
Hoje trago a análise de Skate Story, mais um daqueles projetos que explicam por que tanta gente (eu incluso) gosta tanto da Devolver Digital. A publisher segue apostando em ideias completamente fora da curva, e aqui não é diferente. Skate Story é desenvolvido por Sam Eng, um único desenvolvedor, e já começa chamando atenção pela mistura improvável entre skate e narrativa surreal.
De forma bem resumida, você controla um skatista que precisa literalmente resolver sua jornada realizando manobras. Isso mesmo: a história avança por meio do skate, e o modo como tudo é apresentado é tão incomum que chega a ser difícil colocar em palavras. Ainda assim, vou tentar explicar por que Skate Story me conquistou e por que vale a pena dar uma chance a ele.
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Coma a lua skatista de vidro
Como o próprio nome já entrega, Skate Story é literalmente uma “história de skate”, mas não no sentido comum. Aqui, tudo parte de uma premissa completamente fora da caixinha. Você controla uma alma incomodada pela luz da lua, assim como todas as outras almas desse submundo. A solução encontrada para esse incômodo? Comer a lua. Sim: comer a lua. É tão absurdo que chega a ser engraçado tentar explicar, mas dentro do jogo essa ideia faz sentido ou, pelo menos, faz sentido o suficiente para você embarcar nela.
Para cumprir essa missão, você acaba fazendo um pacto com o diabo. Esse pacto transforma seu personagem em um skatista feito de vidro e também lhe entrega um skate, que será seu meio de locomoção e a forma como você avança tanto na narrativa quanto no mundo. O detalhe é que, por ser de vidro, qualquer erro, queda ou manobra mal executada pode literalmente te quebrar em pedacinhos. É um conceito simples, mas que dá base para toda a estrutura de Skate Story.


A história em si é intencionalmente caótica e imprevisível. Nada segue uma lógica tradicional. Logo no início, por exemplo, o barulho das rodas do skate incomoda criaturas conhecidas como “olhos”, que atuam como sentinelas do submundo, e isso leva você a ser preso. Na prisão, um filósofo (sim, um filósofo) é quem controla o local. Ele começa a analisar suas motivações, tenta entender o que você está fazendo ali e, por algum motivo que também não segue nenhuma lógica comum, decide liberar você para continuar sua missão de comer a lua. É um tipo de narrativa em que nada se conecta de forma linear, mas tudo funciona dentro da proposta surreal do jogo.
A jornada é dividida em sete camadas, e cada uma funciona como um “mundo” com personalidade própria. Nessas camadas, você encontra criaturas e objetos antropomorfizados, como caveiras, quadrados, latas de lixo e entidades que conversam com você sobre temas estranhos, existenciais ou completamente aleatórios. Há algo de introspectivo nessa loucura toda, e apesar de não ser uma narrativa tradicional, ela te dá motivação para continuar avançando. E isso sempre por meio de manobras e desafios que destravam o caminho até a próxima camada.

Skate Story é simples, mas impressionante
Embora Skate Story não prenda tanto pela narrativa (que, honestamente, é difícil até de classificar como “sensata”) a força real do jogo está na ambientação e na trilha sonora. É aqui que tudo se encaixa de um jeito peculiar e completamente diferente do convencional.
A proposta visual parece simples à primeira vista, mas rapidamente revela uma complexidade absurda. Você está em um mundo escuro, no submundo, atravessando camadas que lembram diferentes versões do inferno até chegar ao próprio diabo para encerrar o pacto. Só que esse cenário sombrio é constantemente contrastado por estruturas iluminadas, num estilo surreal, como se todo o mundo fosse moldado por linhas de luz. É um visual que remete, em alguns momentos, a jogos como Tetris Effect: um ambiente escuro, mas repleto de cor, brilho e movimento.
Esse contraste entre luz e escuridão cria uma experiência marcante. A iluminação reage no próprio personagem, refletindo e dançando pelo corpo do skatista conforme ele se movimenta. Os inimigos e obstáculos também seguem essa lógica, aparecendo com cores vibrantes que estouram na tela e destacam ainda mais a identidade visual do jogo.


Apesar do estilo minimalista, a arte é extremamente única. É o tipo de trabalho difícil de explicar em palavras; você realmente precisa jogar para entender como essa estética estranha e ousada funciona tão bem. Além disso, cada camada do submundo traz pequenas inspirações de lugares reais como cidades, metrôs, ruas reinterpretadas dentro desse conceito surreal.
A trilha sonora acompanha tudo isso com a mesma ousadia. Há momentos quase musicais, em que o jogo te coloca para simplesmente avançar pelo cenário enquanto as luzes seguem o ritmo da batida, como se você estivesse em uma pista de dança. Isso acontece tanto em trechos mais lineares quanto em encontros contra inimigos ou chefes. É extremamente envolvente e dá ao jogo uma personalidade muito própria.
No fim, Skate Story entrega uma combinação estranha, única e fascinante de estilo visual e música. Mesmo sendo uma proposta totalmente fora do comum, ela funciona e funciona muito bem.

Faça manobras de formas únicas
Quando pensamos em um jogo de skate, é inevitável lembrar de Tony Hawk’s Pro Skater ou da série Skate, que voltou recentemente aos holofotes. Skate Story parte desse imaginário, mas segue um caminho completamente próprio. A maior parte do tempo você está sobre o skate, fazendo manobras clássicas — ollie, kickflip, heelflip, manual, grind — mas a forma como elas são executadas é bem diferente do que vemos em jogos de skate mais “arcade”.
Em vez de simplesmente apertar um botão para cada tipo de manobra, o jogo trabalha com uma lógica mais manual e técnica. O ollie, por exemplo, é o salto básico, mas as manobras derivadas dependem dos gatilhos. Um deles prepara o heelflip, o outro aciona um kickflip, e assim sucessivamente. O manual é feito com o analógico para baixo. Já o grind acontece naturalmente quando você acerta o ângulo do salto. No início parece estranho, mas faz sentido com a proposta de Skate Story: você realmente sente que está montando cada movimento.
As manobras não servem apenas para pontuar. Elas fazem parte de um ciclo de progressão: a cada fase você aprende técnicas novas que são usadas para resolver situações, passar por obstáculos e até enfrentar inimigos e chefes. Isso porque cada mundo tem seus desafios próprios, NPCs e objetivos onde todos acabam convergindo para o mesmo ponto: você precisa “comer a lua”. É uma mecânica tão maluca quanto parece.
E o combate segue a mesma lógica das manobras. Ao acumular pontos com combos, você pode liberar um ataque que converte todo esse desempenho em dano nos chefes. Basta apertar um botão (X no Xbox ou quadrado no PlayStation) quando estiver dentro da área de ação. Parece simples, mas chegar até lá exige atenção: há corredores estreitos, precipícios, espinhos, pontes, barreiras que só quebram com alta velocidade e outras situações que exigem precisão, reflexo e uso de tudo que você aprendeu.



Skate Story te deixa o tempo todo em alerta. A sensação de velocidade, junto da necessidade constante de reagir rapidamente, mantém o gameplay sempre intenso. E quando tudo se encaixa o jogo realmente brilha.
Mas aqui entra a minha única crítica. Apesar da proposta técnica e variada, existe um “atalho” que quebra parte da complexidade: o combo básico de ollie + manual. Alternando só essas duas ações, você já acumula uma pontuação suficiente para derrotar chefes com facilidade. Funciona tão bem que, nos momentos mais caóticos, você acaba recorrendo ao básico e ignorando boa parte das manobras aprendidas. É uma brecha no sistema, e pode desapontar quem espera que todos os confrontos exijam a mesma criatividade que o resto do jogo incentiva.
Mesmo assim, o gameplay de Skate Story é diferente de qualquer outro jogo de skate. Ele mistura técnica, ritmo, exploração e combate de uma maneira que soa estranha no papel, mas funciona muito bem na prática.

Skate Story é uma grata surpresa
No fim das contas, Skate Story foi uma surpresa enorme pra mim. Eu não sabia exatamente o que esperar e, ainda assim, o jogo acabou entregando uma experiência completa, estranha, divertida e muito própria. A história não é o elemento mais marcante, mas todo o resto trabalha em conjunto para criar algo que simplesmente não se parece com nada do que já joguei.
É mais um daqueles projetos da Devolver que justificam por que tanta gente gosta tanto do que eles publicam. É um jogo totalmente fora da caixinha, com ideias improváveis que, curiosamente, funcionam muito bem: desde as manobras mais técnicas até situações completamente absurdas, como literalmente lavar roupas para o diabo em determinado momento. Nada deveria fazer sentido… mas faz.
Os visuais merecem destaque. São simples na forma, complexos na execução, com um trabalho de luz e composição que impressiona o tempo todo. A trilha sonora acompanha perfeitamente essa ambientação, sempre reforçando o ritmo do skate e a sensação de estar em um mundo estranho, vivo e pulsante. A câmera também ajuda bastante, tornando a experiência ainda mais imersiva.
Apesar de um ou outro detalhe no gameplay que poderia ser melhor equilibrado, Skate Story acerta muito mais do que erra. Ele tem personalidade, estilo, um sistema de manobras único e aquela apresentação audiovisual que fica na memória. Se você gosta minimamente de jogos de skate, de experiências experimentais ou de projetos que brincam com música, luz e movimento, vale demais dar uma chance.
É um daqueles indies que realmente mostram como ideias diferentes podem render algo especial.
Essa análise de Skate Story segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Excelente
Visual, ambientação e gráficos - 9
Jogabilidade - 9
Diversão - 9
Áudio e trilha-sonora - 9
9
Um jogo estranho, estiloso e difícil de esquecer
Skate Story é um daqueles jogos que não deveriam funcionar no papel, mas funcionam maravilhosamente bem. Mistura skate, música, luz e uma proposta completamente fora da casinha para criar algo marcante. Os visuais e a trilha sonora são destaque absoluto, e o gameplay, embora tenha um ponto de simplificação nos combos, é criativo, intenso e diferente do comum. Um indie surpreendente e fácil de recomendar.





