Algo mais polêmico do que os mamilos de Leonado Coimbra, o CEO do Última Ficha, é aquele bom e velho assunto que os vídeo games geram a violência. Desde o inicio deste texto, quero deixar meu posicionamento aqui de que não sou a favor desta linha de pensamento. Porém, é necessário que para eu continuar com texto precise comentar o que leva as pessoas e até alguns estudiosos a acreditem nessa história e como os neurônios espelho trabalham tanto para o lado negativo da situação quanto para o positivo.
Em jogos temos violência, em jogos temos uso de armas de fogo, mortes, assassinatos, em alguns temos sexos e etc. E onde mais achamos tudo isso? Na televisão, em especial em novelas. E por que raios culpam justamente os jogos?!
A influência negativa
Em teoria, nas novelas estamos vendo uma outra pessoa praticando aquele ato, enquanto em jogos nós somos os praticantes. Obviamente ninguém deixa de ser virgem ao jogar The Witcher 3 ou rico após uma partida de banco imobiliário (só se o seu oponente for o Bill Gates e ele estiver usando dinheiro de verdade). Independente disso conhecemos como as pessoas (em especial as crianças) agem ao estarem jogando um jogo, pois costumam comentar coisas nessa vibe “ih lequê, eu matei uma véia atropelada no GTA” ou “meti azeitona na cabeça do cara”. Não colocam que foi o protagonista do jogo quem cometeu tais atos, eles tomam os atos para si.
Deste modo, é um dos motivos que levam as pessoas a acreditar que os jogos eletrônicos estão influenciando seus filhos. Partindo deste ponto, algo que muitos esquecem é de uma coisinha linda chamada “sistema de classificação indicativa”.
O sistema de classificação indicativa serve para nortear o que aquele produto ou material tem e para quais idades ele é indicado. Se uma criança de 8 anos está jogando GTA V, não foi responsabilidade da própria que comprou o jogo e o colocou. Alguém comprou e colocou para ele jogar. E quem seria? Os pais.
Eles ignoram o fato de um jogo é indicado para maiores de 16 anos da mesma forma que muitos ignoraram que Deadpool e Coringa não eram filmes para levar as crianças.
Alguns pais jovens do século XXI impedem que suas crianças joguem jogos violentos, entretanto, os próprios jogam estes games com os filhos assistindo. Se for pra evitar uma influência, então não adianta apenas tirar o controle da mão do pimpolho, não pode deixá-lo ver o conteúdo.
Por culpa destes atos temos a “influência” que os vídeo games causam em nossos pequenos monstrinhos. Todas as pessoas possuem neurônios espelhos que são neurônios produzidos no córtex parietal inferior com a função de ganhar aprendizagem do que vemos; aprender com a experiência alheia; sentirmos sensações por aquilo que vemos.
Como que os neurônios espelho funcionam?
Se você que estiver lendo for um homem, já deve ter sentido a dor alheia do personagem que recebeu um tiro no saco em algum filme do Tarantino. Correto?
E se você for mulher, já deve ter chorado junto por uma conquista importante de alguma amiga.
Esses são dois exemplos que vem do compartilhamento de experiência/sensação que alguém tem por conta dos neurônios espelhos. Você sentir satisfação ao ver o herói do jogo vencendo o vilão também faz parte disso. Temos como um exemplo mais forte em jogos da aclamada Quantic Dream que nos dão uma imersão maior, fazendo com que nossos neurônios espelhos funcionem com mais intensidade ao serem estimulados pelas perguntas.
Outro uso comum disso é quando você aprende a cozinhar ou dirigir ao acompanhar a rotina de algum familiar que envolva isso.
Quando somos crianças a nossa produção de neurônios espelho é muito maior do que na vida adulta, fazendo com que possamos aprender ainda mais na base da observação. Por isso crianças sentem uma necessidade em repetir palavras/frases que escutam ou até mesmo ações que observaram antes. Elas querem repetir aquelas experiências por si só.
Essa produção constante vai até os 12 anos em média. Após isso temos um sub-controle deles, já que eles passam a ser produzidos de uma forma voluntária e circunstancial de acordo com a nossa sinapse.
Autistas, por sua vez, tem uma produção bastante reduzida fazendo com que seus remédios auxiliem na produção destes neurônios para que eles não tenham a aprendizagem prejudicada no decorrer de sua infância. Devido a isso, há coisas que eles simplesmente não entendem pela dificuldade de se espelhar em outra pessoa e seguir aquela linha de pensamento.
Se uma criança que está tendo seus neurônios espelhos em constante produção jogar algo com violência gratuita e xingamentos, ela acabará querendo repetir isso. É aquela vontade que sair batendo nos coleguinhas da escola por eles serem insetos insolentes por você ser o príncipe dos Saiyajins.
Grupos sociais e a sua influência com os neurônios espelho
Antes de alguém poder jogar a primeira pedra e dizer que jogos são os principais causadores de influência negativa na vida das crianças, precisamos levar em conta algo muito importante: Os grupos.
Na matéria de “comportamento do consumidor” em cursos superiores que possuem ligação com marketing vemos como os grupos sociais conseguem influenciar uma pessoa naquilo que ela pretende consumir. Entre os grupos temos a família (moradores da mesma casa), parentes, trabalho, escola/faculdade e qualquer outro que seja formal ou apenas uma roda de amigos numa mesa de bar.
O primeiro ponto em que a criança se espelha em seu desenvolvimento vem de seus pais ou da pessoa que cuida dela. Depois disso, vem dos outros grupos sociais que ela faz parte como escola e creche. O ambiente em que mora também vai ter grande influência.
Se os locais citados forem violentos, obviamente a criança vai ter um desenvolvimento violento. Ela jogar um GTA no fim do dia será apenas tão influenciador quanto um palito de fósforo aceso no inferno. Porém, se esse cenário geral é algo que ela sabe conscientemente que está a prejudicando e sente falta de ter amigos já que sofre bullying na escola, jogar um Persona 4 fará com que essa criança se sinta acolhida por estar entregando algo do qual ela tem carência: amigos e pessoas que podem apoiar ela.
Os neurônios espelhos neste exemplo citado acima vão estar fazendo ela sentir a experiência de ter amigos e o apoio que que lhe carece no dia a dia.
Os jogos não são apenas uma rota de fuga, mas também uma terapia
Levando esse caso mencionado sobre os neurônios espelhos serem capazes de entregar sensações de que as pessoas carecem naquele momento podemos ir para a famigerada frase “jogos são o meu escape”. É normal muitas pessoas falarem isso, pensarem isso e agirem de tal forma. Não nego que jogos podem sim ser uma forma de fugir da realidade e conseguir um bom tempo de descanso.
Contudo, eles também servem como uma terapia. E aqui entra novamente os nossos amigos neurônios espelho. Como dito no caso de Persona 4, se uma pessoa se sente solitária pela carência de amigos poderá ter a sensação que o protagonista tem ao ser rodeado por seus amigos em Inaba.
Da mesma forma que alguém frustrado pela sua vida monótona poderá encontrar aventuras ao estar na pele de Nathan Drake ou se sentir vitorioso após uma partida de Street Fighter. Se alguém detesta tartarugas, temos Mario. (vinheta da praça)
Não apenas isso, mas também na aprendizagem das crianças. Quanto jogos educativos não existem e com a ajuda dos neurônios espelhos não iriam fazer a criança ter um melhor desenvolvimento cognitivo? Isso volta ao assunto de classificação indicativa que serve para mostrar o que vai proveitoso para aquela idade ou não.
Conclusão
Os neurônios espelho são os responsáveis pela aprendizagem das pessoas seja para algo produtivo ou negativo. Quando ainda somos crianças, estamos nos espelhando a tudo que vemos ou ouvimos, sendo necessário que alguém nos norteie para que não ocorra de absorvermos conteúdos negativos para o nosso crescimento.
Jogos são a menor das influências, uma vez que os grupos sociais, em especial a família, tem uma enorme influência como referências para nosso modo de agir. Uma vez que só após os 12 anos vamos ter maior noção do que podemos nos espelhar ou não.
Culpar os jogos é o mesmo que reclamar de um restaurante por darmos camarão para alguém que sabemos ter alergia de frutos do mar. Há responsáveis e não adianta entregar a culpa nas mãos de quem foi apenas uma ferramenta mal utilizada.
Os vídeo games / jogos conseguem auxiliar as pessoas e aprimorar o seu desenvolvimento com o auxilio dos neurônios espelho.
Referências:
https://amenteemaravilhosa.com.br/conheca-neuronios-espelho/
https://j.pucsp.br/artigo/neuronios-espelho-e-empatia
http://cpfg.blogspot.com/2012/05/neuronios-espelho-uma-grande-descoberta.html
https://klickpages.com.br/blog/comportamento-do-consumidor-o-que-e/