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Análise: Possessors

A mais nova aposta da Devolver

Hoje trago a análise de Possessors, mais um jogo publicado pela Devolver Digital e desenvolvido pela Heart Machine Games, conhecido por Hyper Light Drifter e pelo mais recente Solar Ash, que teve uma recepção mais dividida do que o esperado.

Agora, o estúdio retorna com uma proposta diferente, mas ainda dentro de um estilo que domina bem: o metroidvania com forte ênfase em plataformas e exploração. A ideia central aqui é entender se Possessors consegue se destacar dentro de um gênero já bastante consolidado, oferecendo algo novo e relevante em meio a tantas produções do tipo que temos visto nos últimos anos.

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Uma história interessante

Embora Possessors siga a estrutura tradicional de um metroidvania, ele surpreende ao trazer uma narrativa mais profunda do que o gênero costuma oferecer. A trama se passa em uma cidade fictícia dominada por uma megacorporação chamada Agradyne, responsável por controlar praticamente tudo. No entanto, uma catástrofe muda completamente o cenário: uma explosão misteriosa libera demônios e energia sobrenatural, mergulhando o mundo em caos.

A protagonista, Luca, presencia a morte do melhor amigo e, logo depois, perde as pernas durante o desastre. Em um momento de desespero, ela encontra Rhem, um demônio que lhe oferece um pacto — devolver sua mobilidade em troca de ajuda em seus próprios objetivos. A partir desse ponto, os dois se tornam uma entidade única, o que dá início a uma jornada marcada por dilemas morais, memórias compartilhadas e reflexões sobre humanidade, poder e culpa.

O jogo também apresenta personagens secundários interessantes, como caçadores e demônios com diferentes personalidades — alguns até com um toque cômico — que ajudam a expandir a mitologia desse universo. A narrativa é bem construída e se destaca justamente pela profundidade dos protagonistas.

Um ponto que chama atenção, porém, é a ausência de dublagem, já que o jogo é apenas legendado. Essa limitação acaba reduzindo um pouco o impacto emocional de momentos importantes, considerando especialmente o peso dramático da história. No geral, Possessors entrega um enredo coeso e interessante, com uma crítica clara à exploração científica e corporativa — lembrando, em certa medida, a Umbrella Corporation de Resident Evil, já que a Agradyne também esconde experimentos obscuros envolvendo demônios e outras dimensões.

Ambientação e trilha sonora

Em Possessors, a ambientação é um dos elementos que mais se destacam. Mesmo sendo um jogo independente, o trabalho visual da Heart Machine é notável, especialmente por conseguir criar um mundo que transmite melancolia e destruição. O estilo visual segue uma linha 2.5D, com múltiplas camadas e profundidade, reforçando a sensação de imersão. A direção de arte aposta em tons escuros e contrastes de luz que simbolizam bem o conflito entre o humano e o demoníaco.

A ambientação também ganha força pela variedade de cenários. Como o jogo se passa em uma megacidade devastada, o jogador passa por áreas distintas que ajudam a dar ritmo e identidade à exploração: há regiões mais abertas e “comuns”, como parques e áreas de lazer, espaços subterrâneos como estações de metrô e, claro, o prédio da Agradyne, que se impõe como o grande símbolo da corrupção e da tragédia do mundo. Essa diversidade é um dos pontos altos do jogo, já que cada novo ambiente revela fragmentos da catástrofe e da fusão entre o mundo humano e o demoníaco.

Visualmente, Possessors não tenta ser exuberante e isso funciona a seu favor. A arte é estilizada, coesa e comunica muito bem o tom emocional da narrativa. O jogador sente que está em um lugar corrompido, mas vivo, com detalhes que reforçam o impacto do colapso e a presença sobrenatural espalhada por todos os cantos.

Na parte sonora, a trilha segue um caminho melancólico e contido, com composições que misturam notas suaves e até toques de jazz em certos momentos, o que dá uma personalidade curiosa ao jogo. Ela acompanha o ritmo mais introspectivo da história, ajudando o jogador a sentir o peso e a solidão daquele mundo.

Por outro lado, a ausência de dublagem continua sendo um ponto que deixa a experiência um pouco mais distante emocionalmente. A história e os personagens são bons o bastante para merecer vozes que transmitissem melhor suas emoções, algo que faria diferença real na imersão. Ainda assim, Possessors entrega uma ambientação marcante e sonora consistente, o que ajuda a sustentar a narrativa e o estilo do jogo de maneira sólida.

Gameplay e progressão de personagem

O gameplay de Possessors é o coração do jogo e também onde ele mais se divide entre acertos e frustrações. De início, a estrutura segue fielmente o estilo metroidvania clássico, com uma curva de progressão bem clara e recheada de novas habilidades que vão sendo conquistadas à medida que a protagonista Luca evolui. A jornada começa de forma simples, com movimentos básicos como corrida e esquiva, mas rapidamente o jogador passa a dominar novas técnicas, como o laço (uma espécie de hookshot) para alcançar plataformas distantes, defletir de ataques, o pisão no chão para quebrar estruturas e até o clássico pulo duplo.

A variedade de inimigos também ajuda a dar profundidade ao combate. Cada criatura tem seu próprio padrão de ataque, o que obriga o jogador a observar, reagir e planejar antes de atacar. A grande sacada, porém, está no sistema de combate inspirado em Super Smash Bros. Em vez de simplesmente eliminar inimigos com dano direto, o jogador deve empurrá-los e lançá-los contra o cenário ou outros inimigos. A direção e o momento do golpe fazem toda a diferença, abrindo espaço para estratégias mais técnicas. Quanto mais poderes e técnicas você adquire, mais diferenciado fica o combate.

Outro ponto interessante está no uso de armas e itens cotidianos. Em vez de espadas ou pistolas, Luca utiliza objetos do dia a dia, como tacos de beisebol, facas, celulares, mouse, bolas de beisebol e muito mais, transformando-os em ferramentas de combate. Esses itens podem ser melhorados e equipados com habilidades passivas, o que dá ao jogador liberdade para adaptar o estilo de jogo conforme suas preferências. Há também estações de metrô, que funcionam como pontos de Fast Travel, permitindo o deslocamento entre regiões.

Problemas de ritmo e estrutura de Possessors

Apesar dos bons momentos, Possessors tropeça em elementos que prejudicam a fluidez da experiência. O primeiro problema é o Fast Travel, que está restrito apenas às estações de metrô. O trajeto entre uma e outra pode ser longo e cansativo, tornando o backtracking um exercício de paciência. Ter a opção de viajar entre os pontos de salvamento seria uma solução simples que modernizaria o sistema e reduziria a frustração.

O segundo ponto negativo é a interface (HUD) do menu. Ela é minimalista, mas peca pela falta de clareza: os menus não explicam bem como equipar itens, evoluir habilidades ou gerenciar o inventário. O jogador acaba aprendendo na base da tentativa e erro, o que quebra o ritmo e dificulta o aproveitamento dos recursos do jogo.

O terceiro problema — e o mais grave para mim — é a ausência quase total de orientação. O jogo indica objetivos gerais, como encontrar os olhos dos executivos e acessar o laboratório da Agradyne, mas raramente dá pistas sobre onde seguir. Isso cria longos períodos de desorientação, em que o jogador vaga pelo mapa sem saber se está no caminho certo ou se ainda não possui a habilidade necessária para avançar. Essa falta de direcionamento, que poderia ser vista como incentivo à exploração, acaba gerando frustração e desgaste. Isso se agrava, pois o mapa não é claro sobre aonde já foi, aumentando o sentimento de estar perdido.

Por fim, há um desequilíbrio nas dificuldades. O modo “fácil” é na prática um modo normal acessível, enquanto o “normal” tem picos de dificuldade típicos de um modo “difícil”. A falta de uma opção intermediária faz com que o jogo oscile entre ser punitivo demais e fácil demais, sem um ponto de equilíbrio que acomode diferentes perfis de jogadores.

Esses problemas não chegam a arruinar a experiência, mas impedem Possessors de atingir o mesmo nível de refinamento que outros metroidvanias contemporâneos. A base é sólida e divertida, o combate é criativo e o mundo é interessante, mas o design de progressão e navegação ainda carrega vícios de uma era mais antiga do gênero.

De forma resumida, você precisa investir mais tempo que o necessário para ver a proposta de Possessors efetivamente florescer. E claro, graças aos momentos de frustração, muitos irão desistir no meio da peleja.

Possessors vale a pena?

Possessors é, acima de tudo, um jogo de potencial desperdiçado. A Heart Machine acerta em cheio em pontos importantes como o conceito narrativo, os personagens marcantes, a ambientação melancólica e no desenvolvimento da dupla Luca e Rhem, mas erra em elementos básicos que afetam diretamente a experiência. Falta polimento em áreas essenciais como navegação, interface e ritmo, o que faz com que o jogador passe mais tempo se frustrando e se localizando do que efetivamente jogando. Era constante eu abrir o mapa a cada poucos minutos de jogo para tentar achar um novo ponto para explorar e, consequentemente, evoluir.

Ainda assim, existe algum valor aqui. O mundo de Possessors é rico em simbolismos, reforçada por um visual 2.5D expressivo e uma trilha sonora de tons sombrios e melancólicos. O sistema de combate, que mistura o estilo metroidvania com elementos inspirados em Super Smash Bros., é uma ideia ousada e divertida, especialmente nas batalhas mais técnicas.

No entanto, a falta de uma dublagem envolvente, a dificuldade desbalanceada e o excesso de backtracking tornam a jornada desgastante, mesmo com uma base promissora. Possessors é um jogo que vai encantar quem gosta de explorar mundos sombrios e desafiadores, mas pode afastar aqueles que buscam uma experiência mais moderna e fluida.

No fim, é um título que brilha nas ideias, mas tropeça na execução e isso o impede de alcançar o mesmo patamar de outros grandes metroidvanias.

Essa análise de Possessors segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.

Um jogo com potencial, mas preso em sua burocracia

Visual, ambientação e gráficos - 8
Jogabilidade - 7.5
Diversão - 6.5
Áudio e trilha-sonora - 8
Polimento - 6

7.2

Bom

Possessors é um jogo com ótimas ideias, mas que tropeça em execução. A história é envolvente, os personagens funcionam bem e a ambientação é forte, mas o ritmo arrastado e o excesso de frustração impedem o jogo de brilhar. Ainda assim, quem tem paciência para explorar e gosta de desafios mais densos pode encontrar aqui uma experiência diferente — mesmo que imperfeita.

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Leonardo

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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