Análise: Baldur’s Gate 3 é a perfeição do RPG
Provavelmente o melhor de todos os tempos.
Desenvolvido e distribuído pela Laurian Studios, famosa pela franquia Divinity Original Sins, finalmente após quase 3 anos de espera, Baldur’s Gate 3 foi lançado. Será que a espera compensou? Confira o que achamos em nossa análise de Baldur’s Gate 3.
O game está disponível para PC (via Steam e GOG) e chega para Playstation 5 no dia 2 de setembro. O game conta com legendas e interface em PT-BR. A versão de Xbox Series já foi confirmada e chega ainda em 2023.
Nem toda história de RPG começa em uma taberna
Como já é conhecido, a Larian Studios é famosa pela série Divinity Original Sin. E para quem teve oportunidade de experimentar essas obras, sabe da capacidade do estúdio em criar boas histórias. Em Baldur’s Gate 3, isso não foi diferente, e arrisco dizer que eles conseguiram se superar. Começamos o game com a opção de escolher um dos personagens pré-definidos ou criar o nosso personalizado.
A criação do zero pode ser um pouco menos intuitiva para quem não conhece as regras de D&D 5th. Claro, o game entrega explicações como atributos principais e finalidades das classes. Mas como esses afetam suas magias, ataques e resistências, exige do jogador um pouco de pesquisa. Mas isso não será um problema, pois o game conta com hint boxes para auxiliar no processo.
Após esse processo, quer escolhamos um personagem pronto ou criamos o nosso, começamos nossa aventura no mesmo lugar. Aprisionados sem um motivo ou contexto em um Nautiloid, uma nave orgânica feita de uma concha gigante com tentáculos. Elas são controladas por uma das raças mais cruéis do mundo de D&D, os Illithid – mais conhecidos como Mind Flayers.
Nesse ponto, até os menos conhecedores do universo podem encontrar alguma referência. Isso graças a maravilhosa série Stranger Things, onde um grupo de amigos apelida a criatura com esse nome. Porém, diferente da série, os Mind Flayers são criaturas humanoides com tentáculos brotando do rosto, uma pele roxa e poderes psíquicos incríveis, porém tão perversos quanto o da série.
Se livrar de uma infecção para não se tornar seu pior inimigo, seja como for…
Despertando nesse cenário grotesco, acordamos para uma situação ainda pior. Aprisionados em cápsulas, um Mind Flayer se aproxima com um tipo de verme que invade nosso cérebro de uma forma agoniante, entrando na lateral de nosso globo ocular.
Após isso, nosso captor vai para o convés do Nautiloid, onde podemos ver que a nave se aproxima de uma cidade que fica na hora em alerta. Com seus tentáculos, ele vai causando destruição e, ao tocar nos moradores, esses são transportados para dentro da nave como prisioneiros.
No entanto, nesse momento de desespero, portais se abrem de onde cavaleiros montados em dragões atacam a nave, causando danos severos. Após uma incrível batalha aérea – digna de um filme hollywoodiano – nos vemos livres dentro da nave desconhecida sobrevoando uma região infernal.
Resumindo sem dar muitos spoliers, nossos próximos passos são claros: fugir dessa nave e procurar uma cura para o que quer que o Mind Flayer tenha feito com a gente.
É impossível explicar o quão maravilhoso e rico foi a transposição do universo de D&D que o estúdio conseguiu com esse game. Não apenas isso, para quem conhece o jogo de livro, sabe a liberdade que nos é dada. Nessa análise, Baldur’s Gate 3 foi o mais próximo que consegui chegar dessa sensação.
Temos liberdade para trilhar nosso caminho do jeito que quisermos. Ajudar a proteger um esconderijo druídico? Que bondade! Mas quem sabe nos aliarmos aos goblins para saquearmos o mesmo? Claro, existem limites, porém o que conseguiram trazer foi uma liberdade absurda que, com certeza, vai render alguns replays.
O mundo fantasioso de Baldur’s Gate 3 reflete a imaginação dos livros – Análise
À primeira vista, Baldur’s Gate 3 já impressiona com uma introdução fantástica. Como comparativo, a última vez que me empolguei tanto com isso foi na introdução de Warcraft 3 – hoje um pouco defasada. Já na criação de personagem, já é possível notar a atenção nos detalhes gráficos do game. Sombras, dobras de roupas e até mesmo efeitos de ferimentos estão excepcionais.
Seu cenário também não fica para trás, trazendo florestas incríveis, cavernas escuras e calabouços macabros. A parte mais interessante é que, além do trabalho gráfico excepcional, houve um carinho especial em recriar cenários icônicos do universo de D&D. O maior exemplo disso é Umbreterna, ou Underdark, para quem, como eu, detesta tradução de nomes próprios. A rede de cavernas subterrâneas habitadas por drows (elfos negros), duergar (anões cinzentos) e outras criaturas maléficas e sinistras, como o popular Beholder.
Resumindo, o visual do game está fantástico, não apenas em sua qualidade gráfica, mas também em sua representação do continente de Faerûn, onde se passa nossa aventura. Existem críticas a serem feitas, como pequenos bugs onde o elmo não aparece e o personagem fica careca. Pequenos detalhes de clipping nas capas quando guardamos armas nas costas. Demora no save, que enquanto processado nossos personagens flutuam como estátuas. Mas nada disso tirou ponto do charme visual que o game entrega. E vale enfatizar que desde o seu lançamento, temos patchs quase que semanais onde diversas correções e melhoras de performance são aplicadas.
As regras do D&D 5th somadas aos elementos de Divinity
Para quem está familiarizado com os livros de D&D, vai encontrar uma certa facilidade em entender a mecânica do game. Já quem não é, talvez sofra um pouco para criar um personagem inicialmente bom. Mas o jogador pode ficar tranquilo, pois duas coisas facilitam nessa etapa. Primeiro, como já mencionado, os desenvolvedores colocaram dicas em praticamente tudo no game. Segundo, o jogo foi montado em cima da quinta edição, que simplificou bastante as regras dos livros. Logo, quem nunca experimentou uma partida de D&D está errado não vai encontrar barreiras para entender o game.
Explicando um pouco, é impossível resumir as regras de um livro de mais de 300 páginas, mas vou resumir o básico. O jogo se baseia em 6 atributos: força, destreza, constituição, sabedoria, inteligência e carisma. Cada uma possui mais ou menos relevância para a classe escolhida. Por exemplo, o paladino é um tipo de guerreiro santo, porém seu principal atributo é o carisma, representando sua presença diante das pessoas e do seu Deus. Isso o torna uma classe boa em persuasão e intimidação, pois são afetadas por esse atributo. Porém algumas habilidades de combate também, como o toque de cura, tem seu efeito aumentado.
O game é fiel as regras do livro e o resultado ficou incrível para os fãs. Mas ele não deixa de ter algumas implementações da franquia Divinity, e isso o torna ‘perfeito’. Isso porque a franquia aumenta ainda mais as possibilidades progredirmos da forma que quisermos, algo que geralmente é muito limitado em um RPG eletrônico. Quer distrair um vendedor enquanto o ladrão do grupo faz a rapa? Boa ideia! Montar armadilhas e obstáculos para os inimigos antes do combate? Por que não? Toda essa liberdade somada a mecânica de livro fez com que cada segundo dentro do game fosse amor puro.
Trilha sonora épica e dublagem cinematográfica
Até esse ponto da análise, deu para perceber que minhas impressões sobre o game é que ele é épico. Logo, falando de sua trilha sonora, ela não poderia ser deixada para trás. Todos os ambientes e situações trazem músicas que combinam e enaltecem o acontecimento. O melhor exemplo disso estão nas batalhas, que toca uma música frenética de combate. Essa característica não é nova na franquia. Lembro até hoje das músicas dos games anteriores e, com certeza, vou lembrar, no futuro, das de Baldur’s Gate 3.
Outra observação sobre sua trilha sonora, é que uma em específico pega bastante. Logo na introdução, temos uma música agradável que já nos ambienta no mundo de RPG. Porém, essa mesma música é repetida diversas vezes no game, mas com ritmos e melodias diferentes, e TODAS são excelentes!
E por último, porém tão importante quanto, temos a dublagem do game. Infelizmente nosso personagem é mudo nos diálogos diretos, se limitando a comentários na exploração e no combate. Mas isso está longe de ser um problema, pois todos os personagens possuem dublagem e voz própria, até mesmo os animais.
Sim, assim como na franquia Divinity do estúdio, em Baldur’s Gate 3 tem existe métodos para falarmos com animais. Mas isso não foi uma adaptação a D&D visto que o próprio livro mostra habilidades e magias que permitam esse feito.
Como já mencionado, todo RPG eletrônico possui limitação a livre intepretação dos livros, porém Baldur’s Gate 3 é o que chega mais perto dessa liberdade, pois até o ato de falar com animais nos permite descobrir novas missões ou dicas sobre o mundo em que estamos.
Conclusão da nossa análise de Baldur’s Gate 3
Em primeiro lugar, como definir Baldur’s Gate 3? Épico? Dinivo? Quase perfeito? Fazia tempo que eu não pensava em um desses adjetivos para definir um jogo, e cá estou, pensando em alguns. Com uma história riquíssima e interessante, trazendo praticamente toda o folclore do mundo de D&D, o game te prende do início ao fim. E melhor, dado a variedade de opções que podemos seguir, a rejogabilidade dele é de mais de 9000 (referências).
Seu visual é, além de excelente graficamente, bem criativo, conseguindo recriar localizações, criaturas, raças e até mesmo personagens famosos da forma mais fiel possível. Acima de tudo, deu para notar que sou fã do RPG de livro e esse é outro ponto do game que para mim foi um desbunde. Ainda mais somado a mecânica de Divinity, que o deixou mais próximo do interpretativo que são os livros.
E fechando com chave de ouro, o game possui uma trilha sonora maravilhosa que combina perfeitamente bem com a ambientação e os momentos. Além de uma dublagem excelente, onde até os animais possuem sua própria voz.
Em suma, Baldur’s Gate 3 foi – e está sendo – para mim um dos melhores jogos da minha vida. A última vez que me apaixonei assim foi com o lançamento de Skyrim 3. Se você é fã dos livros, não vai encontrar nada tão próximo a isso – talvez Solasta, mas a liberdade é infinitamente melhor. E se você não for, está errado novamente, mas gosta de RPG com certeza vai amar o game se der uma chance.
Essa análise de Baldur’s Gate 3 segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Baldur's Gate 3
Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 10
Diversão - 10
Áudio e trilha-sonora - 10
10
Perfeito (quase)
Baldur's Gate 3 se provou como uma verdadeira obra prima do RPG. Uma evolução digna de seus antecessores que vai agradar aos fãs de D&D e os de RPG em geral. E até mesmo suas falhas muito pontuais são corrigidas dia após dia pelos seus desenvolvedores, não dando espaço para alguma crítica negativa.
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