Na análise do quarto episódio da franquia e para todos as partes subsequentes, faremos uma análise que envolverá spoilers de todo o capítulo. Para uma análise sem spoilers, confira nosso review da primeira parte. As análises da segunda e terceira partes também possuem spoilers.
Se eu havia dito que o 3º episódio era o mais decepcionante da série Batman: The Telltale Series, fui demasiadamente precipitado. Guardião de Gotham consegue atingir um ponto ainda mais baixo e é possivelmente o mais fraco penúltimo episódio de uma franquia da Telltale pós-The Walking Dead.
O episódio começa logo após o incidente envolvendo Bruce Wayne e Oswald Cobblepot, o Pinguim. Contaminado pela droga misteriosa que retira as inibições do indivíduo e o torna extremamente violento, nosso herói atacou o desprezível vilão durante a coletiva de imprensa que anunciava seu novo cargo como CEO das Indústrias Wayne. Em seguida, Bruce acorda em um quarto do Asilo Arkham, onde está internado por causa do “ataque psicótico” que o fez agredir Cobblepot. Após vestir suas roupas e se situar, um dos enfermeiros bate à porta e aceita suborno de dois outros pacientes do Asilo, vítimas do pai de Bruce, para que possam “descontar” a raiva que sentem do seu progenitor no jovem playboy. Os dois, que estão armados com um taser, conseguem sobrepujar o cavaleiros das trevas mas são impedidos de fazer um estrago maior por ninguém menos que o Coringa (cujo nome dado para si mesmo é John Doe – ou João Ninguém, em português), que nocauteia os dois. De repente, a médica responsável pelo caso de Bruce entra no quarto e dá uma bronca em Bruce porque lutar não é permitido nas dependências do Asilo ou porque ele pode estar tendo um outro surto psicótico, a depender do que você escolhe dizer a ela. A cena como um todo não faz o menor sentido porque os outros dois pacientes estavam no quarto do protagonista e também havia uma câmera no quarto – como poderiam culpar a Bruce? O momento serve para introduzir o Coringa no episódio, mas não o faz de maneira muito refinada.
Somos levados para a sala onde os pacientes podem socializar. O Coringa te dá uma chave, mas não diz o que ela abre. Na verdade, ela não abre nada (existem alguns armários e baús na sala, mas nada que possa ser, de fato, aberto), o que parece ter sido mais um comentário sobre a personalidade sádica do Coringa do que um beco sem saída no jogo em si. De qualquer forma, uma vez na sala, podemos interagir com diversos pacientes, incluindo alguns vilões mais ou menos célebres do Batman, como o Ventríloquo e Victor Zsasz (o assassino em série que marca os assassinatos que comete no corpo) e até mesmo o capanga gigantesco e azulado do Pinguim contra quem lutamos no segundo episódio. Na sala também podemos conversar mais a fundo com o Coringa. O maníaco diz a Bruce que sabe que Vicki Vale é a verdadeira identidade da Lady Arkham – a líder dos Filhos de Arkham, revelada no fim do episódio passado – e dá a entender que sabe que Bruce é o Batman, ou que pelo menos ele é mais do que quem diz ser. Ele revela que Vicki é adotada, sendo originalmente Victoria Arkham. Ciente dos planos de Lady Arkham, o Coringa se oferece para compartilhar os detalhes com o cavaleiro das trevas, mas pede primeiro que lhe devolva o favor quando ele estiver fora do Asilo, o que você pode negar ou acatar. Independente disso, o vilão cria uma comoção, importunando Victor para que Bruce tenha tempo de fazer uma ligação de um telefone público do Asilo enquanto todos estão distraídos. Você tem então a escolha de fazer a ligação ou apartar a briga. Escolhendo a primeira opção, Bruce telefona para os advogados, para tentar sua libertação, ou para Jim Gordon, da polícia, e diz que foi atacado com a mesma droga usada na oficial Renee Montoya e em Harvey Dent no debate. Caso opte por separar a luta, Bruce tenta se meter no meio mas é incapaz de fazer muita coisa porque tem uma alucinação com a droga em sua circulação e é, mais uma vez, nocauteado.
Na cena seguinte, nosso protagonista consegue sua liberdade através de seus advogados. Seu mordomo, Alfred Pennyworth, vem coletá-lo. Na saída, nos encontramos como o Coringa mais uma vez que dá a sua dica: “fale com os pais de Vicki Vale”. Voltando para Mansão Wayne, Alfred e Bruce são parados em um bloqueio policial: na verdade, os patrulheiros são de uma força-tarefa formada pelo prefeito Harvey para combater as ações dos Filhos de Arkham. Para piorar, a parada forma um pequeno trânsito e logo o carro está cercado por cidadãos descontentes com o herdeiros dos Wayne que começam a importuná-lo e a amassar seu carro. Os “policiais”, aproveitando-se da situação, pedem propina para deixá-lo passar e, mais uma vez, chega a hora da escolha entre pagar ou não pagar. Caso você caia na pressão dos agentes da lei, Bruce oferece um maço de dinheiro e o veículo passa sem problemas. Se você se negar a pagar, Bruce, movido pela droga, ordena que Alfred arremeta o carro contra a barricada a frente, e o carro passa em meio a tiros dos policiais irados.
De volta à Batcaverna, Bruce se reúne com Alfred e Lucius Fox (caso você tenha pedido para que o inventor venha trabalhar contigo na batcaverna). Com a ajuda dos dois (ou só de um), você resolve um simples enigma para sintetizar uma cura para a droga (a essa altura, todo mundo já notou os efeitos ruins dela no humor do cavaleiro das trevas). Curado, Bruce decide visitar a família adotiva de Vicki vestido como Batman, claro. Essa é a cena mais perturbadora da série e uma das mais legais também: a casa está vandalizada e seus pais adotivos foram brutalmente assassinados. O jogador deve investigar a cena e descobrir como e porque os assassinatos ocorreram. Durante a investigação descobrimos um jovem garoto: os Vale têm mais um filho adotivo. Acabamos encontrando-o em um quartinho sob a escada, horrorizado. Batman o tranquiliza, mas antes que possa fazer mais alguma coisa, a casa é invadida por um drone da WayneTech fortemente armado e controlado pelo Pinguim, que tenta matá-lo. Acontece uma luta em QTE e Batman termina o difícil conflito com um golpe do batarangue. Em seguida, Batman chama a polícia, que chega e toma a guarda do menino. Batman aproveita para contar a Jim Gordon que Vicki é a Lady Arkham (caso você não tenha feito a ligação no Asilo Arkham pra ele).
Retornando à Batcaverna, Bruce descobre que o Pinguim hackeou a segurança da WayneTech, tomando o controle da tecnologia militar da empresa e efetivamente quebrando os equipamentos do cavaleiro das trevas. É importante ressaltar – e isso é bastante desapontador – que isso acontece mesmo que Lucius tenha ficado na sede da Wayne Enterprises, sendo que ele teria permanecido lá para evitar esse tipo de problema pra início de conversa. Independente da sua escolha relativa a isso no capítulo anterior, a cena decorre mais ou menos igual (com Lucius participando da conversa por teleconferência ou pessoalmente). No fim dela, você pede para Lucius tente ele mesmo hackear as operações de Oswald para reverter a situação – de maneira discreta ou rápida. Mas, a essa altura, duvido que isso tenha algum efeito no próximo capítulo.
Em seguida, Bruce assiste a uma declaração do cada vez mais insano Harvey na TV, dizendo que irá estatizar os bens da família Wayne para pagar pela sua luta contra os Filhos de Gotham. Ainda durante a declaração, ele dá a Bruce 24h para vagar a propriedade e entregá-la à prefeitura. Decide-se, então, ir até Harvey para convencê-lo a não fazer isso, o que pode ser abordado como Batman (que Harvey parece apreciar) ou como Bruce (que já é um velho amigo). O encontro sempre acontece no topo da prefeitura. Como Bruce, um alucinado Harvey executa um plano de explodir as drogas dos Filhos de Arkham (mas acaba explodindo um quarteirão inteiro e matando inocentes no processo). Iludido, ele acha que será elevado como um grande prefeito nas manchetes do dia seguinte enquanto Bruce será encontrado num beco, aparentemente suicidado. Ele ordena que dois policiais de sua força tarefa (que parecem ter sofrido uma lavagem cerebral) o levem ao Beco do Crime e o executem. Bruce é salvo no último segundo por Jim Gordon, que chega atirando. Como Batman, a cena acontece de maneira parecida, mas quem é levado para ser executado é Jim, e temos que correr ao beco para salvá-lo.
Saindo da cena, recebemos um chamado de Lucius e Alfred: o primeiro diz que o pinguim está hackeando a caixa-preta da Wayne Enterprises e existe o risco de que ele chegue ao computador da Batcaverna. Já o segundo alerta que harvey já está chegando fortemente armado à mansão Wayne. A última grande escolha do episódio é excelente, pois você escolhe o local do final. Indo para a sede da empresa, nocauteamos alguns guardas e destruímos drones até chegar à sala do CEO, onde, claro, encontramos Oswald Cobblepot. Rola uma luta longa e intensa que termina na sala secreta de Bruce com o Pinguim incapacitado e preso ou inconsciente. O dispositivo de invasão de sistemas do vilão é destruído. Como última cena, vemos a mansão dos Wayne em chamas e Harvey rindo sinistramente – nesse caso, não sabemos do destino de Alfred. Caso você decida ir para a mansão, lutamos com Harvey, quase totalmente tomado pelo Duas Caras. Você salva Alfred e incapacita Dent, que tem metade do corpo queimado pela arma que explode em sua mão durante o conflito (para combinar com o rosto, que pode ou não estar desfigurado a depender das suas escolhas no capítulo 2. Curiosamente, o rosto dele não é queimado se isso já não tinha acontecido antes), mas que não toma toda a casa como no outro final. A cena final neste caso é com o Batman destruindo o Batcomputador para evitar que o Pinguim assuma o controle.
Reiterando, o capítulo 4 é o mais fraco até aqui. Apenas a cena do crime na casa dos Vale e a escolha entre a luta com Harvey ou Oswald no final, bem como suas aparentes consequências, animam. As duas variações de cenas derradeiras são particularmente interessantes porque devem afetar o início do próximo e último episódio. Mas, de resto, a história se revelou previsível e sem surtir os efeitos esperados. Além disso, uma série de defeitos técnicos envolvendo as legendas foram introduzidos aqui (legendas em outros idiomas surgindo aleatoriamente, diálogos não-legendados, etc.). O que nos resta é torcer para uma conclusão da aventura decente no último capítulo.