
Vamos começar esta análise trazendo nossas impressões de Hyrule Warriors: Age of Imprisonment, o novo projeto da Koei Tecmo em parceria com a Nintendo. Este já é o terceiro jogo da sub-franquia Hyrule Warriors, que segue o formato clássico dos jogos musou. Ou seja, aqueles grandes campos de batalha repletos de centenas (às vezes milhares) de inimigos, onde controlamos heróis capazes de limpar o mapa com golpes poderosos enquanto avançam pela campanha.
Para quem não está familiarizado com o estilo, a ideia é simples: ação constante, habilidades exageradas e cenários enormes, sempre guiados por uma história que serve de fio condutor para o caos. E em Age of Imprisonment, essa fórmula retorna com uma pegada inspirada no universo do mais recente The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, buscando expandir eventos e personagens desse período específico da cronologia.
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O primeiro rei de Hyrule
Diferente do que vimos em Hyrule Warriors: Age of Calamity (que usou Breath of the Wild como base, mas seguiu por uma linha do tempo alternativa) Hyrule Warriors: Age of Imprisonment opta por outro caminho. Aqui, Age of Imprisonment revisita diretamente os eventos do passado de Tears of the Kingdom, reconstruindo passo a passo o período que envolve o primeiro rei de Hyrule, Rauru, e a Rainha Sonia, além da ascensão de Ganondorf, ainda como o famoso Gerudo em seu momento de tomada de poder.
A proposta narrativa funciona muito bem, especialmente porque ela se apoia nos mesmos assets e estilo visual de Tears of the Kingdom. Como resultado, o jogo mantém aquela estética em cel-shading já conhecida da franquia, e cria a sensação de que estamos realmente expandindo um pedaço da história do jogo principal, mas agora com o dinamismo característico de um musou.
Assim como no jogo original, acompanhamos a Zelda viajando ao passado, algo que acontece logo nos minutos iniciais de TOTK e que aqui se torna o ponto de partida da campanha. E ao contrário do que estamos acostumados na série Hyrule Warriors, quem assume o papel central desta vez não é o Link, mas sim a própria Zelda. Ela passa a construir laços com figuras importantes de Hyrule, incluindo os líderes Rito, Goron, Zora e outros povos.
A história ainda introduz dois novos personagens que funcionam muito bem no conjunto. O primeiro é Calamo, um Korok que serve como alívio cômico, sempre dividido entre a vontade de lutar e o medo de realmente entrar em combate. Já o segundo é um Construct misterioso, um tipo de guerreiro Zonai que segue cegamente qualquer ameaça maior, funcionando quase como um “espelho” temático do Link, mas com personalidade própria.



As primeiras horas funcionam como uma espécie de grande tutorial narrativo: começamos em um período ainda relativamente estável, até que Ganondorf finalmente toma o poder e espalha sua influência maligna por Hyrule. É nesse momento que Age of Imprisonment engrena de vez e a campanha assume um tom mais sombrio e direto, mostrando como esse passado se deteriorou e quais sacrifícios foram feitos para que Ganondorf fosse finalmente selado.
No geral, a história é bem construída, respeita o material original e entrega um contexto muito mais sólido para um período que até então estava apenas sugerido em Tears of the Kingdom. É um complemento interessante para quem sempre quis ver esse capítulo da cronologia ganhar vida de fato.
Um fato adicional curioso, é que a história de Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é vasta e densa e que conta com inúmeros minutos de cenas de diálogos e desenvolvimento. Com isso, quero dizer que por muitas vezes você soltará o controle e verá os fatos históricos acontecendo na sua frente. Em menor medida, lembra em alguns momentos dos longos momentos de história da série Metal Gear Solid, onde o jogador “assiste” diversos momentos do jogo.

De TOTK para Age of Imprisonment
Em Hyrule Warriors: Age of Imprisonment, a ambientação segue exatamente a identidade visual estabelecida em Tears of the Kingdom. Os assets, cenários e estilo artístico são essencialmente os mesmos, o que torna tudo imediatamente familiar para quem jogou o título principal. Essa continuidade funciona muito bem, porque estamos falando de um jogo visualmente marcante, com personagens expressivos, diálogos bem dirigidos e um mundo que já se mostrou artisticamente sólido.
Um ponto que ajuda muito na imersão é que todos os personagens são dublados, algo que realmente faz diferença, principalmente porque a narrativa tem bastante peso aqui. O único que não fala é justamente o novo Construct sem nome, reforçando essa semelhança temática com o Link, que também permanece silencioso. No geral, as atuações são consistentes e encaixam bem no tom da campanha.
A variedade de cenários também chama atenção. Visitamos praticamente toda Hyrule: as áreas aquáticas dos Zora, as regiões vulcânicas dos Goron, as montanhas geladas dos Rito, as florestas e até o deserto dos Gerudo. Cada reino mantém suas características já conhecidas, e ver tudo isso adaptado ao estilo musou rende batalhas visualmente impressionantes, especialmente quando Age of Imprisonment coloca centenas de inimigos na tela. O resultado é um espetáculo de efeitos, ataques e movimentação constante.

No entanto, visualmente nem tudo acerta. Há dois pontos específicos que valem destaque. O primeiro é mais técnico e relativamente discreto: as sombras. Durante sequências de exploração e diálogos, as sombras de personagens e objetos vão mudando de qualidade conforme você se aproxima. É aquele típico efeito de “mapa de sombra” sendo atualizado em tempo real. Não é algo que prejudica o jogo durante os combates, mas quando você para para observar, ele chama atenção de um jeito meio incômodo.
O segundo ponto é mais perceptível e, de fato, quebra um pouco a consistência visual: as cutscenes pré-renderizadas. As cenas de história não são feitas com a engine do jogo; elas são vídeos comprimidos em 30 FPS. Isso gera duas consequências claras. A primeira é o próprio frame rate reduzido, que contrasta com a fluidez da jogabilidade. A segunda são artefatos de compressão, especialmente visíveis na TV: névoas embaçadas, iluminação estranha, alguns degradês marcados… é fácil notar que a qualidade cai quando a história entra em cena. No modo portátil isso passa mais despercebido, mas na TV fica evidente.
Inclusive, esse ponto ajuda a explicar algo que muita gente talvez não espere: Age of Imprisonment é um dos jogos mais pesados já lançados para o Switch 2, com cerca de 45 GB. Mesmo assim, as cutscenes ainda vêm comprimidas, o que levanta aquela pergunta inevitável: por que essa escolha? Difícil saber se foi limitação técnica ou decisão de produção, mas o impacto visual existe e merece ser apontado.

Um gameplay com DNA próprio
O gameplay de Hyrule Warriors: Age of Imprisonment segue a base estabelecida pela franquia, mantendo a estrutura de grandes mapas, missões variadas e batalhas contra centenas de inimigos simultâneos. A essência musou está toda aqui, mas o jogo adiciona camadas interessantes que dialogam diretamente com elementos encontrados em Tears of the Kingdom.
Logo no início, o jogador tem acesso apenas a alguns personagens, como Rauru, Sonia, Zelda e Mineru (irmã de Rauru). Com o avanço da campanha, novos combatentes vão sendo liberados, incluindo chefes de cada raça, guerreiros secundários e figuras inéditas, como o Korok Calamo e o Constructo misterioso. Em pouco tempo, já existe um elenco de mais de 15 ou 20 personagens disponíveis, cada um com estilos, armas e habilidades específicas.
Um detalhe que diferencia esse título dos anteriores é a forma como Age of Imprisonment divide o elenco em dois times separados, o que influencia diretamente a escolha dos personagens em cada missão. Isso impede que o jogador dependa sempre do mesmo grupo e incentiva a experimentação, já que muitas batalhas exigem combinações diferentes para lidar com tipos específicos de inimigos ou chefes.



A progressão dos personagens também segue uma lógica consistente. Cada herói possui níveis próprios, que sobem por meio de combate ou por meio de melhorias diretas nas suas armas. Arcos, lanças, espadas de uma ou duas mãos demandam materiais específicos, reforçando esse aspecto mais “RPG” da experiência. Aos poucos, cada personagem libera ataques especiais, combinações exclusivas e variações de acordo com suas armas.
Além disso, o jogo incorpora vários sistemas inspirados em Tears of the Kingdom. É possível escolher itens antes das missões, parecidos com as comidas do jogo principal, que concedem efeitos temporários como aumento de experiência, defesa ou velocidade. A mecânica de gacha dos Zonai também aparece reimaginada: você oferece itens e recebe um único recurso especial para usar na batalha, o que reforça a identidade visual e temática do universo.
Dentro das batalhas, tudo segue o estilo tradicional do gênero. Há inimigos vulneráveis a elementos específicos (fogo, gelo, eletricidade, água), chefes que exigem contra-ataques e grandes hordas que precisam ser limpas rapidamente. As missões variam desde capturar postos avançados a derrotar generais, enfrentar criaturas gigantes ou proteger aliados espalhados pelo mapa. O ritmo é sempre intenso.

O jogo ainda traz algumas quebras de ritmo pontuais, como momentos de shooting on rails. Neles, o Constructo se transforma em uma espécie de veículo voador enquanto Calamo atira nos inimigos. Não chega a ser um grande destaque, mas serve como variação bem-vinda entre uma sequência de batalhas e outra.
Um ponto que merece elogio direto é o desempenho. Age of Imprisonment roda com 60 FPS constantes, algo essencial dentro de um musou. Diferente dos títulos anteriores, que sofriam com limitações do Switch e do Wii U, aqui a fluidez é excelente do começo ao fim. Mesmo com grandes hordas na tela e ataques cheios de efeitos visuais, não há quedas perceptíveis, tornando o combate muito mais agradável.
No geral, o gameplay oferece variedade, progressão sólida e um ritmo consistente que combina bem com o estilo de jogo. A presença de múltiplos personagens, sistemas inspirados em Tears of the Kingdom e o excelente desempenho fazem de Age of Imprisonment um dos musous mais completos da série.

Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é um excelente musou
Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é mais um acerto dentro da proposta musou e, na minha visão, também reforça um ponto curioso: esses jogos derivados de grandes franquias costumam ser mais interessantes do que os títulos da própria série Dynasty Warriors. Quando a Koei Tecmo trabalha com universos já consolidados (como The Legend of Zelda ou até Persona, com Strikers) o resultado tende a ser mais envolvente, porque os personagens, a ambientação e o arco narrativo já chegam com uma base muito forte. O estúdio só precisa transportar essa identidade para um formato de ação massiva, e isso funciona muito bem aqui.
Ao mesmo tempo, Age of Imprisonment também esbarra na limitação natural do gênero. Mesmo com variedade de personagens, upgrades, combinações e especiais, o “feeling” geral do combate não muda tanto assim. É divertido pegar o jogo no portátil ou na TV, jogar uma, duas, três fases, mas eventualmente o desgaste aparece e isso não é necessariamente culpa do jogo, e sim do estilo musou. Para quem não gosta desse tipo de experiência, não há milagre: mesmo sendo fã de Zelda, a repetição vai pesar.
Por outro lado, para quem gosta ou simplesmente não se incomoda com esse perfil de gameplay, aqui existe um conjunto muito sólido. Age of Imprisonment pega tudo que Tears of the Kingdom tem de forte em termos visuais, personagens e atmosfera, e traduz isso para o formato musou com competência. Dentro desse limite, ele eleva a fórmula ao máximo e entrega a versão mais completa da sub-franquia até hoje.
No fim das contas, é um bom jogo, um ótimo Hyrule Warriors e uma recomendação tranquila para quem tem curiosidade ou já aprecia o gênero. Claro, sempre com a ressalva de que estamos falando de um musou, com tudo de bom e de repetitivo que isso implica.
Essa análise de Hyrule Warriors: Age of Imprisonment segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
A guerra que moldou um reino
Visual, ambientação e gráficos - 8.5
Jogabilidade - 9
Diversão - 7.5
Áudio e trilha-sonora - 8
8.3
Ótimo
Com mapas amplos, hordas de inimigos e um enredo que mergulha mais fundo nos eventos que antecederam a queda de Hyrule, Hyrule Warriors: Age of Imprisonment consegue equilibrar fanservice, intensidade e espetáculo. A combinação de habilidades únicas dos heróis, chefes gigantes e missões cinematográficas cria uma experiência empolgante para quem gosta de combates em massa e quer revisitar o mundo de Zelda sob uma perspectiva mais focada na guerra.





