
Ghost of Yotei chega como o aguardado sucessor espiritual do aclamado Ghost of Tsushima. O jogo, no entanto, estabelece imediatamente sua própria identidade: a narrativa é inédita, ambientada três séculos após a invasão mongol, e troca a ilha de Tsushima pela gélida região de Ezo, sob a sombra do monte Yotei.
Agora, seguimos a jornada de Atsu, uma nova protagonista que assume o pesado manto de “Fantasma”. A questão central é se este novo conto épico consegue honrar o legado de seu predecessor.
Nesta análise, vamos descobrir se a nova saga entrega uma experiência à altura.
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Vingança e Redenção diante do monte Yotei
A jornada de Atsu é um conto clássico de vingança. Ela busca caçar Saito e seus tenentes, os “Seis de Yotei”, responsáveis pelo massacre de sua família. O desafio é colossal: Saito não é apenas um assassino, mas o líder de um clã que almeja dominar Ezo e usurpar o shogunato. É uma andarilha solitária contra um poder militar avassalador.
Após sua primeira vitória, a fama de Atsu começa a ecoar pela região, dando-lhe a alcunha de “Onryo”, o fantasma vingativo de uma mulher que sofreu em vida. Atsu abraça esse título e passa a usar o medo como arma em sua caçada aos cinco alvos restantes.
A trama de Ghost of Yotei é sustentada por personagens interessantes, incluindo vilões memoráveis. No entanto, sua estrutura narrativa tropeça em uma repetição formulaica em arcos importantes, como os contos da Kitsune e do Oni. A fórmula é quase sempre a mesma: o antagonista é apresentado, há um breve confronto onde ele escapa ou derrota Atsu, um segundo encontro ocorre com nova fuga, e só então a batalha derradeira acontece.
O que funciona como um bom desenvolvimento na primeira vez, torna-se previsível e anticlimático nas repetições. Felizmente, esse defeito estrutural não ofusca o brilho da jornada principal. O excelente desenvolvimento de Atsu e sua transformação ao longo da busca por vingança continuam sendo o coração pulsante da narrativa.

Um mundo vasto
O mundo aberto de Ghost of Yotei é impressionante por sua vastidão, tornando a montaria essencial para a locomoção. Cavalgar por Ezo é uma das experiências visuais mais recompensadoras do jogo, com paisagens deslumbrantes que parecem saídas do cinema. A exploração, assim como em Tsushima, é guiada de forma orgânica: o jogo dispensa minimapas e bússolas, usando o vento para guiar o jogador até o objetivo. As missões também surgem naturalmente, com NPCs chamando por Atsu, evitando a poluição visual de ícones no mapa.
Um dos pilares do design do jogo é seu sistema de progressão, que abandona o ganho de nível por experiência. O fortalecimento de Atsu está diretamente atrelado à exploração: é preciso encontrar santuários para ganhar pontos de habilidade, termas para aumentar a vida máxima, desafios de bambu para ampliar os pontos de “espírito” e missões secundárias para desbloquear novas armas. Em suma, o jogo exige que o jogador se aventure e interaja com o mundo para evoluir.

Samurai e Fantasma: A dualidade do combate
Ghost of Yotei mantém a liberdade de abordagem do seu predecessor: o jogador pode optar pelo confronto direto como espadachim ou pela eliminação sorrateira. No entanto, Atsu é diferente de Jin. Sem o treinamento formal de um “Fantasma”, sua furtividade é mais rígida, mas ela compensa com um arsenal letal de ferramentas, como kunais e bombas de fumaça.
É no combate direto que Atsu demonstra sua brutalidade. Seu arsenal foi vastamente expandido e inclui katanas duplas, lança, a imponente odachi (espada longa), kusarigama e até armas de fogo, como a tanegashima. Cada arma tem uma função específica, transformando as lutas em um complexo sistema de contra-ataques, onde a troca de equipamento é essencial para a vitória. Por exemplo, a lança é ideal contra inimigos de kusarigama, as katanas duplas quebram a guarda de oponentes com lança, e a kusarigama destrói escudos.
As batalhas contra chefes são o ponto alto da experiência. Cada um possui movimentos únicos que exigem domínio completo da defesa. O jogo utiliza um sistema claro de indicadores visuais: um brilho azul sinaliza um golpe bloqueável; o vermelho indica um ataque que deve ser esquivado; e o amarelo alerta para um golpe que pode desarmá-la, mas que é vulnerável a um contra-ataque preciso.
O desbloqueio de golpes mais fortes está ligado a missões de armas, mas a maior parte dos movimentos depende de pontos de habilidade. Isso reforça a necessidade de explorar o mapa em busca de santuários, conectando diretamente a progressão do combate à exploração do mundo.

Uma apresentação audiovisual impecável
Visualmente, Ghost of Yotei está entre os títulos mais bonitos desta geração. O mundo aberto é uma sucessão de paisagens deslumbrantes, de florestas densas a picos congelados, onde cada cena parece meticulosamente composta como uma pintura. O design dos personagens acompanha esse primor, com detalhes singulares em seus trajes, penteados e feições.
O jogo oferece modos de apresentação distintos que alteram a experiência. O filtro clássico em preto e branco retorna, evocando filmes de samurai. A grande novidade é o “Modo Miike” (inspirado no diretor Takashi Miike), que torna os combates mais viscerais ao adicionar sangue e lama, enquanto posiciona a câmera mais próxima da ação.
O design de som é igualmente magistral. A trilha sonora é poderosa, especialmente nos momentos com melodias cantadas. Ela é complementada por sons ambientes realistas e uma dublagem de alta qualidade em todos os idiomas com o japonês sendo a escolha ideal para a imersão. Por fim, o jogo inclui o “Modo Watanabe” (inspirado em Shinichiro Watanabe), uma opção que insere relaxantes faixas de lo-fi à exploração, criando um contraste fascinante com a jornada brutal de Atsu.

Conclusão de Ghost of Yotei
Ghost of Yotei se consagra como um sucessor espiritual digno do legado de Ghost of Tsushima, ao mesmo tempo em que trilha seu próprio caminho. A jornada de vingança de Atsu é intensa e visualmente marcante, sustentada por personagens fortes. Embora a estrutura de alguns arcos narrativos sofra com repetições, o excelente desenvolvimento da protagonista e a rica atmosfera cultural compensam as falhas.
A jogabilidade brilha na sinergia entre seus elementos. O mundo aberto de Ezo é deslumbrante, e o sistema de progressão, que abandona níveis tradicionais em favor de descobertas, torna a exploração genuinamente recompensadora. Isso se conecta diretamente a um combate profundo e estratégico, que mescla estilos e culmina em batalhas de chefe memoráveis.
Com gráficos que estão entre os mais belos da geração e uma trilha sonora impecável, a apresentação audiovisual é um espetáculo. Ghost of Yotei pode não ser uma revolução, mas é uma experiência emocional, artisticamente poderosa e um tributo reverente ao espírito do guerreiro.

Essa análise de Ghost of Yotei segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Uma obra visual de pura arte
Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 7
Diversão - 7
Áudio e trilha-sonora - 10
Narrativa - 7
8.2
Ótimo
Ghost of Yotei honra o legado de Tsushima com maestria, entregando uma jornada visualmente deslumbrante e emocionalmente marcante, ainda que repita algumas fórmulas narrativas.





