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Análise: Tchia traz um boa história em um belo mundo

Confira abaixo a nossa análise em vídeo de Tchia:

Introdução – Análise: Tchia

Tchia foi anunciado meio que inesperadamente durante a The Game Awards 2020 e acabou passando despercebido em um ano recheado de anúncios. Eu mesmo, quando fiquei sabendo da existência do jogo acabei não me interessando muito, afinal, não tinha ficado claro pra mim exatamente do que o jogo se tratava. Depois de quase três anos, recebemos o título para fazer a sua análise e eu percebi que devia ter dado um pouco mais de atenção a esse lindo jogo, que pega ideias de games premiados, como Breath of the Wild, e junta com mecânicas próprias para criar uma obra em homenagem à Nova Caledônia. Esse arquipélago no pacífico é terra natal dos dois franceses criadores do jogo, e possui cenários, cultura e tradições tão bonitos que eles resolveram fazer um jogo inteiro baseado nele. Eu já adianto um pouco pra vocês, o jogo possui alguns problemas que eu ainda vou comentar, mas no geral, eu fiquei bastante surpreso com a sua qualidade.

Um enredo inspirado no folclore da Nova Caledônia

O jogo nos coloca no papel de Tchia, uma menina destemida da Nova Caledônia que tem o seu pai raptado por Meavora, o grande vilão e governador da região. Determinada a salvar o seu pai, Tchia resolve se aventurar pelas diferentes ilhas do jogo, conhecendo personagens carismáticos, inimigos inusitados e cenários muito bonitos. Eu prefiro não dar muito mais informações sobre a história do jogo em si, já que a forma como o título a vai nos contando é bastante engajante e rica em conteúdo. Aliás, seria até estranho se o enredo do jogo não fosse tão cativante. O título se utiliza do folclore, das tradições, da cultura e da língua dos povos da Nova Caledônia para repaginar histórias conhecidas da região e traduzi-las para o formato de um jogo. Conforme explicado assim que começamos o gameplay, nomes e regiões foram trocadas para que o jogo pudesse atingir um público global maior, mas os elementos, contos e histórias que o inspiram são reais e foram cuidadosamente curados pelos criadores e colaboradores da Awaceb da própria região. Dessa forma, Tchia traz uma experiência muito original, cativante e bonita em termos de narrativa e enredo.

Assim que a protagonista resolve se aventurar pelas ilhas da região ela descobre que tem o dom especial de assumir o controle de praticamente qualquer animal ou objeto presente no cenário, e ela deve usar essa habilidade para explorar o vasto arquipélago e salvar o seu pai de Meavora, que governa a região com seus súditos soldados feitos de tecido. Essa é a principal mecânica do jogo, e é extremamente necessário usá-la para explorar a região de forma eficiente. Como um bom jogo de mundo aberto, Tchia traz cenários bem vastos e variados, e percorrer todas as áreas a pé ou somente com embarcações é basicamente inviável. A personagem pode então controlar pássaros, peixes, mamíferos, insetos, pedras e por aí vai. Praticamente qualquer asset presente no mapa pode ser utilizado pela personagem para chegar a novos locais e enfrentar os capangas de Meavora. Essa mecânica é bastante divertida e faz com que os jogadores se percam pelo mapa sempre achando algum local, item ou vilarejo novo para explorar.

Um gameplay que te convida a se perder – Análise: Tchia

O gameplay geral de Tchia consiste dessa experiência sandbox baseada em física, e é possível escalar, planar, nadar e navegar pelos diferentes cenários do jogo. A ideia do título é justamente fazer o jogador explorar livremente os diferentes e belos cantos do arquipélago, e eu confesso que eu me peguei em diversos momentos só apreciando as paisagens e curtindo a vibe relaxante do jogo. Não à toa, a maioria das missões consistem em ir a um local pegar um item e trazer de volta para algum personagem. Normalmente, esse é o tipo de gameplay que eu detesto em jogos de mundo aberto, mas curiosamente, ele faz sentido nesse jogo em específico, já que a proposta dele é justamente fazer o jogador se perder pelas suas diversas regiões.

Além dessa mecânica de exploração, Tchia nos traz também uma série de minigames e puzzles, que podem ser acessados aleatoriamente pelo mapa ou diretamente ao longo das cutscenes. Eu não cheguei a mencionar isso ainda, mas Tchia é um jogo extremamente musical, com cenas com músicas típicas e minigames que, naturalmente, utilizam o Ukulele da personagem para fazer um espécie de Ukulele Hero do pacífico. Muitos desses minigames consistem somente de acertar os acordes e notas das músicas do jogo, que falam sobre amizade, folclore, crenças, liberdade e muito mais. Caso o jogador queira, é possível colocar o jogo no modo automático durante essas canções para que se possa apreciar as letras e as danças de cada cutscene. Eu confesso que em alguns momentos eu preferi fazer isso, já que essa foi uma das partes que eu menos gostei no jogo por conta da falta de desafio e da impossibilidade de de fato acompanhar as músicas, que contam mais sobre a história. Acaba que essa parte do Ukulele em específico, se torna mais um obstáculo do que um acréscimo de gameplay e apesar de entender porque os criadores quiseram acrescentar essa mecânica, eu acho que ela poderia ter sido melhor construída. 

Além do Ukulele, que também tem o poder de modificar o tempo e interagir com a natureza, podemos tirar fotos de lugares e animais, pescar peixes raros para trocar por itens úteis, correr com barcos, carros de boi, animais selvagens, e muito mais. Os minigames são uma importante parte da jogabilidade de Tchia que infelizmente eu não curti muito, e achei até que o início do jogo é exageradamente cheio deles. A primeira hora do jogo, aliás, é um pouco enfadonha por conta desse fator, mas assim que entramos na parte livre do gameplay, o jogo melhora muito.

Uma bela direção de arte

O título foi desenvolvido na última versão da Unreal Engine 4 e, consequentemente, faz uso de muitas ferramentas que tornam todo o trabalho da equipe bem mais fácil e possibilitam a criação de cenários espetaculares com poucos recursos. Tchia, consequentemente, é um jogo lindo, com uma estética simples, mas muito bem trabalhada. O jogo possui vastos oceanos azul turquesa com ondas calculadas fisicamente, montanhas, vulcões, vilarejos, plantações e por aí vai. A inspiração em jogos como Breath of the Wild e Pokémon é muito clara, e isso não é algo ruim. Nos testes que fizemos rodando o jogo num PC a 4K com tudo no máximo, o jogo se mostrou extremamente bem feito, utilizando SSAO e SSR para gerar detalhes em reflexos e sombras pelos cenários. Áreas gramadas, por exemplo, são extremamente bonitas, já que o sombreamento de cada folha gera uma imagem coesa e estilizada. A equipe de arte da Awaceb, inclusive, fez um ótimo trabalho ao diferenciar cada região do mapa, que realmente pode ser identificada somente com um olhar breve. Todas elas são bastante diferentes em termos de fauna, flora e geografia, e proporcionam visuais incríveis aliados à iluminação global dinâmica do jogo.

Diferente de outros jogos de mundo aberto lançados recentemente, Tchia faz um excelente uso da luz, mesmo com as dificuldades de se criar um mundo que faça sentido em todos os horários do dia. Agora, o único ponto negativo que vale destacar, principalmente se você não tiver um PC muito poderoso é que o jogo é curiosamente pesado em algumas regiões e sofre com os problemas de stutter já conhecidos da Unreal Engine 4. Mesmo com o DLSS ligado e uma RTX 3080ti combinada com uma 5800X3D eu atingi 35 FPS em uma região específica, quando a minha média girava em torno de 90 pelo resto do mundo. Claro, o jogo ainda nem foi lançado, mas é bom deixar claro aqui caso você se interesse por ele e não possua uma máquina poderosa.

Uma trilha sonora digna de AAA – Análise: Tchia

Para fechar essa parte artística, eu não poderia deixar de falar sobre o aspecto que mais me impressionou no jogo, que é a sua trilha sonora. A música é um elemento extremamente importante em Tchia e, naturalmente, é aqui que os desenvolvedores investiram pesado. O jogo conta com uma trilha sonora original composta por uma orquestra sinfônica misturada com sons locais da Nova Caledônia, como flautas, tambores e cantos tradicionais. Todas as canções acompanham as emoções e ações de Tchia durante a sua jornada, e se mesclam maravilhosamente bem com o contexto geral da narrativa. Como eu já falei anteriormente, em diversos momentos eu preferi deixar os minigames musicais no modo automático para que eu pudesse somente apreciar as músicas, as letras e as mensagens de cada composição, que foram gravadas em francês e no idioma local. Fora isso, as músicas também variam de acordo com o clima, horário e bioma em que o jogador se encontra. Há temas mais calmos e relaxantes para praias e lagoas e dramáticos para as batalhas contra os soldados de Meavora.

O carinho dos criadores com esse quesito foi muito grande, e os efeitos sonoros também não deixam a desejar. O jogo usa sons reais da natureza e dos animais da Nova Caledônia para dar vida ao seu mundo, e conta com efeitos surpreendentes de objetos e materiais, que fazem eco e se propagam de forma diferente de acordo com o ambiente. Essa mecânica não é exatamente nova, mas é muito interessante ver um jogo indie de uma equipe relativamente pequena fazer uso de uma ferramenta que acrescenta tanto na experiência. Inclusive, eu recomendo fortemente que se utilize um bom headphone ou soundbar para tirar total proveito do som do jogo.

Conclusão – Análise: Tchia

Para resumir essa análise, Tchia traz uma experiência geral surpreendente, com visuais incríveis e uma trilha sonora de primeira linha. A primeira hora do jogo é realmente bastante enfadonha, mas assim que entramos na sua parte livre e as mecânicas principais começam a ser descobertas, o jogo engata e mostra as suas principais forças. Tchia é um jogo que te instiga a se perder e aproveitar as belezas de uma terra distante, com cultura, povo, e tradições extremamente ricas. A história do jogo é bastante interessante e é contada de maneira bastante leve, enchendo de magia e aventura um mundo tropical e desconhecido pela maioria. Tchia é uma obra de amor muito bem construída pelos seus criadores e um convite para descobrir um mundo rico e variado cheio de surpresas e emoções.

A análise de Tchia segue nossas diretrizes internas. Clique aqui e confira nosso processo de avaliação.

Tchia

Visual, ambientação e gráficos - 8.5
Jogabilidade - 7
Diversão - 7
Áudio e trilha-sonora - 9

7.9

Bom

Tchia é uma obra de amor muito bem construída pelos seus criadores e um convite para descobrir um mundo rico e variado cheio de surpresas e emoções.

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Bernardo Cortez

Formado em Relações Internacionais, Bernardo aproveitou o dom de escrever para algo útil. Músico, viajante, cronista e amante de qualquer coisa que seja relacionada a jogos, seu sonho é ser jornalista na área. Tem um carinho especial por jogos que tragam o melhor de todas as formas de arte que os englobam.

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