

Neste cenário apocalíptico, conhecemos Gustave, que aos 31 anos carrega o peso de ser o homem mais velho ainda vivo. Quando o Artifice marca o número 33 em seu monolito, uma corrida contra o tempo se inicia. Com apenas um ano antes de seu provável desaparecimento, Gustave se une à Expedição 33, uma missão crucial para alcançar e derrotar o Artifice em seu continente.

A jornada, no entanto, toma um rumo trágico logo no início quando um evento catastrófico dizima grande parte dos expedicionários. Entre os sobreviventes destacam-se três personagens fundamentais: Maelle, a filha adotiva de Gustave; Lune, uma brilhante estrategista; e Sciel, uma combatente excepcional. Ao longo da aventura, o grupo ainda encontra aliados nativos como Esquie, Verso e Monoco.

A história se desenrola em capítulos, seguindo uma estrutura predominantemente linear. Embora existam missões secundárias, elas não desviam a atenção da narrativa principal, que se destaca pelo desenvolvimento profundo de seus personagens. Mesmo com Gustave, Maelle e Verso ocupando papéis centrais, cada membro do elenco tem seu momento de brilhar. A trama é pontuada por momentos de intensidade emocional, sequências épicas e reviravoltas surpreendentes que mantêm o jogador constantemente envolvido.

Gráficos e Áudio

Na parte técnica, Clair Obscur: Expedition 33 impressiona com sua implementação da Unreal Engine, apresentando personagens realistas e visualmente distintos. Embora a física e modelagem dos cabelos apresente algumas limitações durante o gameplay, as cutscenes são primorosamente executadas, evidenciando o alto padrão de qualidade visual que o estúdio buscou alcançar.

A direção de arte merece destaque especial, principalmente em seus cenários distópicos e fantásticos. O jogo apresenta uma variedade notável de ambientes, desde cidades em ruínas até florestas surreais como paisagens submarinas, além de construções fantásticas e locações sombrias que criam uma atmosfera única. Enquanto o design dos personagens remete à qualidade visual característica da série Final Fantasy, os inimigos apresentam uma estética macabra que poderia facilmente pertencer ao universo dos jogos FromSoftware.

A composição sonora eleva ainda mais a experiência, apresentando uma seleção criteriosa de músicas francesas que transitam entre o melancólico e o épico. Os arranjos musicais são especialmente eficazes durante as batalhas, onde a dinâmica sonora intensifica a ação. Um aspecto notável é a forma fluida como as trilhas se entrelaçam, criando transições suaves que conduzem as emoções dos jogadores através de diferentes atmosferas. Clair Obscur: Expedition 33 mantém um acompanhamento musical constante, contribuindo para a imersão total na experiência.

Quanto à localização, embora não conte com dublagem em português brasileiro, o jogo oferece opção de áudio em francês, proporcionando uma experiência mais autêntica para os puristas. A versão em inglês traz um elenco de peso, incluindo Charlie Cox (conhecido por Demolidor) como Gustave, Ben Starr (Clive Rosfield de Final Fantasy XVI) em uma interpretação memorável como Verso, e Jennifer English (veterana de Elden Ring e Baldur’s Gate III) dando vida à Maelle. O trabalho de atuação vocal contribui significativamente para a profundidade emocional da narrativa.

Muito além que de um JRPG

Embora Clair Obscur: Expedition 33 tenha suas raízes nos JRPGs tradicionais por turnos, com influências claras de títulos como Persona 5 e Metaphor, o jogo estabelece sua própria identidade através de mecânicas inovadoras. O sistema de combate incorpora quick-time events que adicionam dinamismo: o jogador precisa pressionar os botões no momento exato para maximizar o potencial de seus ataques, correndo o risco de executar golpes menos eficientes ou até mesmo falhar completamente caso erre o timing.

O sistema de defesa representa uma evolução significativa em relação aos JRPGs convencionais. Em vez do tradicional comando de defesa passivo, Clair Obscur: Expedition 33 apresenta quatro opções defensivas distintas que devem ser executadas com precisão: aparagem, bloqueio, esquiva e salto. Cada uma dessas opções possui suas particularidades – o bloqueio, por exemplo, possibilita contra-ataques, enquanto a esquiva oferece maior margem de erro na execução. Já o salto e a aparagem são movimentos específicos para determinados tipos de ataques, recompensando o jogador com vantagens consideráveis quando utilizados corretamente.

O que torna Clair Obscur: Expedition 33 ainda mais singular é sua bem-sucedida incorporação de elementos tradicionalmente associados aos jogos soulslike. O sistema de combate exige que os jogadores estudem e memorizem os padrões de ataque dos inimigos, uma característica marcante do gênero. Esta influência se estende a outros aspectos do jogo, como as bandeiras de expedição, que funcionam de forma similar às fogueiras de Dark Souls, servindo como pontos de descanso e únicos locais onde é possível aprimorar habilidades e distribuir pontos de progressão.

Clair Obscur: Expedition 33 também adota um sistema de cura limitado, reminiscente do frasco de Estus de Dark Souls, onde a party possui um número restrito de utilizações entre as bandeiras de expedição. As batalhas contra chefes seguem uma estrutura familiar aos fãs de soulslike, com múltiplas fases e transformações quando atingem determinados limiares de vida.

Combinações variadas

O sistema de combate é estruturado em torno de grupos de três personagens, com a interessante mecânica de uma equipe reserva que pode entrar em ação caso o time principal seja derrotado. Esta característica permite que os jogadores planejem combinações variadas e desenvolvam sinergias efetivas entre os personagens.

A flexibilidade tática é um elemento central do jogo, já que a composição ideal do grupo varia conforme os desafios encontrados. Diferentes inimigos possuem vantagens e fraquezas específicas contra determinados personagens, incentivando o jogador a experimentar diversas formações e adaptar suas estratégias. Esta dinâmica é complementada por um robusto sistema de builds e equipamentos que permite múltiplas abordagens de combate.

O sistema de equipamentos é centrado nos ‘pictos’, acessórios especiais que aumentam dois atributos básicos (como vida, velocidade, defesa e chance crítica) e conferem habilidades passivas únicas. Embora cada personagem esteja limitado a três pictos equipados simultaneamente, o sistema oferece uma mecânica interessante: conforme você utiliza diferentes pictos, suas habilidades passivas podem ser desbloqueadas permanentemente e distribuídas entre os personagens, respeitando um limite de pontos de habilidade que aumenta com o nível do personagem. Esta característica permite uma customização progressiva e estratégica do grupo.

O arsenal de armas também contribui para a profundidade estratégica, com cada item oferecendo habilidades passivas que complementam os estilos de jogo específicos dos personagens. Esta integração entre equipamentos e características individuais demanda consideração cuidadosa na montagem de cada build.

Cada expedicionário possui um estilo de jogo único que adiciona dinamismo ao sistema de turnos. Gustave, por exemplo, utiliza um mecanismo de ‘carga’ que acumula energia através de ações ofensivas e defensivas, culminando em um devastador ataque de ‘sobrecarga’ quando totalmente carregado. Já Maelle emprega um sistema de ‘posturas’, onde diferentes estilos de ataque proporcionam vantagens específicas – uma postura defensiva reduz o dano recebido, enquanto uma postura agressiva aumenta seu poder ofensivo.

Clair Obscur: Expedition 33 é perfeito para o que está sendo proposto, porém, com algumas limitações

Como estreia de um estúdio no segmento de jogos, Clair Obscur: Expedition 33 impressiona por sua ambição e realizações. É notável como a Sandfall Interactive conseguiu não apenas atrair talentos reconhecidos da indústria, mas também implementar um sistema de combate inovador que redefine alguns paradigmas dos JRPGs tradicionais. Esta conquista é ainda mais significativa considerando as limitações orçamentárias típicas de produções AA.

No entanto, o jogo apresenta alguns aspectos que merecem atenção. Um dos desafios mais evidentes está no timing dos ataques inimigos, que ocasionalmente são executados com uma velocidade que dificulta reações defensivas adequadas. Esta característica, embora possa aumentar a tensão dos combates, por vezes resulta em situações que parecem mais frustrantes do que desafiadoras.

A navegação pelo mundo de Clair Obscur: Expedition 33 também apresenta seus desafios, principalmente pela ausência de um minimapa. Embora esta decisão tenha sido justificada pelo estúdio como uma escolha deliberada para aumentar a imersão – argumentando que os personagens, em um ambiente desconhecido, naturalmente teriam dificuldade em se orientar – na prática, isso pode resultar em momentos de desorientação para o jogador. Com o tempo, é possível se adaptar a esta limitação, mas alguns caminhos e segredos podem passar despercebidos devido à falta de referências espaciais mais claras.

Conclusão da análise de Clair Obscur: Expedition 33

Clair Obscur: Expedition 33 representa um marco impressionante para um estúdio estreante, superando as limitações típicas de uma produção independente com orçamento modesto. A fusão magistral entre uma narrativa sombria e emocionalmente densa, ambientada em uma Belle Époque francesa reimaginada, demonstra uma maturidade notável na construção do roteiro e do universo do jogo. O desenvolvimento meticuloso dos personagens, cada um dotado de mecânicas distintivas que enriquecem a jogabilidade, soma-se a uma progressão narrativa que equilibra momentos de intensidade dramática, reviravoltas surpreendentes e reflexões existenciais profundas.

Na vertente artística, Clair Obscur: Expedition 33 estabelece novos parâmetros de excelência. A diversidade dos cenários e sua estilização única, combinadas com o design perturbador e memorável dos inimigos, resultam em uma atmosfera singular. A trilha sonora original, transitando com maestria entre composições melancólicas e épicas, potencializa cada momento da narrativa. O sistema de combate por turnos foi reinventado através da implementação inteligente de quick-time events e mecânicas defensivas ativas, exigindo um engajamento do jogador muito superior ao encontrado em JRPGs convencionais.

Contudo, algumas arestas ainda precisam ser aparadas. A navegação pelo mundo de Clair Obscur: Expedition 33 sofre com a ausência de um minimapa, particularmente nas fases iniciais, enquanto certos confrontos demandam reflexos talvez excessivamente precisos. Limitações técnicas ocasionais se manifestam durante o gameplay, especialmente na renderização capilar dos personagens, contrastando com a qualidade superior das cutscenes. A ausência de dublagem em português brasileiro também pode representar um obstáculo para parte do público, embora as opções em inglês e francês mantenham um padrão elevado de qualidade.

Em última análise, Clair Obscur: Expedition 33 emerge como uma realização notável. O jogo não apenas estabelece uma identidade própria através de mecânicas inovadoras e bem executadas, mas também demonstra que há espaço para renovação mesmo em gêneros consolidados. Este primeiro passo da Sandfall Interactive, com os devidos refinamentos baseados no feedback da comunidade, estabelece fundamentos sólidos para futuras obras ainda mais ambiciosas.

Essa análise/review de Clair Obscur: Expedition 33 segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

A inovação dos JRPG

Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 10
Diversão - 10
Áudio e trilha-sonora - 10

10

Perfeito

Clair Obscur: Expedition 33 impressiona por sua originalidade e narrativa densa, combinando ambientação marcante, personagens bem construídos e um sistema de combate inovador, embora enfrente limitações pontuais em usabilidade e polimento gráfico.

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Anderson Mussulino

Publicitário louco por toda a cultura geek. Redator do Última Ficha e apaixonado por jogos que vem da terra do sol nascente.

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