Análise: Assassin’s Creed Shadows
Esse é o meu jeito ninja de ser, tô certo.

Após dois anos do lançamento de Assassin’s Creed Mirage, a Ubisoft apresenta Assassin’s Creed Shadows, sua mais recente incursão na aclamada franquia. Enquanto Mirage resgatou elementos clássicos da série, Shadows retorna ao formato RPG estabelecido na trilogia Origins-Odyssey-Valhalla, incorporando o sistema dois de protagonistas distintos que foi introduzido em Syndicate.
A tão aguardada aventura no Japão feudal finalmente se materializa, mas será que ela corresponde às expectativas dos fãs? Nossa análise detalhada responde a essa questão
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Unificando o Japão pela liberdade
Ambientado em 1580, Assassin’s Creed Shadows transporta os jogadores a um período turbulento da história japonesa, quando poderosos generais disputavam o controle territorial do arquipélago. Entre as figuras históricas mais proeminentes dessa era, destaca-se Oda Nobunaga – um líder que passou de “tolo” a “Rei Demônio do Sexto Céu”, e que se torna peça central desta nova narrativa.
A trama se desenvolve através de dois protagonistas com motivações opostas: Naoe, uma shinobi que busca vingança contra Nobunaga após o devastador ataque à província de Iga, e Yasuke, um ex-escravo que encontrou propósito e liberdade sob a tutela do mesmo senhor da guerra. Apesar do antagonismo inicial, ambos se veem forçados a colaborar diante de uma ameaça que transcende a própria unificação do Japão.
A narrativa demonstra maturidade em sua construção, desenvolvendo não apenas os protagonistas, mas todo o elenco de personagens com profundidade e nuance. O roteiro equilibra habilmente momentos de tensão, drama e humor, enquanto integra figuras históricas importantes como o lendário ninja Hattori Hanzo.
Particularmente notável é a direção cinematográfica das cutscenes, que presta uma clara homenagem ao cinema japonês clássico. As referências visuais a obras-primas como ‘Os Sete Samurais’, ‘Kagemusha’, ‘Harakiri’ e até mesmo as adaptações live-action de ‘Rurouni Kenshin’ evidenciam um profundo respeito pela estética e tradição cinematográfica nipônica.
Visuais deslumbrantes e trilha sonora marcante
Assassin’s Creed Shadows estabelece um novo patamar de qualidade visual para a Ubisoft. O título impressiona com paisagens deslumbrantes e florestas densas que rivalizam com a qualidade gráfica de Kingdom Come: Deliverance II. A beleza técnica é especialmente notável nos personagens, com um nível de detalhamento excepcional em texturas de pele, cicatrizes, pelos e na física realista dos cabelos.
A atenção aos detalhes se estende ao elenco secundário, superando a tendência da indústria de simplificar personagens não-protagonistas. Mesmo NPCs com papéis menores receberam tratamento visual distinto, embora personagens de preenchimento urbano mantenham uma aparência mais básica, como esperado.
O aspecto técnico apresenta pequenos contratempos, como pop-ups ocasionais de textura em objetos específicos, como baús, mas são ocorrências isoladas que pouco impactam a experiência geral.
A trilha sonora merece destaque especial por sua autenticidade e adequação ao período histórico. As composições contribuem significativamente para a imersão no Japão feudal, complementando a atmosfera visual com maestria.
O trabalho de localização oferece opções de áudio em português brasileiro, inglês e japonês – sendo este último o mais recomendado para uma experiência autêntica. Vale notar que, na versão prévia analisada, foram identificados problemas de mixagem em alguns diálogos iniciais, resultando em picos de volume indesejados. Resta aguardar se estas questões serão endereçadas no patch do dia de lançamento.
Adaptar a experiência ao seu gosto
Assassin’s Creed Shadows inova ao priorizar a adaptabilidade, permitindo que o jogo se molde às preferências do jogador, e não o contrário. Esta flexibilidade se manifesta em três aspectos fundamentais.
O jogo oferece duas abordagens distintas para a exploração do mundo: o modo imersivo, que privilegia a descoberta orgânica através de diálogos, pistas e observação do ambiente a partir de pontos elevados; e o modo direcionado, mais tradicional, que revela pontos de interesse automaticamente no mapa. Embora o modo imersivo seja recomendado para uma experiência mais profunda, a opção mais direta permanece disponível para jogadores que preferem um ritmo mais ágil. Vale notar que este sistema, introduzido em Odyssey, foi refinado para esta nova iteração.
Herdando uma funcionalidade introduzida em Valhalla, o jogo permite personalizar o funcionamento da Hidden Blade. Jogadores podem optar pelo assassinato instantâneo tradicional ou desativar esta característica para uma experiência mais alinhada com elementos RPG, desenvolvendo habilidades de assassinato através da árvore de talentos.
A maior inovação de Shadows está em seu modo canônico. Os jogadores podem experimentar a narrativa de duas formas: seguindo um caminho próprio com múltiplos finais possíveis, ou aderindo à versão canônica dos eventos, considerada a “verdadeira” história. Mesmo optando pelo modo canônico, o jogo mantém certa flexibilidade, permitindo o desenvolvimento de relacionamentos românticos com personagens secundários.
Seja furtivo como um shinobi ou um grande guerreiro como samurai
Assassin’s Creed Shadows apresenta dois estilos distintos de jogabilidade através de seus protagonistas, cada um com características e mecânicas únicas que enriquecem a experiência de jogo.
Naoe personifica a essência do shinobi, destacando-se pela agilidade e furtividade. Sua expertise em parkour, combinada com um arsenal de ferramentas ninjas e um gancho para escaladas rápidas, a torna ideal para infiltrações. Contudo, sua baixa resistência física a torna vulnerável em confrontos diretos, especialmente contra múltiplos oponentes ou em lutas individuais contra chefes.
Yasuke representa o poder bruto do samurai, combinando força sobre-humana com excepcional resistência em combate. Embora não possua ferramentas especiais, domina o uso de arco e armas de fogo para ataques à distância. Sua força extraordinária, porém, limita sua mobilidade – um detalhe que se reflete em mecânicas realistas, como cordas que se rompem sob seu peso e impossibilidade de atravessar estruturas frágeis.
O jogo incentiva o uso de ambos os personagens, com missões que favorecem tanto a abordagem furtiva de Naoe quanto o estilo direto de Yasuke. A impossibilidade de alternar entre personagens durante as missões, exceto em momentos específicos da narrativa principal, exige planejamento prévio.
O sistema de combate evolui a base estabelecida em Assassin’s Creed Mirage, incorporando elementos de Valhalla, como o uso de habilidades especiais durante as batalhas. A dificuldade apresenta um desafio consistente, mantendo-se desafiadora mesmo com personagens bem desenvolvidos e equipamentos aprimorados.
Quanto ao sistema de equipamento, o jogo adota o modelo de saque (loot) familiar aos jogadores de Origins e Odyssey.
Um mundo vivo
Assassin’s Creed Shadows apresenta um mundo dinâmico e pulsante, povoado por uma fauna diversificada e facções em constante conflito. O jogo oferece uma variedade de atividades paralelas, desde sessões de meditação que revelam o passado de Naoe até o aprendizado de katas com Yasuke, além de numerosas missões secundárias que enriquecem a narrativa.
Embora o mapa seja extenso e abranja as principais províncias japonesas, a exploração apresenta alguns desafios notáveis. O terreno frequentemente íngreme limita as possibilidades de atalhos, um contraste significativo com a liberdade de movimento característica da série e de outros mundos abertos. Esta característica força frequentemente o jogador a seguir rotas predeterminadas, resultando em trajetos mais longos até os objetivos.
O sistema de montaria também reflete uma abordagem mais realista, às vezes em detrimento da jogabilidade. Os cavalos demonstram limitações críveis ao enfrentar terrenos acidentados, exigindo que o jogador se mantenha nas estradas estabelecidas para uma navegação eficiente. Diferentemente de títulos anteriores da série, o jogo não inclui combate montado, restringindo o uso do cavalo apenas para locomoção.
Em termos técnicos, a versão analisada apresenta alguns problemas pontuais como as raras ocorrências de Naoe ficando presa em certas áreas do mapa.
Evolução
A progressão em Assassin’s Creed Shadows se estrutura através de um sistema integrado de desenvolvimento para ambos os protagonistas. Naoe e Yasuke compartilham o progresso de níveis e dispõem de seis árvores de habilidades cada, permitindo uma evolução simultânea e equilibrada. O sistema de progressão contempla diferentes estilos de jogo, com árvores específicas para cada tipo de arma, além de especializações únicas para Naoe nas vertentes shinobi, furtividade e uso de ferramentas.
O investimento de pontos de habilidade desbloqueia uma variedade de capacidades, incluindo golpes especiais, ferramentas ninja aprimoradas, movimentos avançados e expansão do limite de munições. Este sistema oferece considerável flexibilidade na personalização do estilo de combate de cada personagem.
O gerenciamento de equipamento segue o modelo tradicional de progressão por níveis, exigindo atualizações frequentes conforme itens superiores são obtidos. Esta abordagem, embora funcional, contrasta com o sistema mais refinado de Valhalla, onde conjuntos de armadura mantinham sua relevância ao longo do jogo, oferecendo características únicas em vez de serem meramente substituíveis.
Complementando o desenvolvimento dos personagens, o jogo introduz um sistema de gestão de esconderijo, permitindo a construção e aprimoramento de estruturas que concedem benefícios estratégicos. Entre as instalações disponíveis, destacam-se uma ferraria própria e um sistema de batedores, que facilitam a obtenção de recursos.
Conclusão da análise de Assassin’s Creed Shadows
Assassin’s Creed Shadows apresenta uma visão majestosa do Japão feudal, orquestrando com maestria a junção entre narrativa envolvente, mecânicas diversificadas e ambientação detalhadamente construída. O contraste entre as jornadas de Naoe e Yasuke proporciona uma perspectiva multifacetada sobre a figura histórica de Oda Nobunaga, enquanto enriquece o universo com personagens históricos cuidadosamente retratados. A excelência técnica dos visuais, combinada com uma trilha sonora autêntica e direção cinematográfica que homenageia clássicos do cinema japonês, estabelece novos padrões para a franquia.
A utilização dos dois protagonistas permite a alternância entre a furtividade da ninja e o combate direto do samurai, embora a impossibilidade de trocar personagens durante as missões represente uma limitação notável. O robusto sistema de progressão e personalização apresenta opções interessantes, apesar do modelo de equipamento baseado em níveis poder gerar certo descontentamento entre jogadores que preferem equipamentos mais permanentes.
Imperfeições técnicas ocasionais, como pop-ups de textura e bugs isolados, não comprometem a experiência central, embora aspectos como a navegação em terreno acidentado e a ausência de combate montado possam causar momentos de frustração ou estranheza.
Em sua totalidade, Assassin’s Creed Shadows representa uma evolução significativa para a série, preservando sua identidade fundamental enquanto introduz inovações pertinentes. O resultado é uma aventura memorável que honra tanto suas raízes quanto o rico cenário histórico em que se desenvolve.
Essa análise de Assassin’s Creed Shadows segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.
Uma das melhores obras atuais da franquia
Visual, ambientação e gráficos - 8
Jogabilidade - 8
Diversão - 8
Áudio e trilha-sonora - 8
Narrativa - 10
8.4
Ótimo
Assassin’s Creed Shadows traz uma experiência imersiva no Japão feudal, com uma narrativa envolvente e personagens bem desenvolvidos. A dualidade entre Naoe e Yasuke adiciona profundidade ao enredo, enquanto a ambientação e o visual detalhado enriquecem a imersão. A trilha sonora e as dublagens são pontos fortes, mas problemas técnicos, como pop-ups de textura e bugs pontuais, podem impactar a experiência. A jogabilidade permite uma abordagem flexível, mas a navegação em terrenos íngremes e a ausência de combate montado podem frustrar alguns jogadores. No geral, o jogo equilibra inovação e familiaridade, oferecendo uma nova perspectiva à franquia.