Moroi é um jogo hack’n’slash que se destaca por sua proposta única. Desenvolvido para PC, o título mistura elementos intensos de ação com uma atmosfera de survival horror, trazendo ainda uma forte inspiração no folclore romeno — um tema pouco explorado e relativamente desconhecido por aqui.
Mais do que simplesmente enfrentar inimigos, o jogador é constantemente desafiado a resolver puzzles enquanto sobrevive em um ambiente sombrio e opressivo. Essa combinação resulta em uma experiência diferente de tudo que se costuma ver no gênero.
Uma história macabra
Em Moroi, o jogador assume o controle de um protagonista sem nome, perdido em terras distorcidas e marcadas pela decadência. Sem memórias claras do que aconteceu, a jornada é movida pela necessidade de entender onde está, o que aconteceu e, principalmente, por que parece estar preso em um ciclo repetitivo de morte e renascimento. Logo nas primeiras pistas, o jogo indica que essa não é a primeira passagem do personagem por aquele lugar, sugerindo um ciclo de reencarnação que reforça a sensação constante de inquietação.
Essa narrativa se conecta diretamente ao folclore romeno, que inspira tanto o nome quanto o conceito do jogo. No imaginário popular da Romênia, moroi são criaturas associadas a vampiros e espíritos inquietos, descritos como mortos-vivos que retornam para assombrar os vivos. Em algumas tradições, eles são considerados vampiros nascidos de outros vampiros ou almas de crianças não batizadas, presas entre o mundo dos vivos e dos mortos. Essa associação reforça o clima sombrio do jogo, onde a decadência, a loucura e a luta pela sobrevivência moldam toda a experiência.
Embora Moroi não apresente uma história elaborada nos moldes de grandes clássicos do survival horror, como Silent Hill ou Resident Evil — com personagens marcantes e diálogos memoráveis —, ele entrega uma trama coesa dentro de sua proposta. A busca do protagonista é essencialmente sobre conhecimento, justiça e libertação, enfrentando uma espécie de máquina ou sistema invisível que tenta impedir a todo custo sua fuga desse ciclo vicioso. A narrativa, ainda que simples, é bem integrada ao tema sombrio e folclórico que permeia toda a ambientação.
Ambientação sinistra e cheia de sangue
Moroi apresenta uma ambientação extremamente sombria, pesada e visualmente intensa. O cenário é carregado de elementos gore, com cenas explícitas de violência, tortura, mutilações e corpos usados como instrumentos de guerra. É um jogo que não suaviza seu conteúdo em momento algum, e por isso vale destacar: Moroi não é recomendado para pessoas sensíveis a esse tipo de conteúdo nem para menores de idade.
Esse clima opressor reforça de maneira eficiente a temática central, baseada no folclore romeno do moroi — seres que transitam entre a vida e a morte, buscando a libertação espiritual em meio a uma existência torturada. Toda a atmosfera criada pelo jogo dialoga diretamente com esses conceitos, apresentando um mundo que é, ao mesmo tempo, brutal e intrigante.
Visualmente, Moroi é impressionante dentro de sua proposta. Com gráficos de alta qualidade, o jogo se destaca na forma como utiliza iluminação para construir o clima de tensão constante. As áreas escuras, iluminadas apenas por pontos de luz estratégicos, acentuam o sentimento de vulnerabilidade e opressão. Durante a experiência, jogando com uma RTX 4070 Super e um Ryzen 5800X, foi possível alcançar uma média entre 70 e 80 quadros por segundo com as configurações gráficas no máximo.
Um dos aspectos mais interessantes da ambientação é a fusão de temas. Apesar do forte elemento de horror corporal e da presença dos mortos-vivos, o universo de Moroi também introduz uma camada de ficção científica, com máquinas e inteligências artificiais que controlam o espaço e o tempo, impedindo o protagonista de escapar. Essa combinação de orgânico e mecânico cria uma sensação de mundo distorcido e único, onde a luta é tanto física quanto existencial.
Complementando toda essa atmosfera, a trilha sonora é dividida em dois momentos distintos. Durante os combates, a música adota um estilo de rock pesado e acelerado, aumentando a tensão das batalhas. Já nas partes de exploração, o jogo aposta em faixas mais melancólicas e introspectivas, que casam perfeitamente com o sentimento de solidão, confusão e busca por identidade.
Moroi e seus puzzles
O gameplay de Moroi se divide em duas frentes principais: a exploração com elementos de quebra-cabeça e o combate hack and slash.
Começando pelos quebra-cabeças, o jogo apresenta uma estrutura que remete claramente aos clássicos do survival horror, como Silent Hill e Resident Evil. Durante a jornada, o jogador encontra personagens inusitados que oferecem pistas, além de documentos e inscrições espalhadas pelo cenário que ajudam a desvendar os enigmas. Os puzzles são, em sua maioria, criativos e bem inseridos no contexto do jogo, nunca soando forçados ou absurdos dentro do mundo apresentado.
Ainda assim, há momentos em que a falta de dicas mais claras pode gerar alguma frustração. Alguns quebra-cabeças acabam exigindo tentativa e erro, especialmente pela ausência de um direcionamento mais objetivo sobre o que deve ser feito. Em certas situações, a resolução dos desafios acontece mais pela persistência do jogador do que pela lógica propriamente dita.
Apesar dessas pequenas falhas, resolver os puzzles traz uma sensação de recompensa significativa. Em muitos casos, eles liberam itens importantes para o progresso ou melhorias para o protagonista, incentivando a exploração minuciosa do mundo de Moroi. Mesmo que os quebra-cabeças não sejam o grande destaque do jogo, eles são bem implementados e cumprem um papel fundamental em construir a atmosfera de mistério e descoberta.
Hack and Slash: um combate que precisava de mais polimento
A parte de hack and slash de Moroi infelizmente é um dos pontos mais fracos da experiência. O combate básico é dividido entre um ataque físico corpo a corpo, que serve como arma primária, e uma arma de longo alcance como secundária. Além disso, o jogador pode equipar itens ativos encontrados ao longo da jornada, que concedem bônus temporários ou habilidades adicionais.
O grande problema é que o combate em si carece de refinamento. Os golpes não têm o impacto esperado, os movimentos são simples e o feedback visual não passa a sensação de peso e fluidez que um bom hack and slash exige. É perceptível que faltou tempo e investimento na lapidação dessa mecânica, o que compromete uma parte importante da experiência.
Ainda assim, o jogo traz ideias interessantes dentro do combate, especialmente em batalhas específicas, como as lutas contra os três magos. Nesses confrontos, há uma camada extra de estratégia, funcionando quase como puzzles embutidos no combate — o jogador precisa mais do que apenas atacar para vencer, o que acrescenta variedade em momentos pontuais.
Apesar dessas boas intenções, a execução geral não empolga. A câmera, um pouco mais próxima do personagem do que deveria, dificulta a leitura do ambiente e torna as batalhas confusas. A inteligência artificial dos inimigos também é limitada, fazendo com que muitos combates se tornem apenas uma repetição de ataques básicos e esquivas.
Para um título que se propõe a ser, em grande parte, um hack and slash, Moroi deixa a desejar nesse quesito. O combate é funcional, mas carece de profundidade e do carisma que é esperado de jogos do gênero.
Polimento e otimização deixam a desejar
Apesar da ambientação imersiva e da proposta interessante, Moroi peca em aspectos técnicos que comprometem a experiência do jogador. O combate, já citado anteriormente como um ponto fraco, ainda poderia ser tolerado, mas problemas mais graves aparecem e exigem atenção.
Um dos principais pontos de crítica está na movimentação do personagem, que em vários momentos parece estranha, travada ou desajeitada, o que prejudica tanto a exploração quanto as batalhas. Além disso, Moroi apresenta problemas técnicos sérios: durante a jogatina, houve momentos em que o personagem ficou completamente preso no cenário, sem possibilidade de se mover livremente, forçando o jogador a morrer para poder reiniciar a partida.
Outro problema crítico é o sistema de salvamento. O jogo não deixa claro quando o progresso é salvo, o que causa confusão e frustração. Em alguns momentos é possível perceber o save automático acontecendo, mas em outros ele é totalmente imperceptível. A ausência de um sistema manual de salvamento agrava ainda mais o problema, já que ser obrigado a refazer trechos consideráveis devido a bugs compromete a experiência.
Situações como ficar preso em batalhas importantes — como a luta contra grupos de magos — ou perder a capacidade de atacar em uma batalha contra chefe exemplificam como esses erros de polimento impactam negativamente. Além disso, algumas lutas são excessivamente confusas, tanto pela movimentação quanto pelo excesso de efeitos visuais, dificultando entender o que está acontecendo em tela.
De forma geral, Moroi carece de um polimento mais cuidadoso. Esses problemas técnicos e falta de refinamento acabam tirando o brilho de um jogo que tinha potencial para ser algo ainda maior dentro do gênero.
Conclusão
Moroi é um jogo que impressiona pela ambientação sombria e pela criatividade na construção de seus quebra-cabeças. Seu mundo é interessante, misterioso e convida à exploração, criando momentos que realmente capturam a atenção do jogador. No entanto, o título peca onde mais precisava brilhar: no polimento geral e no sistema de combate.
A falta de refinamento técnico, aliada a bugs sérios e uma jogabilidade de ação pouco satisfatória, acaba prejudicando a experiência como um todo. Mesmo com boas ideias e momentos inspirados, Moroi deixa a sensação de ser um projeto que precisava de mais tempo e ajustes para atingir seu verdadeiro potencial.
No final das contas, é um título recomendado apenas para quem valoriza ambientação e puzzles acima de uma jogabilidade fluida e refinada, sabendo que encontrará pelo caminho alguns tropeços difíceis de ignorar.
Essa análise/review de Moroi segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.
O que acerta no tema, peca no polimento
Visual, ambientação e gráficos - 8
Jogabilidade - 5.5
Diversão - 6.5
Áudio e trilha-sonora - 7.5
6.9
Mediano
No final das contas, Moroi é recomendado apenas para quem valoriza ambientação e puzzles acima de uma jogabilidade fluida e refinada, sabendo que encontrará pelo caminho alguns tropeços difíceis de ignorar.