
Quando o assunto é drift, é quase inevitável não lembrar de Initial D, o clássico mangá e anime que ajudou a popularizar e solidificar essa vertente do automobilismo no imaginário de muitos. A história do jovem Takumi, um piloto talentoso que dominava curvas nas montanhas com seu AE86, marcou uma geração e ajudou a levar a cultura do drift para um novo patamar.
JDM: Japanese Drift Master surge nesse cenário com uma proposta clara: apresentar sua própria narrativa de ascensão no universo do drift japonês. No lugar de Takumi, temos Touma, um protagonista que chega de fora e começa a construir seu nome no competitivo cenário das corridas nipônicas.
Mas será que JDM: Japanese Drift Master consegue capturar a essência do que tornou Initial D tão cativante? E mais: será que ele tem força para se consolidar como uma nova referência entre os jogos focados em drift? Ao longo desta análise, vamos explorar o que JDM tem a oferecer. E, desde já, vale destacar que estamos diante de um título muito mais voltado à arte do drift do que às corridas tradicionais.
JDM: Japanese Drift Master é uma história em mangá
JDM: Japanese Drift Master se passa em Guntama, uma região fictícia que remete diretamente à prefeitura de Gunma, local real e amplamente conhecido como berço da cultura do drift no Japão. O jogo apresenta uma variedade de cenários inspirados em áreas urbanas e rurais típicas do país, incluindo construções, florestas, montanhas, lagos e uma cidade claramente inspirada em Tóquio, com direito até à visão do Monte Fuji ao fundo.
Nesse contexto, acompanhamos a jornada de Touma, um protagonista que chega do exterior, mais especificamente da Polônia, em uma clara referência à origem dos desenvolvedores. Mesmo não sendo um entusiasta do drift desde sempre, Touma demonstra habilidade natural e grande interesse em se destacar nesse universo.
Ao longo da campanha de JDM: Japanese Drift Master, o jogador é apresentado a mais de 20 missões variadas, que servem como etapas do progresso de Touma no cenário do drift. Cada missão é introduzida por meio de páginas de mangá que narram os acontecimentos, reforçando a estética inspirada em obras como Initial D. Nesse formato, a história se desenvolve de maneira leve e cativante, enquanto o protagonista forma laços com outros personagens, monta sua própria equipe, conquista patrocínios e encara rivais que duvidam de sua capacidade por ser um “gaijin” (termo japonês usado para estrangeiros).
Os personagens são variados e transitam entre arquétipos clássicos: há os amigáveis, os hostis, os rivais arrogantes e os que se tornam aliados inesperados. Embora a trama siga uma linha previsível e carregue certos clichês típicos de histórias de superação, ela é conduzida de forma eficiente e tem o mérito de apresentar várias homenagens discretas ao universo do drift japonês. Um exemplo é o primeiro carro disponível para compra: um modelo genérico do Toyota Corolla Levin, parente menos famoso do icônico AE86 Trueno.
Ambientação e Som
Desde os primeiros trailers, JDM: Japanese Drift Master já chamava atenção pela fidelidade visual à cultura japonesa do drift. E felizmente, essa promessa se confirma no jogo final. Mesmo ambientado na fictícia região de Guntama, o cenário apresenta uma recriação rica e detalhada que remete diretamente à prefeitura de Gunma. Ao jogar, a sensação de imersão é imediata: ruas estreitas, trilhas montanhosas sinuosas, lagos serenos, florestas densas e cidades vibrantes com o Monte Fuji surgindo ao fundo.
Testando JDM em um PC equipado com uma RTX 4070 Super, processador Ryzen 7 5800X e 32 GB de RAM DDR4, foi possível alcançar uma média estável de 100 quadros por segundo em resolução 2K, com as configurações próximas do ultra. Mesmo com a versão pós-lançamento ainda apresentando pequenos ajustes pendentes, a performance se manteve sólida, entregando uma experiência visual impressionante.
Os ciclos de tempo e clima são um dos pontos altos da ambientação. As mudanças de hora do dia e condições climáticas (como manhãs ensolaradas, noites chuvosas, temporais intensos ou tardes nubladas) afetam diretamente a percepção do ambiente, influenciando reflexos, iluminação e até a atmosfera das corridas. O visual noturno em áreas urbanas, com luzes de neon refletindo no asfalto molhado, é um grande destaque.
Apesar do capricho visual, há algumas falhas técnicas a destacar. A reconstrução de imagem via DLSS ainda precisa de refinamentos, especialmente em grades e superfícies metálicas, onde o ghosting e artefatos visuais se tornam evidentes durante movimentos rápidos (algo frequente em corridas de drift). Além disso, alguns reflexos em superfícies porosas, como o teto dos carros, parecem imprecisos ou fora de lugar, quebrando a imersão visual.
Na parte sonora, JDM: Japanese Drift Master também se destaca. Embora não conte com dublagens, JDM entrega uma ambientação acústica eficiente e detalhada. Os sons dos motores variam conforme o tipo de carro e reagem ao ambiente: a reverberação dentro de túneis, o eco de motores nas montanhas e o atrito dos pneus no asfalto contribuem para uma experiência autêntica. O destaque, porém, vai para a trilha sonora. Em especial pela presença de uma rádio dedicada ao eurobeat, gênero musical eternamente associado à cultura do drift japonês.
Além disso, há opções com J-Rock, J-Pop e rap japonês, ampliando o leque de estilos para todos os gostos. Ainda assim, o eurobeat é quase obrigatório: sua batida energética casa perfeitamente com o espírito do jogo.
Exploração e mundo aberto
Um dos maiores destaques de JDM: Japanese Drift Master é seu mundo aberto inspirado nas paisagens japonesas. Desde o início, o jogador tem total liberdade para explorar o mapa com seu carro, curtindo os cenários detalhados e imersivos. Essa ambientação não serve apenas como pano de fundo: ela é o palco para atividades diversas, desde missões principais até rachas, eventos aleatórios e entregas.
O jogo permite desbloquear garagens conforme o avanço na história, o que habilita o sistema de fast travel, algo essencial em um mapa extenso. Oficinas de pintura, lojas de carros, locais de upgrade e pontos de desafio compõem essa estrutura viva e funcional.
No estilo Forza Horizon, mas com um toque japonês, também é possível ganhar recompensas ao passar por radares de velocidade ou participar de atividades paralelas. Um exemplo é a entrega de sushi, que remete diretamente ao clássico Initial D (onde Takumi entregava Tofu). No entanto, essa missão específica está mal implementada no momento: falhas na navegação, bugs nos pontos de entrega e frustração geral comprometem a experiência a ponto de não estar jogável no momento de seu lançamento.
Por fim, é possível participar de alguns rachas ilegais onde precisa apostar seu dinheiro. Quanto mais investe, maior será o retorno, mas ao mesmo tempo mais dificil será alcançar a pontuação necessária.
Sistema de carros e tunagem
A garagem do jogador pode abrigar uma boa variedade de carros, com modelos inspirados em ícones reais da cultura automotiva japonesa. Apesar de algumas ausências de marcas como Toyota e Mitsubishi, há veículos semelhantes com nomes genéricos, incluindo versões alternativas de carros como o AE85 (inspirado no Corolla Sprinter Levin) ou o Lancer Evolution.
Entre os modelos disponíveis estão clássicos como Nissan Skyline, Mazda Miata, RX-7 (FC e FD), diversos Hondas (Civic, NSX) e modelos Subaru. A variedade é interessante e bem selecionada, mesmo não sendo extensa, principalmente pelo fato de exigir investimento de tempo e dinheiro in-game para montar uma garagem completa.
A personalização vai além da estética: o sistema de tunagem é detalhado. É possível ajustar suspensão, freios, motor, câmbio, escape e até o ponto de troca de marchas com base em rotação. O jogador pode também aplicar nitro, neon, pinturas e adesivos, dando liberdade total para estilizar e montar o carro dos sonhos ou transformar seu bólido em uma verdadeira árvore de Natal.
Por fim, quanto mais tempo utiliza um carro, mais proeficiência terá com ele. Isso faz com que vá liberando, com o tempo, melhorias para cada um dos carros.
Direção e experiência ao volante
É aqui que o jogo entra em seu ponto mais polêmico. JDM não é exatamente um jogo de corrida com drift, ele é um jogo de drift com elementos de corrida. Ou seja, o objetivo principal não é cruzar a linha de chegada em primeiro lugar, mas sim acumular pontos com manobras de drift.
A pontuação leva em conta fatores como ângulo, velocidade, fluidez e estilo. Isso transforma o gameplay em algo mais voltado ao espetáculo do que à competição. Quem espera corridas tensas ao estilo Initial D pode se frustrar inicialmente, até compreender que a experiência aqui é sobre controle, precisão e estilo nas curvas.
Existem modos alternativos como drag races, que surpreendem por mudarem a estética e a dinâmica do gameplay, focando apenas em aceleração e troca de marchas. Há também algumas corridas “reais” onde não há necessidade de focar nos pontos de estilo. No entanto, esses momentos são pontuais. A maior parte do tempo, o jogador estará acumulando pontos de drift, mesmo que isso signifique chegar por último na corrida.
Um outro “problema” recai sobre a dificuldade de JDM. Como a maioria dos desafios são voltados a uma pontuação específica, muitas vezes essas pontuações vão variar de acordo com o “humor” do adversário. Digamos que em uma corrida ele faça 4 mil pontos. Logo, você deverá fazer uma run com mais de 4 mil pontos. Contudo, em outra run ele pode fazer menos de 4 mil pontos ou mais que dobrar esse valor.
Isso traz uma imprevisibilidade muito grande e consequentemente, uma frustração ao jogador. E isso acontece na dificuldade normal. Ao baixar para o fácil, fica simplesmente fácil demais. Fica evidente que falta balancear a IA dos pilotos.
Física inconsistente e desafios técnicos
Apesar de o sistema de drift em si funcionar bem, (com leitura adequada de velocidade, torque e manobras) o comportamento do carro no ambiente pode ser estranho. Muitas pistas são estreitas ou mal desenhadas para drifts longos, o que limita o aproveitamento da física nas curvas.
Além disso, colisões com objetos do cenário resultam em reações exageradas e pouco realistas. Bater em pedras, carros ou guardrails pode fazer seu carro voar ou capotar de maneira desproporcional, o que quebra a imersão e reforça a sensação de que a física geral ainda precisa de ajustes. Ao longo da minha jogatina com JDM, pude perceber que a física de tudo era sempre a mesma. Era como se estivesse batendo em um tanque de guerra independemente se era uma árvore, um carro, ou uma simples pedra no chão.
Um outro detalhe que envolve a física é que nem sempre fica claro o que é um objeto estático ou destrutível. Por exemplo, existem alguns postes que remetem a essa “fisica de tanque de guerra” enquanto há outros que são destrutíveis. Esse problema acontece também com pequenas muretas metálicas onde algumas são destrutíveis e outras não. Isso deixa tudo completamente imprevisível e por diversas vezes, trazem frustração ao jogador.
Apesar de JDM: Japanese Drift Master ser um jogo indie e estar em seu lançamento inicial, esses problemas técnicos e de balanceamento impactam diretamente a jogabilidade.
JDM: Japanese Drift Master vale a pena?
JDM: Japanese Drift Master é um jogo que impressiona à primeira vista, mas revela suas limitações conforme você mergulha mais fundo. JDM acerta em cheio na ambientação japonesa, na vibe tranquila de dirigir e explorar pelas montanhas e cidades, e na boa física de direção, especialmente para quem busca um simulador mais acessível e com foco no drifting. A variedade de veículos, os visuais agradáveis e o clima geral fazem dele uma experiência agradável para quem curte o estilo.
Contudo, a inteligência artificial demonstra uma certa instabilidade pontuando de formas distintas na mesma corrida, tirando uma suposta “lógica de pontução” e causando frustações e mostrando que ainda falta trabalho no equilíbrio do jogo. Além disso, JDM: Japanese Drift Master conta com uma física muito estranha onde ao bater em elmentos diferentes (pedra, carro, guardrail) todos parecer ser um bloco de concreto. Vale pontuar que é possível desligar o trânsito de outros veículos, o que melhora a experiência como um todo.
JDM: Japanese Drift Master é um título que mostra que precisa ainda mais de um pouco de polimento. Embora sua ambientação e até seu “coração” esteja no lugar certo, itens como física, IA e até uma das opções de missões secundárias precisam ser melhoradas. Possivelmente no futuro com uptades teremos um excelente jogo de drift, mas essa não é a realidade em seu lançamento.
Essa análise/review de JDM: Japanese Drift Master segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.
O potecnial é claro, mas falta polimento
Visual, ambientação e gráficos - 8.5
Jogabilidade - 6.5
Diversão - 6
Áudio e trilha-sonora - 8
Polimento final - 5
6.8
Razoável
JDM: Japanese Drift Master é um título que mostra que precisa ainda mais de um pouco de polimento. Embora sua ambientação e até seu "coração" esteja no lugar certo, itens como física, IA e até uma das opções de missões secundárias precisam ser melhoradas. Possivelmente no futuro com uptades tereoms um excelente jogo de drift, mas essa não é a realidade em seu lançamento.