
Quando pensamos na longa trajetória da bolinha rosa da Nintendo, lembramos de dezenas de aventuras de plataforma, mas existe um capítulo específico na era do GameCube que, por anos, foi considerado uma “ovelha negra” cultuada por poucos e ignorada por muitos: Kirby Air Ride. O anúncio de Kirby Air Riders para o Nintendo Switch 2 pegou a todos de surpresa. Não apenas por reviver uma franquia adormecida há mais de duas décadas, mas por trazer de volta Masahiro Sakurai, criador da série e diretor de Smash Bros., para o comando do projeto junto com a Bandai Namco. O resultado é um título que mistura nostalgia com uma dose cavalar de caos.
Se você está esperando um clone tradicional de Mario Kart apenas com personagens de Kirby, é melhor ajustar suas expectativas antes de ligar o motor. Este não é um jogo de corrida convencional. Tivemos a oportunidade de testar essa nova aposta da Nintendo a fundo para responder à pergunta que não quer calar: será que essa sequência justifica a espera ou deveria ter ficado apenas na memória dos fãs mais nostálgicos? A resposta é complexa, mas adianto que a viagem vale cada segundo, mesmo com alguns solavancos no caminho. Convido você a embarcar nessa análise para descobrir o porquê.
Jogabilidade: Simples de Pegar, Difícil de Dominar
A primeira coisa que o jogador nota ao iniciar Kirby Air Riders é o esquema de controle. Diferente da maioria dos jogos de corrida modernos, aqui não existe um botão dedicado para acelerar. As naves (ou máquinas, como são chamadas) aceleram automaticamente. O foco do jogador fica totalmente na direção e no uso estratégico do botão de ação. Ao segurar o botão “A” ou “B” (dependendo da configuração), você freia para carregar um boost que é liberado ao soltar o botão, ideal para fazer curvas fechadas e ganhar velocidade nas saídas.
Pode parecer excessivamente simples no papel, e confesso que as primeiras partidas podem ser confusas para quem está acostumado a segurar um gatilho para correr. O jogo exige que você reaprenda a pilotar. No entanto, é nessa simplicidade que reside uma profundidade surpreendente. Dominar o timing dos boosts, saber quando planar e como aterrissar perfeitamente para ganhar velocidade extra cria um teto de habilidade alto. Além disso, cada um dos 21 personagens disponíveis possui uma habilidade especial única, adicionando uma camada estratégica que vai além de simplesmente escolher a nave mais rápida.



Falando nas naves, a variedade é impressionante e impacta diretamente o gameplay em Kirby Air Riders. Existem veículos focados em velocidade terrestre, outros que voam por longas distâncias e alguns que são verdadeiros tanques de guerra. A sensação de pilotagem muda drasticamente entre uma nave básica e os veículos mais pesados. O caos é garantido com o uso de itens e a mecânica de copiar habilidades dos inimigos na pista, transformando as corridas em batalhas frenéticas onde a liderança nunca está garantida até a linha de chegada.
Modos de Jogo: O Triunfo do City Trial e a Nostalgia do Top Ride
O pacote de modos de jogo é robusto, começando pelo clássico Air Ride ou Rali Rasante, que oferece corridas tradicionais em 18 pistas, misturando novas adições e versões remasterizadas em HD dos clássicos do GameCube. Apesar de divertido, este modo sofre de um problema estrutural: a ausência de campeonatos ou copas. As corridas são eventos individuais, o que pode desapontar quem gosta de progressão por torneios. Felizmente, o visual deslumbrante e a performance estável em 60 FPS (seja no modo portátil em 1080p ou na TV em 2K) vem para balancear um pouco do lado dos pontos positivos.

Por outro lado, o modo City Trial, ou Prova Urbana, retorna como o verdadeira núcleo do jogo. Para quem não conhece, é uma espécie de modo sandbox onde os jogadores têm cinco minutos em uma cidade aberta (agora expandida e chamada Skyah) para coletar adesivos que melhoram os atributos da nave, como velocidade, peso e planar. É uma corrida contra o tempo e contra os rivais, com eventos aleatórios que incluem a aparição de chefes como Dyna Blade e Kracko. Ao final do tempo, todos são levados para um minigame decisivo, que pode ser uma corrida de arrancada, uma batalha ou um concurso de planar. É viciante, caótico e, sem dúvida, onde você passará a maior parte do tempo, especialmente no modo online que se mostrou muito estável em nossos testes.
Outra adição muito bem-vinda é o retorno do Top Ride (Vista aérea). Este modo apresenta corridas com uma câmera isométrica (vista de cima), lembrando clássicos como Rock’n Roll Racing ou Biker Mice from Mars de Snes. São pistas menores, com controles que podem ser alternados para um estilo mais clássico, oferecendo uma diversão mais “arcade” e direta. É o tipo de modo perfeito para partidas rápidas com amigos no sofá, trazendo uma sensação nostálgica de brincar com carrinhos de controle remoto, mas com todo o polimento visual que o Switch 2 consegue entregar em Kirby Air Riders.
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Road Trip / Pé na Estrada: Uma História Cheia de Mistérios
Para os jogadores solo, Kirby Air Riders introduz o modo Road Trip (Pé na Estrada em português), que funciona como a campanha principal. Diferente da campanha de Smash Bros., aqui temos uma estrutura de mapa não-linear onde o jogador escolhe missões que variam entre corridas, minigames e batalhas contra chefes. O mais surpreendente é o investimento na narrativa: o jogo conta com dublagem, inclusive com vozes em português narrando a origem das naves e o mistério por trás de uma máquina chamada Zorah.
A história é estranhamente profunda para um jogo de corrida, mergulhando em memórias e “lore” que beiram o psicodélico e sombrio, algo que os fãs mais dedicados da franquia já aprenderam a esperar. No entanto, a progressão tem seus problemas. O sistema de desbloqueio de naves e personagens é atrelado a um checklist de conquistas que, por vezes, é bem vago. Além disso, existe uma barreira inicial chata: os desbloqueios feitos no modo história não se transferem imediatamente para o modo multiplayer de forma simples, o que limita as opções de naves quando você quer apenas jogar com amigos logo no início.

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Para ver o final verdadeiro de Kirby Air Riders e enfrentar o colossal chefe secreto, é necessário jogar o modo em New Game+, explorando caminhos alternativos que não estavam disponíveis na primeira jogada. Isso garante um fator replay alto (quase como um rogue). Ainda assim, é uma adição valiosa que diferencia o título de ser apenas um party game ou de corrida arcade.




Visual, Som e Personalização em Kirby Air Riders
Tecnicamente, o jogo é um espetáculo. As cores vibrantes típicas da série estão mais vivas do que nunca no novo hardware. Alguns mapas podem ser psicodelicos e com a câmera louca demais em alguns momentos. A trilha sonora merece destaque, trazendo de volta o compositor original do jogo de GameCube junto com músicos de Smash Bros. Ultimate. As músicas são dinâmicas e podem ser ouvidas em um player dedicado, reforçando o carinho com o aspecto sonoro.
A personalização também é um ponto forte. Existe uma “Garagem” onde você pode modificar suas naves com peças e decalques, além de colocar chapéus nos personagens. O jogo oferece ainda um modo de fotografia robusto e até a possibilidade de remapear todos os botões, garantindo acessibilidade. Embora a lista de personagens seja fixa em 21 pilotos, a variedade estética e mecânica é suficiente para manter o interesse por muito tempo.




Conclusão da análise Kirby Air Riders
Kirby Air Riders é a prova de que Masahiro Sakurai não sabe fazer um jogo “pela metade”. O que poderia ser um spin-off genérico de corrida se revela um pacote completo, recheado de conteúdo, segredos e uma jogabilidade que, embora exija uma curva de aprendizado inicial devido aos controles diferenciados, recompensa a habilidade do jogador de forma satisfatória. A mistura de caos no modo Prova Urbana com a narrativa intrigante do Pé na Estrada cria uma experiência única no catálogo da Nintendo.
Apesar de alguns tropeços no sistema de progressão e a falta de copas no modo de corrida padrão, Kirby Air Riders brilha pela sua originalidade e diversão pura. É um título que abraça a loucura de seu próprio conceito e entrega horas de entretenimento, seja sozinho ou no multiplayer. Kirby Air Riders é uma recomendação fácil para donos de Switch 2 e uma parada obrigatória para os fãs da bolinha rosa. Prepare-se para acelerar (sem botão de acelerar) e voar alto.
Essa análise de Kirby Air Riders segue nossas diretrizes internas. Confira aqui nosso processo de avaliação.
Caótico e viciante na medida certa
NOTA - 8.5
8.5
Ótimo
Apesar de alguns tropeços no sistema de progressão e a falta de copas no modo de corrida padrão, o jogo brilha pela sua originalidade e diversão pura. É um título que abraça a loucura de seu próprio conceito e entrega horas de entretenimento, seja sozinho ou no multiplayer. Kirby Air Riders é uma recomendação fácil para donos de Switch 2 e uma parada obrigatória para os fãs da bolinha rosa. Prepare-se para acelerar (sem botão de acelerar) e voar alto.




