De tempos em tempos surgem jogos independentes com propostas inovadoras e que misturam gêneros diferentes em uma aventura divertida e interessante. E por conta da quantidade gigantesca de games sendo lançados a todo momento, muitos destes se perdem entre os títulos de grande porte das gigantes do ramo. Ainda mais em anos como 2023, onde recebemos uma enxurrada de lançamentos AAA e fica difícil acompanhar o nichado mercado de jogos indie.
Neste ambiente nada propício para o sucesso, Infinity Guitars foi lançado prometendo realizar uma análise incomum dos gêneros de RPG e Ritmo. Mesclando ambos os gêneros, o game se propõe a apresentar uma narrativa num mundo distópico onde humanos perderam uma guerra contra robôs. Desenvolvido por um grupo pequeno de músicos, artistas e programadores, o projeto foi distribuído pela Humble Games e encapsula boas ideias, mas com uma execução não tão polida.
Essa análise de Infinity Guitars foi feita graças a um código de PC cedido pela desenvolvedora. Infinity Guitars está disponível para Xbox One e Series, Nintendo Switch e PC (via Steam e Microsoft Store).
Uma jornada rítmica
A narrativa de Infinity Guitars coloca os jogadores em um mundo destruído por robôs após uma guerra entre a humanidade e as máquinas. Os sobreviventes passaram a recolher sucatas e se reunir em vilarejos com os restos das construções, escondendo-se das ameaças que assolam as terras. No meio disso, a protagonista JJ embarca em uma aventura nada amigável de explorar ilhas flutuantes repletas de inimigos para resgatar seu avô.
Sendo aficionada por sua guitarra e música, JJ desperta um poder que transforma o instrumento em uma arma capaz de derrotar os robôs que vagam pelo mundo. E para acompanhá-la nesta viagem, a mesma conhece três outros personagens que tem diferentes passados e se unem ao grupo.
Um grande problema da história de Infinity Guitars é a maneira com a qual a narrativa se desenrola. Apesar do jogo estar repleto de diálogos e conter inclusive opções de resposta que afetam os atributos de seu personagem, as conversas são pouco interessantes e não parecem manter linhas de raciocínio que possibilitem uma conexão entre o jogador e os personagens. Isto afeta e muito a experiência, principalmente pelo game se categorizar como um JRPG.
Certas seções dos diálogos contam com duas opções de resposta, e o game não informa os jogadores como isto afetará seus atributos. Por conta disso, chega a ser frustrante selecionar uma resposta e ver que seu personagem perdeu pontos de ataque ou defesa, apesar de receber bonificações para outras maestrias.
Tocando o terror
A grande novidade de Infinity Guitars é a adição de um sistema de combate que gira em torno de precisão no acerto de notas. Enquanto há a opção de realizar ataques sem a necessidade de tocar uma seção musical, os ataques mais fortes fazem uso desta mecânica. Com isso, os jogadores são colocados em uma tela à-lá Guitar Hero onde notas diferentes correm pela tela e é necessário acertar o timing para que a porcentagem de ataque seja maior.
Além de algo interessantíssimo e que mistura dois gêneros que curto muito, a execução destas funcionalidades parece bastante limitada. É fácil se deparar jogando as mesmas músicas, e ainda pior, as mesmas seções da música, em uma batalha. Isso torna o processo cada vez mais entediante e deve cansar a maioria dos jogadores. Enquanto esta opção de design possa ser vista como a possibilidade de aprimorar a precisão dos jogadores, na minha experiência se tornou algo frustrante logo ao jogar a mesma seção pela quarta vez. Vale ressaltar que o combate também conta com a possibilidade de realizar solos entre os integrantes da equipe, aumentando ainda mais o dano dos ataques, assim como a duração da seção rítmica.
Já para esquivar dos ataques inimigos, é necessário passar por um minigame onde o jogador pode controlar o personagem atacado para os lados, e pressionar um botão para esquivar. Isso agrega uma dinamicidade e a possibilidade de sair ileso das batalhas, mas também se torna menos dinâmico. No mais, a progressão é bastante linear e não tem muitos pontos altos. É possível equipar um item para cada personagem a fim de aprimorar seus atributos e é divertido testar novas habilidades, que contam com buffs e debuffs, além de iniciar com uma animação bem polida, mas fora isso não há muito mais ao combate.
Em busca da batida perfeita
Além das seções de combate, o mundo é dividido por diversas ilhas, onde os jogadores precisam explorar. Ali, existem diversos desafios e inimigos a serem enfrentados. Além da movimentação padrão, é possível dar um rolamento para desviar-se de elementos do cenário. Conforme os jogadores atravessam os mapas, estarão espalhados alguns droides e outros empecilhos que causam dano aos personagens se acertados.
Os ataques também seguem a trilha sonora do jogo, mas senti uma falta de polimento na colisão do cenário e no posicionamento dos ataques inimigos. Fora isso, os jogadores também podem se deparar com guitarras no mapa que podem ser tocadas a fim de ativar mecanismos ou abrir portas. Ao interagir com as mesmas, inicia-se uma sessão de jogo rítmico idêntica às das batalhas, reforçando elementos que já são recorrentes no game.
É perceptível que Infinity Guitars tenha sido desenvolvido por um time bastante pequeno, o que justifica muitas falhas em questão de game design. A trilha sonora condiz com a ambientação e tem muitas músicas dignas de um videogame. E inclusive auxiliam em partes a experienciar o produto final, mas seja por falta de verba ou tempo, as mesmas se repetem tantas vezes que é difícil não se enjoar.
A arte do game é bem definida, trazendo traços mais cartunescos e que expressam bem os personagens, mas também não possui elementos impressionantes. O ponto alto são as animações de ataque, que trazem um dinamismo maior às seções e entretêm bastante.
O que achamos de Infinity Guitars
Como mencionado no título da análise, Infinity Guitars traz muitas boas ideias, mas o produto final se perde nestes conceitos e entrega uma aventura repetitiva e cansativa. Enquanto o game conta com um combate inovador e divertido nas primeiras horas, a narrativa é bastante arrastada e confusa. Fora isso, o desenvolvimento de personagens é pouco explorado e existe muito diálogo desconexo.
A trilha sonora é divertida e conta com muitas faixas que trazem um ar de batalhas contra chefão, mas a arte não anima muito. Também, os cenários contam com muitas falhas de paredes invisíveis e obstáculos que dificultam o desvio de ataques inimigos. Por conta disso, o game vem reunindo avaliações bem médias entre as mais diversas plataformas. Enquanto amantes de JRPG devem curtir e muito a experiência (apesar da história que deixa a desejar), com certeza o jogo deve decepcionar jogadores que não estejam tão dispostos a se entregar à aventura.
A análise de Infinity Guitars segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Infinity Guitars
Visual, ambientação e gráficos - 7
Jogabilidade - 6
Diversão - 5
Áudio e trilha-sonora - 8.5
6.6
Razoável
Infinity Guitar teria de tudo para se tornar uma pérola indie, mas por conta de diversas limitações, o jogo se perde em suas próprias ideias e entrega um produto repetitivo e cansativo de ser jogado.