Análise: Alone in The Dark (2024)
Um jogo excelente, mas com problemas de performance graves
Alone in the Dark de 1992 é amplamente considerado um dos pioneiros do gênero survival horror, apresentando câmeras fixas, recursos limitados e uma narrativa sobrenatural inspirada em Lovecraft. Décadas depois, a THQ Nordic e a Pieces Interactive resolveram revisitar esse clássico cult com um remake completo em 2024.
Após muita expectativa e alguns adiamentos, Alone in the Dark finalmente chegou, trazendo uma mistura única de novos e antigos elementos para a franquia. Nós tivemos a oportunidade de jogar o jogo antecipadamente para trazer as nossas opiniões sobre ele aqui, e eu já adianto, eu gostei muito dele, mesmo com algumas falhas importantes que eu vou mencionar nessa análise. Se você quer saber tudo sobre Alone in the Dark, e o jogo vale a pena, confira a nossa análise completa abaixo.
Um enredo bem elaborado
A história de Alone in the Dark é um verdadeiro triunfo narrativo e um dos principais destaques do jogo. A premissa central gira em torno da investigação do misterioso desaparecimento de Jeremy Hartwood, um artista atormentado, dentro da antiga mansão Derceto, agora transformada em um controverso asilo psiquiátrico. É nesse cenário carregado de sombras do passado que Emily Hartwood, a determinada sobrinha de Jeremy, e Edward Carnby, um detetive veterano e amargurado, se unem em uma jornada sombria repleta de reviravoltas psicológicas dignas de um verdadeiro thriller.
Desde os primeiros momentos, o jogador é imerso em uma trama que flerta constantemente com temas profundos como trauma, fé, maldade e o sentimento de abandono. A mansão Derceto guarda segredos obscuros em cada canto, e à medida que Emily e Edward avançam em suas investigações, as linhas entre realidade e loucura começam a se misturar. A narrativa é incrivelmente construída para manter os jogadores constantemente desconfiados e inseguros sobre o que é real e o que é fruto da imaginação perturbada dos personagens.
Dando vida a essa trama cativante, estão as performances de alto nível dos atores de Hollywood Jodie Comer e David Harbour. Comer, conhecida por seu aclamado papel em Killing Eve e sua atuação em Free Guy, interpreta Emily Hartwood, transmitindo uma combinação cativante de determinação e vulnerabilidade. Enquanto isso, Harbour, que brilhou em séries como Stranger Things e filmes como Viúva Negra, dá vida ao detetive Edward Carnby com uma intensidade sombria e uma entrega emocional impressionante, digna de filmes de máfia da década de 20.
As atuações dos dois vão muito além de simples dublagens, com capturas faciais e expressões corporais bem capturadas, dando vida aos protagonistas de forma imersiva. A química entre Comer e Harbour é muito boa, criando uma conexão profunda com os personagens que convida os jogadores a explorarem todos os segredos e nuances de suas jornadas individuais. Jogar como Emily ou Edward revela perspectivas únicas dentro da história, trazendo detalhes que enriquecem a experiência narrativa como um todo.
No comando da trama, está o aclamado escritor Mikael Hedberg, a mente por trás de clássicos modernos de terror psicológico, como SOMA e Amnesia. A expertise de Hedberg no gênero fica evidenciada ainda mais em Alone in the Dark, com os mistérios que desafiam constantemente as percepções do jogador. Os temas explorados são abordados com profundidade e nuance, criando camadas complexas de interpretação e discussão.
Foco total na atmosfera
Um dos maiores triunfos de Alone in the Dark é a sua habilidade em criar uma atmosfera verdadeiramente opressiva e assustadora, que permanece durante todo o gameplay. A mansão Derceto, cenário central do jogo, é muito mais do que um simples pano de fundo – ela se torna um personagem em si, com uma personalidade sombria e perturbadora que oprime o jogador em cada novo corredor.
Explorar a mansão é uma experiência claustrofóbica e tensa, onde cada novo ambiente transporta uma sensação de perigo. Desde portas trancadas que ocultam segredos obscuros a escadarias barulhentas que dão a sensação de ter alguém atrás do personagem, cada elemento do cenário foi bem trabalhado para criar uma atmosfera sufocante.
E por trás de cada canto, por trás de cada porta fechada, existem os habitantes enigmáticos da mansão Derceto, sejam eles pacientes ou funcionários. À medida em que avançamos na história do jogo, vamos conhecendo aos poucos as facetas de cada um deles, que vão nos dando dicas sobre o paradeiro de Jeremy e a história sombria por trás da mansão.
E claro, a atmosfera opressiva de Alone in the Dark não se limita apenas aos visuais impactantes. A trilha sonora recheada de Doomjazz é uma parte fundamental da experiência do jogo. As composições atmosféricas se entrelaçam perfeitamente com a ação em cada momento, aumentando a sensação de perturbação e imersão durante a jogatina.
Exploração com bastante backtracking
Aliás, falando nisso, um dos aspectos mais cativantes de Alone in the Dark é a forma brilhante como o jogo permite e incentiva a exploração dos seus ambientes. A mansão Derceto, o cenário central da trama, é um verdadeiro labirinto repleto de segredos e mistérios a serem descobertos. Cada corredor ou sala empoeirada esconde enigmas que exigem atenção.
Esses puzzles são bastante desafiadores, testando a capacidade de observação e raciocínio lógico do jogador. À medida em que esses enigmas são solucionados, novas áreas da mansão Derceto são reveladas, desvendando camadas cada vez mais profundas de sua história sombria, além de novos cenários. Por meio de um antigo talismã, os jogadores têm acesso a dimensões inspiradas nas memórias de Jeremy.
Essas sequências transportam o jogador para cenários diversos, que vão desde as ruas do bairro francês de Nova Orleans até os pântanos assombrados da Louisiana. Em um momento, os jogadores podem se encontrar explorando uma plataforma de petróleo abandonada no meio do oceano, e no instante seguinte, eles são arremessados para o Egito antigo. Essa variedade de cenários é bastante instigante, mantendo o jogo cativante e imprevisível, já que nunca se sabe o que o próximo portal pode revelar.
Uma jogabilidade com altos e baixos
Em termos de jogabilidade, Alone in the Dark usa franquias como Resident Evil como inspiração, trazendo elementos clássicos do gênero survival horror para uma experiência moderna ao melhor estilo Resident Evil 2 Remake. A câmera sobre os ombros, que tem sido cada vez mais usada também em jogos de terror, contribui muito para trazer a sensação de medo, já que ela coloca os jogadores no centro da ação.
Aliada a essa perspectiva, a necessidade constante de gerenciar recursos escassos como munição e itens curativos evoca a tensão característica do gênero survival horror. Cada disparo de arma e cada item utilizado para recuperar a saúde é uma decisão crítica que pode significar a diferença entre a sobrevivência e a morte.
Esse gerenciamento de recursos é ainda mais desafiador por conta da natureza não-linear do ambiente. Jogadores distraídos podem facilmente se perder nos corredores da mansão, esgotando suprimentos antes mesmo de encontrarem o caminho correto. Essa tensão constante cria uma atmosfera de perigo iminente, onde cada decisão pode ter consequências devastadoras.
Um dos destaques inquestionáveis da jogabilidade de Alone in the Dark são os puzzles, que são bem elaborados e desafiadores, exigindo um certo nível de raciocínio lógico e atenção aos detalhes. Cada obstáculo é cuidadosamente projetado para testar as habilidades dos jogadores, sem serem frustrantes demais.
Agora, nem tudo são flores. Infelizmente, um aspecto em que Alone in the Dark deixa a desejar é o combate. Por mais que ele esteja presente em vários momentos, o sistema é muito simples e pouco desafiador, com inimigos fáceis e com uma inteligência artificial pouco trabalhada.
Fora isso, as armas disponíveis são limitadas e falham em transmitir a sensação de peso e impacto. O hitbox do jogo é um tanto quanto estranho, e os inimigos muitas vezes se comportam de maneira previsível e repetitiva, diminuindo o senso de perigo e tensão.
É evidente que a Pieces Interactive não dedicou esforços suficientes para aprimorar o sistema de combate de Alone in the Dark, o que é uma uma grande pena. Por mais que esse não seja o foco principal, um sistema mais robusto e desafiador certamente teria deixado o jogo ainda mais interessante.
Gráficos de primeira, mas a performance…
Do ponto de vista visual, Alone in the Dark não deixa a desejar. Cada cenário, desde os corredores sombrios da mansão Derceto até os pântanos assombrados da Louisiana, foi construído com muito carinho e um nível de detalhes excelente.
A iluminação é um destaque à parte, com uma luz indireta realista que contribui para a atmosfera assustadora de cada ambiente. Mas os visuais impressionantes de Alone in the Dark não se limitam apenas aos cenários. Os modelos dos personagens principais e coadjuvantes são igualmente bem feitos, capturando cada detalhe com fidelidade.
Mesmo os modelos dos inimigos que assombram a mansão Derceto e as diferentes dimensões foram muito bem construídos, tornando cada encontro uma experiência visualmente impactante.
Agora, os elogios à parte técnica param por aí. Infelizmente, apesar da experiência visual ser excelente, a performance técnica do jogo deixa muito a desejar, prejudicando a imersão e a experiência geral, ao menos no PC. O jogo sofre de problemas recorrentes de stuttering, derivados do uso do Unreal Engine, que atrapalham constantemente a fluidez da jogabilidade, interrompendo do nada momentos tensos com travamentos e engasgos frustrantes.
Esses problemas de performance pioram ainda mais durante as transições entre a realidade da mansão Derceto e as diferentes memórias de Jeremy, que exigem muito do SSD, da CPU e da RAM do PC para realizar transições instantâneas de cenário. Nesses momentos cruciais, o jogo trouxe quedas bruscas e significativas de desempenho, mesmo no nosso PC High End, que conta com um SSD de 1TB a 6800/MBs, 32GB de RAM a 3600MHz, um processador 5800X3D e uma 3080 ti.
A sensação que fica é que o jogo luta para carregar e processar todos os detalhes a tempo, sobrecarregando o hardware e causando engasgos e travamentos que quebram completamente a imersão. Esses problemas técnicos são particularmente frustrantes, se a gente considerar o aspecto visual do jogo, que é excelente.
É evidente que os desenvolvedores precisam dedicar esforços significativos para otimizar e corrigir esses problemas técnicos o mais rápido possível, para que os jogadores possam jogar o jogo sem interrupções ou travamentos que prejudiquem a imersão e a atmosfera cuidadosamente construída.
É importante mencionar que o jogo roda de forma surpreendente no Steam Deck, mesmo que ainda com stutters, e consegue se manter na casa dos 40 FPS com certa tranquilidade no seu preset médio. Com relação ao PS5, os stutters são muito mais raros, o que evidencia que a versão de PC precisa de uma atenção especial da desenvolvedora.
Conclusão – Análise: Alone in The Dark
Para resumir esse análise, Alone in the Dark é um retorno envolvente do clássico survival horror da década de 90. Com uma narrativa cativante, atuações de alto nível e uma ambientação assustadora e detalhada, o jogo se destaca como uma releitura bem-sucedida do original. No entanto, os problemas de performance e o sistema de combate fraco impedem que ele atinja todo o seu potencial.
Se você é fã de narrativas psicológicas sombrias, e uma boa dose de tensão survival horror, Alone in the Dark certamente vale a experiência. Agora, eu recomendo fortemente aguardar as correções de desempenho do jogo antes de mergulhar completamente na trama da Mansão Derceto. Com alguns ajustes técnicos, Alone in the Dark pode se firmar como uma releitura imperdível de um clássico cult do gênero.
Essa análise de Alone in The Dark segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.
O retorno do clássico da era do survival horror
Nota - 8
8
Ótimo
Apesar dos seus problemas graves de performance no lançamento, Alone in The Dark consegue trazer uma história e puzzles excelentes, dignos dos melhores jogos do gênero survival-horror.