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Preview: La Quimera

La Quimera precisa de tempo para os desenvolvedores, equipe criativa e coleta de feedbacks

La Quimera chegou ao mercado com o peso das expectativas criadas por um estúdio formado por ex-desenvolvedores de Metro Exodus e uma proposta que misturava ficção científica, crítica social e jogabilidade cooperativa em um ambiente distópico. O resultado, no entanto, é um jogo que mais parece um protótipo mal colado do que uma obra finalizada. Neste preview (análise antecipada), vamos destrinchar cada um dos principais aspectos de La Quimera, a partir da experiência proporcionada por sua campanha. Lembrando que jogamos a versão de early access, então nada impede de tudo mudar quando o jogo sair em definitivo.

Enredo e História: ela não vai te prender

La Quimera tenta se apresentar como uma experiência narrativa densa, ambientada em uma distopia latino-americana no ano de 2064. O jogador assume o papel de um recruta sem nome, parte de uma companhia militar privada, realizando missões em meio ao caos de Nuevo Caracas. A premissa, apesar de promissora, não se sustenta. As tentativas de construir um enredo político-social se perdem em clichês e estereótipos, com uma história que beira o absurdo em vários momentos.

Talvez o maior problema da história é como ela é apresentada. Os primeiros 10-20 minutinhos de cada jogo que tem foco em história, geralmente, são determinantes para você ser fisgado e ficar completamente envolvido no que estar por vir ou para que o botão de pular cutscene seja acionado a todo instante.

A história é rasa e desconexa em vários momentos. Elementos são apresentados sem desenvolvimento adequado, sugerindo continuações que, pelo que este primeiro título entrega, dificilmente acontecerão. A sensação é de um roteiro feito por colagem de ideias genéricas extraídas de franquias como Crysis e Killzone. Nada contra a inspiração nestes títulos, muito pelo contrário. Mas só usar inspirações sem colocar sua alma não tende a dar certo.

As falas soam artificiais, e as dublagens, desconectadas emocionalmente. Muito do desinteresse em fazer parte da história vem das dublagens. Até achei que estava contaminado por ter jogado, nos últimos meses, Death Stranding e Red Dead Redemption 2. Mas isolando La Quimera, faltou bastante capricho para os dubladores. O resultado é um storytelling que parece improvisado, mais próximo de um rascunho do que de um roteiro finalizado.

Aproveitando o gancho, o jogo possui dublagens apenas em inglês e ucraniano e legendas em inglês. Ou seja, nada de localização para português / português do Brasil.

Ambientação: falta a riqueza da américa latina distópica

O mundo de La Quimera é uma colagem de ideias visuais promissoras que poderiam ser melhor executadas. A cidade de Nuevo Caracas e suas regiões selvagens ao redor são descritas como exuberantes, mas, na prática, são apenas corredores lineares repletos de paredes invisíveis. A ambientação tenta evocar uma atmosfera tensa, mas fracassa por falta de profundidade interativa e coesão visual.

Alguns momentos isolados de storytelling ambiental funcionam e reforçam a ideia de que parece inacabado, falta carinho. No entanto, esses lampejos de criatividade se perdem diante de cenários genéricos e reciclados. A promessa de um retrato vibrante da América Latina futurista é substituída por corredores cinzentos e estruturas impessoais. Em vários momentos me senti em outros jogos do passado.

Apesar do potencial de sua ambientação futurista, La Quimera nunca mergulha completamente em sua proposta de mundo distópico. Elementos culturais são apenas superficiais, e a arquitetura dos ambientes carece de identidade local. A ausência de vida nos cenários, aliada à repetição de espaços, reforça a sensação de que este mundo não passa de uma casca vazia.

Gráficos e Direção de Arte: mais um jogo bonito da Unreal 5

La Quimera utiliza a Unreal Engine 5, com gráficos e efeitos especiais bonitos. Mas não vai muito além disso. O jogo, que poderia ser um show de estilo futurista, acaba parecendo um demo técnico com assets genéricos. Aliás, durante a primeira meia hora você sente que esta jogando uma demo de um jogo que promete.

Mesmo quando tenta impressionar, La Quimera tropeça. Efeitos de luz e partículas estão presentes, mas se misturam com animações, de cutscene ou gameplay, bem pobres. Os personagens são mal modelados e carentes de expressividade, enquanto os cenários são inóspitos. Me fez lembrar um dos personagens sem expressão de Anthem quando fiz o review.

Desempenho e Otimização: Um Campo Minado de Bugs

A performance de La Quimera foi melhor do que eu imaginava. Antes de receber a chave do jogo para preview, já tinha dado uma olhada nas análises da Steam e elas me deixaram preocupado. Aqui eu joguei numa RTX 3080 Ti, com 16GB de RAM e um 13-600K. Não tive nada muito grave em relação a desempenho. Em 1080p tive constantes 100-120 quadros com tudo absolutamente no máximo.

Os maiores bugs que enfrentei foram ao começar e terminar loadings, quando tudo travava por alguns segundos. Fora isso, no jogo, não tive problemas. Inclusive o desempenho ter sido mais estável na minha máquina fez com que eu desfrutasse de alguns momentos com o jogo.

Os stutters que acontecem, acontecem com todos os jogos feitos na UE5. Se fosse para apontar como problema, apontaria o dedo para a engine, que em pleno 2025, faz todos os jogos sofrerem com isso.

A obrigação de estar sempre online, mesmo no modo solo, é um ponto que sempre vou reclamar. Não faz sentido.

Gameplay: se procura um joguinho pra dar tiro, vai se divertir um pouco

A jogabilidade se resume a tiroteios contra robôs e busca incessante por munição. O combate é simples, armas com mais dano para robôs, outras para inimigos humanos. O uso de exoesqueletos traz habilidades como camuflagem, drones e escaneamento.

Há momentos promissores e desafiadores. Sabe quando você quer um joguinho de tiro só para jogar sem pensar muito? Ele cumpre esse propósito.

A estrutura repetitiva de missões torna o progresso entediante: matar, abrir porta pesada, repetir. A economia de munição traz uma camada de desafio, o que não vem sendo muito comum em shooters com campanha.

A falta de variedade também pesa um pouco. Não temos uma variedade grande de armas, pouca liberdade de explorar o mapa, pouca liberdade de abordagem em missões. A ausência de stealth efetivo, mesmo com camuflagem, e a previsibilidade dos inimigos só contribuem para a sensação de que estamos jogando algo engessado, que não quer te dar muitas opções para não sair do controle.

Conclusão: fica a sensação de que podia (pode) bem, bem mais

La Quimera tenta ser um FPS com inspirações nobres, mas é soterrado por uma narrativa fraca, falta de imersão e gameplay sem brilho. É um jogo que parece inacabado, entregue às pressas, e sustentado apenas pela esperança de atualizações futuras.

Para quem busca uma experiência narrativa de qualidade ou um FPS refinado, La Quimera é, infelizmente, um desejo de sucessores espirituais de Crysis e outros títulos.

O mercado é muito cruel atualmente com jogos mais genéricos. 2025 já acumula Doom Dark Ages, Expedition 33, Kingdom Come Deliverance 2, Pirate Yakuza in Hawaii e Monster Hunter Wilds. Jogos com gameplay e história fantásticos. Gameplay e história que se unem, que não seriam nada separados.

La Quimera está com preço de early access de 30 dólares, menos da metade do preço padrão atual (que parece estar mais próximo de 70 do que 60 dólares). Aqui no Brasil, ele aparece na Steam por R$101,99. Considero o preço justo, ainda mais com a esperança de atualizações que melhorem diversos aspectos do jogo.

Como já repeti no preview, se quiser um joguinho de tiro para passar o tempo sem pensar muito, ele pode suprir essa necessidade. Mas se só tiver 100 reais para comprar um jogo, para desfrutar de uma boa experiência, La Quimera não será o seu jogo.

Pedro Nogueira

Formado em Administração e em GunZ: The Duel. Rei dos FPS e o Toretto dos jogos de corrida no site. O nerd/entusiasta do PC Master Race. Saudades de quando jogos focavam em ser bons jogos.

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