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Análise: Post Trauma

Altos muito altos e baixos muito baixos

Post Trauma é um jogo de survival horror que busca se destacar dentro de um gênero que voltou com força nos últimos anos. Com a proposta de explorar o terror psicológico, ele se posiciona ao lado de títulos consagrados que ajudaram a moldar o estilo.

Nesta análise, vamos entender como Post Trauma se comporta diante desse cenário competitivo, onde a atmosfera, os sustos e a tensão constante precisam se equilibrar com uma boa execução técnica e criativa para se destacar.

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Bem vindo ao purgatório

Post Trauma aposta em uma narrativa pouco convencional, sem um ponto de partida claro ou motivações evidentes. Em vez de seguir caminhos mais comuns do gênero — como infestações zumbis ou casas assombradas — o jogo apresenta Roman, um homem de meia-idade que desperta confuso dentro de um trem e, em seguida, numa estação aparentemente abandonada no Japão. Desde os primeiros momentos, a ambientação transmite desconforto: criaturas deformadas, elementos orgânicos se misturando às paredes, e a constante presença de um símbolo com um olho, que reforça a sensação de inquietação e de que alguém está constantemente te observando.

A história se desenvolve de maneira fragmentada e intencionalmente desconexa. A princípio, tudo parece girar em torno de Roman, mas outros personagens vão surgindo, trazendo suas próprias histórias que, aos poucos, se conectam de forma orgânica ao enredo principal. Não há respostas fáceis, e a progressão narrativa exige atenção e interpretação.

Ainda que o jogo evite explicações diretas, o tema do trauma é uma constante, algo derivante do título do jogo. Tudo indica que os personagens estão presos a experiências mal resolvidas do passado, e que o ambiente funciona como um reflexo desse sofrimento — quase como se estivessem em um purgatório. Claro que essa é a leitura inicial do jogador e não irei soltar nenhum spoiler.

De forma geral, a história funciona em Post Trauma, contudo, fica evidente que falta um punch inicial para chamar a atenção do jogador.

Ambientação de Post Trauma é um ponto alto

A ambientação é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes de Post Trauma. O jogo constrói uma atmosfera desconcertante desde os primeiros minutos, com cenários que não seguem uma lógica espacial tradicional. É comum transitar de uma estação de trem no Japão para o interior de uma escola, por exemplo, sem qualquer conexão aparente. Essa fragmentação de espaços contribui para a sensação constante de confusão e deslocamento — elementos essenciais dentro do horror psicológico proposto.

Um item utilizado por diversas vezes ao longo da experiência é o posicionamento de manequins em diversos momentos. A constante mudança do posicionamento deles, aliado com a iluminação precária, faz o jogador ficar com os nervos a flor da pele constantemente. Afinal, sempre há a chance de ser um inimigo e não um um anequim.

A forma como o jogo utiliza a câmera é particularmente eficaz. Embora siga um estilo de câmera fixa – um clássico amado pelos jogadores do gênero – ela se move sutilmente nos corredores e ambientes, ampliando a tensão. Não apenas a câmera se move, mas por vezes ela se distorce, assim como se aproxima e afasta do jogador, transformando um suposto corredor simples, em algo genial.

A movimentação limitada do personagem combinada a esse recurso reforça a sensação de claustrofobia. Ambientes escuros, paredes deformadas com elementos orgânicos e o uso proposital da iluminação precária ajudam a manter o jogador sempre em alerta.

A trilha sonora também contribui para esse clima. Ainda que não se destaque isoladamente, ela cumpre bem o papel de sustentar o mistério e a tensão, funcionando como uma extensão da ambientação. É importante destacar que, apesar da atmosfera ser um acerto, o jogo não é visualmente impressionante em termos de fidelidade gráfica.

Falta de polimento e problemas técnicos

Apesar da ambientação ser um dos grandes destaques de Post Trauma, o mesmo não pode ser dito da parte técnica e visual do jogo. Testado em um PC com uma RTX 4070 Super e processador Ryzen 7 5800X, o desempenho geral foi satisfatório, mas o polimento visual e técnico deixou a desejar em diversos momentos.

Há uma clara discrepância entre a direção de arte — rica e criativa — e a implementação gráfica. Elementos como a iluminação, as texturas e os modelos dos personagens nem sempre acompanham o nível de qualidade sugerido pela ambientação. Reflexos de luz em janelas, sombras projetadas ou até mesmo os cabelos dos personagens, como o próprio protagonista Roman, apresentam falhas visuais evidentes. Em diversas cutscenes, os modelos parecem inacabados e há momentos em que nem mesmo a movimentação labial é animada corretamente, o que quebra a imersão.

Essas limitações técnicas vão além da parte estética. Em uma das áreas jogáveis com outro personagem, em perspectiva de primeira pessoa, o jogo sofre com stutters constantes, comprometendo a fluidez e a experiência de gameplay. O problema é agravado pelo contraste entre a criatividade das ideias apresentadas e a dificuldade do jogo em sustentá-las tecnicamente.

A sensação que fica é a de que Post Trauma poderia se beneficiar de mais tempo de desenvolvimento. O conceito é sólido, a ambientação é bem construída, mas a execução, especialmente no que diz respeito ao polimento visual e à estabilidade, compromete parte da proposta. Quando tudo funciona, o jogo mostra seu potencial — o problema é que isso acontece com menos frequência do que deveria.

Puzzles desafiadores e inteligentes

Se existe um aspecto em Post Trauma que merece todos os elogios possíveis, esse é o seu sistema de puzzles. Assim como a ambientação, os quebra-cabeças do jogo são criativos, desafiadores e extremamente bem construídos. Eles resgatam o que há de melhor nos clássicos do gênero survival horror, exigindo do jogador atenção, lógica e até mesmo um pouco de paciência para resolver enigmas verdadeiramente complexos.

Os puzzles são elaborados de forma a incentivar o uso de papel e caneta — uma prática que há muito tempo não era necessária em jogos modernos. Em diversos momentos, o jogador se verá tirando prints da tela, anotando sequências numéricas, observando padrões visuais e coletando pistas espalhadas em diferentes ambientes para conseguir avançar. A sensação de recompensa após decifrar um enigma complicado é um dos pontos altos da experiência.

A variedade dos quebra-cabeças é outro destaque. Cada área de Post Trauma apresenta um estilo visual distinto, e os puzzles aproveitam isso de maneira criativa para inserir dicas e pistas no ambiente. Em alguns casos, pode-se levar mais de 30 minutos para solucionar uma única sequência, tamanho o nível de complexidade. No entanto, em nenhum momento o desafio parece injusto — apenas exige atenção e dedicação. E muitas vezes o clássico tentaiva e erro dentro de uma lógica alcançada.

Essa abordagem remete diretamente à era de ouro dos jogos de terror, como os primeiros Resident Evil e Silent Hill, trazendo de volta aquele sentimento de conquista e superação que marcou uma geração. Post Trauma brilha intensamente nesse quesito, mostrando que ainda há espaço para jogos que tratam o jogador com inteligência e exigem mais do que reflexos rápidos. É, sem dúvida, um dos grandes acertos do título.

Combate desastroso e movimentação truncada

Se por um lado os puzzles de Post Trauma elevam a experiência e demonstram o potencial criativo da equipe de desenvolvimento, o mesmo não pode ser dito sobre o sistema de combate e movimentação. Infelizmente, esta é uma das partes mais problemáticas do jogo — e não por um detalhe ou questão de gosto, mas por uma execução claramente mal projetada e mal implementada.

A movimentação dos personagens já começa causando estranhamento. Há uma sensação de que eles estão “descolados” do mundo ao redor, como se deslizassem sobre o cenário sem qualquer peso ou física realista. Os comandos respondem de forma esquisita, tornando até mesmo a simples tarefa de se locomover uma experiência pouco fluida. Ainda assim, este é o menor dos problemas.

O verdadeiro desastre começa quando o jogador é forçado a enfrentar inimigos. As batalhas em Post Trauma são confusas, frustrantes e desajeitadas. O jogo oferece armas brancas e de fogo, como pistola e escopeta — elementos clássicos do gênero —, mas não apresenta um sistema de mira adequado. Atirar consiste basicamente em apertar um botão e torcer para que o disparo acerte o inimigo. A falta de um sistema de mira tradicional torna os combates imprevisíveis e aleatórios, prejudicando totalmente a sensação de controle.

Já falando da parte de ataque físico nos inimigos, eles se dão de maneira completamente insatisfatória. A distância entre você e o inimigo nunca é muito clara e a animação do ataque é mal feita, por muitas vezes passando entre as paredes e os próprios inimigos.

A situação é agravada pela inteligência artificial dos inimigos, que não apresentam qualquer comportamento estratégico. Eles surgem de forma genérica e são facilmente evitáveis, a ponto de a melhor tática muitas vezes ser simplesmente correr. O jogo também tenta implementar um sistema de esquiva, mas o movimento é desajeitado e pouco útil, mais um exemplo de mecânica colocada de forma superficial.

Chefes de fase, que poderiam ser momentos de destaque, acabam se tornando sessões de tentativa e erro, marcadas por animações rígidas e respostas imprecisas. É comum gastar todos suas balas tentando atingir um inimigo e acertar apenas uma ou duas vezes, tamanha a inconsistência do sistema de combate. Em um dos confrontos mais marcantes do início do jogo, por exemplo, mesmo disparando dezenas de balas, os acertos pareciam acontecer de forma completamente aleatória.

Essa parte do jogo não só falha em proporcionar desafio e imersão, como quebra completamente o ritmo e prejudica a experiência como um todo. Se os desenvolvedores tivessem optado por um sistema mais simples, ou até mesmo evitado combates diretos, Post Trauma poderia ter mantido um padrão mais coeso com o restante de suas qualidades. Infelizmente, o combate acaba se tornando o maior ponto fraco de Post Trauma — um verdadeiro calcanhar de Aquiles em uma obra que, com mais polimento, poderia ser muito mais memorável.

Conclusão: um potencial imenso, mas ofuscado por falhas gritantes

Finalizar a análise de Post Trauma é um desafio tão grande quanto o próprio jogo. A experiência entregue é marcada por uma dualidade intensa — momentos de genialidade que fazem o jogador vibrar, seguidos por trechos frustrantes que quase colocam tudo a perder. É um jogo que acerta em cheio quando se apoia em puzzles bem elaborados e em uma ambientação opressiva e intrigante, mas tropeça feio quando exige do jogador interações mais complexas, principalmente em combate.

Se você é o tipo de jogador que valoriza desafios mentais, que gosta de anotar pistas, resolver enigmas e mergulhar em atmosferas densas e misteriosas, Post Trauma certamente tem muito a oferecer. Seus puzzles são, sem dúvida, o ponto alto da jornada — criativos, desafiadores e recompensadores.

Por outro lado, se a sua expectativa é encontrar uma experiência equilibrada, com mecânicas sólidas de combate, boa otimização e polimento técnico, o jogo deixa a desejar. Os confrontos são sofríveis, mal implementados, e a movimentação dos personagens compromete a imersão. É uma pena, pois o potencial para algo grandioso está ali, gritando por atenção.

No fim das contas, Post Trauma é uma obra que poderia figurar entre os grandes do gênero Survival Horror, mas que acaba tropeçando em elementos básicos de execução. Resta a esperança de que, com atualizações futuras, a desenvolvedora consiga transformar esse potencial em algo verdadeiramente memorável.

Essa análise/review de Post Trauma segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

Uma oportunidade desperdiçada

Visual, ambientação e gráficos - 7
combate - 3
história - 6.5
Performance e polimento - 5
Puzzles - 8.5

6

Mediano

Se você é o tipo de jogador que valoriza desafios mentais, que gosta de anotar pistas, resolver enigmas e mergulhar em atmosferas densas e misteriosas, Post Trauma certamente tem muito a oferecer. Por outro lado, se a sua expectativa é encontrar uma experiência equilibrada, com mecânicas sólidas de combate, boa otimização e polimento técnico, o jogo deixa a desejar.

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Leonardo Coimbra

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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