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Análise: The Midnight Walk

Uma jornada sombria e sensível, feita de argila e caixa de papelão

The Midnight Walk é um jogo de terror que se destaca à primeira vista por sua estética incomum. Toda a ambientação do jogo é construída com materiais como argila e papelão, trazendo uma identidade visual única reforçada pela técnica de animação em stop motion. Esse visual artesanal não apenas chama atenção como também contribui diretamente para o clima sombrio da experiência.

Mas não é só a aparência que marca presença: a narrativa de The Midnight Walk reserva momentos impactantes, prometendo uma jornada que vai além do convencional no gênero.

Então confira em nossa análise se The Midnight Walk vale seu tempo e se é necessário usar um aparelho de VR para jogá-lo.

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Um conto sombrio, sensível e inesperadamente tocante

The Midnight Walk tem na sua narrativa um dos maiores trunfos. O jogador assume o papel de The Burnt One (o Queimado), figura que desperta em um mundo mergulhado na escuridão, povoado por habitantes apáticos, dominados por um sentimento constante de tristeza e desolação. Nesse cenário opressivo, a escuridão não é apenas visual: ela se manifesta como uma força que roubou a luz e o fogo de todos, deixando apenas ruínas emocionais e físicas pelo caminho.

É nesse contexto que surge Pot Boy, um pequeno ser contido em um pote, a última chama restante daquele mundo esquecido. A partir do momento em que o jogador desperta essa entidade, se estabelece uma amizade para o desenrolar da história. Pot Boy carrega o fogo e, portanto, a luz. Sua presença não é apenas simbólica, mas fundamental para a progressão: todas as interações com o mundo passam por ele, reforçando a dualidade entre sombra e luz que permeia toda a obra.

O jogo é dividido em capítulos, e cada um deles explora um fragmento desse universo sombrio. Vilarejos, personagens e até vilões temporários ganham espaço para desenvolver histórias curtas, porém extremamente impactantes. Ainda que o início do jogo não seja especialmente marcante, a narrativa cresce de forma contínua, ganhando intensidade e profundidade à medida que o jogador avança. O ritmo é bem construído e faz com que a curiosidade pelo próximo capítulo se torne constante. É fácil querer jogar “só mais um pouco” para descobrir o que está por vir.

Sem entregar spoilers, vale mencionar que as histórias individuais são carregadas de simbolismo e emoção. A desesperança das pessoas frente à ausência de luz, as metáforas visuais sobre a perda e a decadência, e até momentos de surrealismo, como uma cidade em que os habitantes literalmente perdem a cabeça, marcam uma narrativa que surpreende pela sensibilidade. Embora The Midnight Walk seja apresentado como um jogo de terror, seu enredo vai além do susto fácil, apostando em uma construção emocional densa e memorável.

Ambientação e trilha sonora praticamente impecáveis

O impacto emocional da história de The Midnight Walk não seria o mesmo sem o suporte técnico que sustenta cada momento. A ambientação visual e a trilha sonora cumprem um papel central em transformar a narrativa em algo mais profundo e inesquecível.

Visualmente, o jogo se destaca por seu estilo autoral. Toda a arte foi feita à mão, utilizando argila e caixas de papelão, e animada com a técnica de stop motion. O resultado é uma estética única que remete a obras como Harold Halibut, com quem The Midnight Walk compartilha não apenas semelhanças visuais, mas também uma sensibilidade narrativa. Cada cenário, personagem e estrutura foi montado fisicamente antes de ser digitalizado, e isso dá ao jogo uma textura real, tangível, quase artesanal, que potencializa o envolvimento do jogador.

A caminhada feita por The Burnt One e Pot Boy atravessa ambientes diversos como cidades em ruínas, vilarejos abandonados, florestas, cavernas e mais, onde todos possuem identidade própria. Cada novo local traz consigo uma carga dramática diferente, reforçando o contraste constante entre luz e escuridão. O cuidado com os detalhes e o uso inteligente das sombras fazem da exploração algo visualmente envolvente e impactante.

Já no aspecto sonoro, The Midnight Walk também impressiona. O jogo apresenta dublagens de alta qualidade para os personagens que cruzam o caminho do jogador. Como muitos desses personagens carregam traumas e particularidades, a direção de voz consegue refletir bem essas nuances, atribuindo identidade a cada um dos povos, vilas e histórias. Há ainda um narrador que acompanha momentos específicos, oferecendo contexto e ampliando o impacto emocional da trama, como se estivesse lendo as aventuras da dupla de heróis.

Complementando a ambientação, a trilha sonora orquestrada atua com sensibilidade nos momentos-chave. A música não tenta se sobrepor à experiência, mas acompanha os acontecimentos com delicadeza e precisão. As composições traduzem emoções, marcam viradas e reforçam o peso de determinadas situações, criando uma sinergia eficaz com o que está sendo apresentado na tela.

Entre visuais únicos e um trabalho de som refinado, The Midnight Walk entrega uma ambientação que se aproxima do que se espera de uma verdadeira obra de arte interativa.

Gameplay simples, mas que evolui

The Midnight Walk pode ser jogado integralmente sem o uso de um capacete de realidade virtual, mas é evidente que sua concepção original foi pensada para esse tipo de experiência. Isso se reflete em diversas mecânicas, momentos de tensão e jumpscares que, sem o VR, perdem parte de seu impacto. Ainda assim, mesmo fora da realidade virtual, o jogo entrega uma experiência funcional e envolvente, com uma proposta mecânica simples, mas bem integrada à jornada.

No controle do The Burnt One, o jogador guia Pot Boy por cenários escuros em busca de devolver a chama e a luz a um mundo fragmentado. A principal mecânica gira em torno do uso do fogo, seja através do próprio Pot Boy acendendo velas e mecanismos, seja utilizando fósforos gigantes para iluminar passagens e resolver puzzles. A relação entre luz e escuridão é constante e essencial: inimigos são atraídos pela luz, podendo ser distraídos ou evitados com estratégias simples de furtividade, como se esconder em armários ou se manter em zonas seguras.

Os quebra-cabeças não apresentam grande complexidade, especialmente nas primeiras horas, mas o jogo vai ganhando ritmo e refinando suas ideias conforme avança. Há também momentos em que o jogador adquire uma espécie de arma para disparar fósforos à distância, ativando elementos remotos ou criando situações cooperativas entre o protagonista e seu pequeno companheiro.

Um destaque extra e criativo está na forma como a ambientação sonora se integra ao gameplay. Espalhados pelo mundo, há gramofones antigos (uma espécie de concha metálica) que narram histórias de personagens, cidades e eventos passados. Esses trechos de lore, além de aprofundarem o universo do jogo com sensibilidade e melancolia, muitas vezes servem também como pistas práticas para resolver enigmas ou entender melhor como interagir com o ambiente. É um recurso que reforça a imersão e transforma a ambientação em uma ferramenta de jogabilidade, conectando narrativa e mecânica de maneira inteligente.

Por fim, uma das ideias mais interessantes do gameplay é a mecânica de “fechar os olhos”, que escurece totalmente a tela e simula uma imersão mais intensa — especialmente pensada para o VR. Essa ação permite ao jogador perceber sons com mais nitidez ou revelar passagens ocultas, adicionando uma camada sensorial única à experiência.

No geral, o gameplay não é o ponto de maior brilho em The Midnight Walk, mas ele cumpre bem seu papel. Simples, porém eficiente, ele serve como um condutor sólido para a verdadeira estrela do jogo: sua atmosfera, história e sensibilidade artística.

Conclusão: The Midnight Walk é fabuloso

The Midnight Walk é uma obra profundamente emocional e artisticamente única. Sua ambientação sombria e delicada, aliada a uma direção de arte impressionante, se destaca não apenas pelo estilo em stop motion, mas pelo cuidado com que tudo foi construído: cenários inteiramente moldados em argila e caixas de papelão, resultando em uma estética singular, artesanal e incrivelmente imersiva. Temos um verdadeiro espetáculo visual que foge do convencional e se posiciona muito acima da média.

A trilha sonora orquestrada e a dublagem impecável completam essa atmosfera com maestria, entregando momentos de arrepiar. Cada voz, cada som, cada acorde contribui para aprofundar a experiência emocional, tornando a caminhada dos protagonistas ainda mais significativa.

Quanto ao gameplay, ele cumpre seu papel de forma eficiente. Não chega a ser o ponto alto da experiência, mas funciona bem dentro da proposta. É importante reforçar que o jogo foi pensado para a realidade virtual, e isso fica evidente em diversas mecânicas e situações. Jogá-lo sem VR ainda é uma jornada válida e envolvente, mas certamente com menos impacto em comparação à proposta original.

No fim, The Midnight Walk é uma experiência tocante, visualmente brilhante e sonoramente envolvente. Um daqueles jogos que provam que videogames também são arte, mesmo que o gameplay sirva mais como um veículo para nos conduzir por essa verdadeira galeria de emoções, sentimentos e criatividade.

Essa análise/review de The Midnight Walk segue nossas diretrizes internas. Acesse e confira nossas diretrizes e nosso processo de avaliação.

Uma experiência emocionalmente marcante

Visual, ambientação e gráficos - 10
Jogabilidade - 7.5
Diversão - 9
Áudio e trilha-sonora - 10

9.1

Fantástico

The Midnight Walk é uma experiência visual e sonora única, que se destaca pela sua direção artística em stop motion, trilha envolvente e narrativa carregada de simbolismo. Embora o gameplay seja simples e claramente mais impactante em realidade virtual, ele cumpre seu papel ao sustentar uma jornada profundamente atmosférica e sensível.

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Leonardo Coimbra

Mestre supremo do Ultima Ficha, não manda nem em seus próprios posts. Embora digam que é geração PS2, é gamer desde o Atari e até hoje chora pedindo um Sonic clássico e decente. Descobriu em FF7 sua paixão por RPG que dura até hoje. Eventualmente é administrador e marketeiro quando o chefe puxa sua orelha com os prazos.

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